ReiFi 02/09/2014
Resenha de Também o Cisne Morre
Por José Reinaldo do Nascimento Filho
Huxley, autor de Admirável Mundo Novo e Contraponto, entre outros livros não tão conhecidos, grande erudito, pensador, filósofo, homem sempre presente na mídia, de opiniões concisas e duras a respeito do American way of life, conseguiu com este romance três feitos memoráveis: a) ter uma ótima ideia e estragá-la, b) conduzir um romance que não anda para lugar nenhum, mas que parece estar em constante movimento e, por último, c) construir um bom começo (10%), um desenrolar tedioso (80%), e um excelente final (10%).
O romance nos apresenta a história do magnata Jo Stoyte – que teve como inspiração a impressionante figura de William Randolph Hearst, também utilizado, vamos dizer assim, por Orson Wells no seu Cidadão Kane – e toda a sua incansável buscar por aquilo que, até então, o dinheiro ainda não poderia comprar: a imortalidade. Para tal, ele contrata os serviços de Jeremy Pordage, pesquisador/historiador inglês e financia as pesquisas de Sigmund Obispo sobre a longevidade. Essas duas figuras passam a conviver na mansão absurdamente luxuosa do “Jo”, juntamente com a “amante” deste, a bela Virgínia Maunciple (objeto de desejo do ajudante Pete). Para fechar o grupo, temos – nas palavras de Thomas Merton – “um dos mais tediosos personagens da literatura inglesa”, William Propter, ex-colega de colegial do Mr. Stoyte.
Como coloquei acima, o começo é muito bom. Aqui nos é apresentada a personagem de Pordage chegando em Los Angeles, percorrendo a cidade, vislumbrando-se com o luxo, a riqueza, a ostentação, tendo as primeiras impressões sobre seus moradores, uma ou outra tirada mais sarcástica, nos são apresentadas também algumas de suas características, como fazer piadas eruditas que só ele entende (o que me fez lembrar o vídeo de Leonardo sobre Ulisses, vide aqui), e, finalmente, o próprio Mr. Stoyte e todo o seu jeito rude e indiscreto. Para se ter uma idéia, a primeira pergunta que ele faz para o seu novo chegado é: “Como vai a sua vida sexual?”. Assim, do nada.
Estamos na mansão. Conhecemos um a um as personagens e por que elas estão ali e o que farão. Pordage irá pesquisar nalguns documentos antigos algo relacionado à imortalidade; Obispo, continuar suas pesquisas sobre as carpas e sua incrível capacidade de se prolongar a vida; Pepe, será o continuo; Virgínia, a safadinha; e, por último, temos o William que, assim como os demais, cada um na sua área, e sem muitos motivos aparente, sem, praticamente, ninguém perguntar ou querer saber, irá preencher parte considerável do texto com sua filosofia datada, discurso raso, enfadonho, risível e inútil. Uma representação perfeita do que seria o tal do pseudointelectual. Utilizando as palavras dos críticos ingleses da época: palavroso e inconvincente.
Uma excelente ideia, um excelente final (porque o final é sim memorável, lembrando-nos do ainda não lido por mim A ilha do Dr. Monroe), uma ótima oportunidade de realizar outra memorável ficção científica mas que se perdeu, terrivelmente, num emaranhado de silogismos pautados num nada filosófico.
2 de 5 estrelas