Giselle.Zart 26/05/2013Por ser a primeira resenha sobre o livro, sinto vaidade e um certo medo de soar pretensiosa. Já havia feito uma resenha anteriormente, aonde reuni algumas anotações de quando li o livro, em 2008. Era um momento em que procurava por poetas marginais, tudo sobre a época da ditadura e da contracultura, assuntos em comum que me atraem. Lero-lero é a obra completa, que reúne o que Antônio Carlos Ferreira de Brito, o Cacaso viveu e eternizou em suas poesias. Cacaso era singelo e intenso. É o livro de um poeta do 'interior' que lembra da infância, seus devaneios e recordações como se fossem a memória recente. Cacaso é mineiro, tanto que ele escreveu uma poesia para Cecília Meireles:
"Quando na brisa dormias,
não teu leito, teu lugar,
eu indaguei-te, Cecília:
Que sabe o vento do mar?
Os anjos que enternecias
romperam liras ao mar..."
Ele tem frases simples, mas cheias de significados, onde faz jogos de palavras que significam todo um contexto:
EXCEÇÃO
Desconfio que todos os meus atos são pretextos.
PORVIR
A inquisição era
fogo.
Usava sua expressão livremente, sem que precisasse de métrica, quando podia fugir da censura. A poesia marginal não tinha características padronizadas, era um momento de libertação dos termos e expressões livres num momento de repressão política do fim dos anos 60. A poesia era levada para as ruas, bares, praças como uma alternativa de publicação.
Aqui plantei um violino
Refiz donzelas, dei de beber aos planetas.
Ó realidade,
Há séculos eu te procuro!
Nas regiões do dia e da noite
Sou uma lâmina que respira.
_
O táxi pára na esquina e meu
coração está calcinado.
A paisagem é impecável no seu
espetáculo simétrico e lento. O sol cochila.
Do outro lado da rua e de mim
o mar deságua em si mesmo.
_
A música me transporta do quintal da minha casa para os anéis de qualquer planeta perdido.
Este último poema mostra uma forma como eram vistos os estilos de poetas naquela época:
RACHADOS E PERDIDOS
O poeta concreto
discute com o poeta processo
qual deles é capaz de bater o poeta abstrato.
Enquanto isso o poeta abstrato
Tira meleca do nariz.