Kenia 04/01/2024"Havia sempre lágrimas de alegria; um homem tão lindamente unido com uma máquina era algo que as pessoas precisavam ver depois de uma guerra como a qual haviam passado. A tecnologia naquela época era armas e sinais de rádio; as pessoas precisavam lembrar-se da arte da máquina."
O Circo Mecânico Tresalti se passa em um cenário pós-guerra. Os detalhes são meio vagos: sabemos que houve bombas e radiação, seguidas de pequenas guerras pelo controle e a criação de cidades-estado. Fora delas, as fronteiras se tornaram perigosas e a vida brutal.
Para evitar problemas, o Circo Tresaulti percorre um amplo circuito; as cidades que visitam podem não existir quando retornam. Aqueles que se juntam ao circo estão procurando uma forma de segurança ou um trabalho que não envolva ter que matar. A maioria deles já foi um soldado.
Neste mundo, as pessoas não vivem muito. Portanto, para alguns, a ideia de fazer com que Boss (a poderosa mulher que comanda o circo) substitua as partes de seus corpos por dispositivos de metal parece uma opção atraente, mesmo que isso signifique se tornar algo não mais totalmente humano.
"Ninguém quer ver você fracassar. Qualquer um pode fracassar. Eles pagam dinheiro para nos ver fazer coisas que eles não conseguem.” (…) “Os aldeões não querem a realidade. Entreguem a ilusão e eles aplaudirão."
A trama gira em torno de dois conflitos, e ela demora um pouco para acontecer, pois há uma introdução das máquinas, dos personagens e das apresentações. O primeiro é entre Boss e o homem do governo, que quer usar a "magia dela" e o circo para seus próprios fins nefastos - uma intenção à qual ela parece determinada a resistir a qualquer custo, até mesmo à morte.
O outro conflito envolve uma guerra interna entre dois dos artistas, Stenos e Bird. Forçados por Boss a se apresentarem juntos, eles são rivais pela posse das asas de metal que Boss recuperou após a morte de Alec. Aquele que conseguir convencê-la a instalar cirurgicamente as asas em seu corpo será transformado em uma criatura metade humana, metade pássaro. O fato de as asas também poderem levar o proprietário à loucura é um risco que ambos parecem ansiosos a correr.
Essa é uma história de um circo, contada, em sua maior parte, do ponto de vista do pequeno George. Ele é um garotinho que presta atenção em tudo e narra a história de forma excelente. Suas palavras soltas, mas impactantes, dão vida aos personagens e a seus relacionamentos, às vezes insondáveis, uns com os outros. Aos poucos, e capítulo a capítulo, sabemos quem veio ao circo, por que se juntou a ele e - talvez o mais interessante no início - o que realmente aconteceu com Alec. O Homem Alado está morto desde antes do início da história, mas sua morte (e vida, aliás) continua sendo um mistério.
Aos que procuram um enredo bem amarrado, esse livro não é pra você. Com capítulos curtos, é mais uma obra poética e de humor do que um romance tradicional. A história é repleta de alusões a eventos que aconteceram no passado e dicas de eventos futuros. Aqueles que não se cansam de cenários pós-industriais e pós-apocalípticos e de criações no estilo steampunk provavelmente acharão O Circo Mecânico Tresalti uma leitura agradável.