Jacqueline 11/11/2013
original e sombrio
"Nunca fui impulsiva. Sempre foi da minha natureza pensar cuidadosamente em tudo e, então, decidir qual seria a melhor solução, só que, às vezes, as circunstâncias mudam. Às vezes as coisas ficam tão ruins e complicadas que sua natureza não importa mais".
Quando soube do lançamento desse livro fiquei muito animada, pois já tive uma experiência de leitura anterior com a autora (O Substituto), e fiquei entre o gostar e não gostar. Acho que o motivo da minha decepção anterior era ter pensado que O Substituto seria um terror no melhor estilo Stephen King. Agora eu já fui com a mente aberta para o mundo sombrio de Brenna, e o resultado foi muito positivo.
Daphne é um demônio, filha de Lilith e Lúcifer. Desde que sua mãe foi expulsa do Éden, e obrigada a viver enclausurada em Pandemonium, tudo o que ela sabe sobre a terra e os humanos é apenas o que é mostrado nos programas de TV. Ela nunca sentiu vontade de visitar a terra, mas seu desejo muda quando seu meio irmão - Obie - filho de Adão, parte para sempre de Pandemonium, para viver na terra com a mulher que ama. Desolada por não ter mais o irmão por perto, e assustada com o que pode ter acontecido a ele, Daphne vai para Chicago, tentar encontrar o humano Truman, que aparentemente é a última pessoa que esteve com o seu irmão.
Primeiramente devo dizer que o mundo criado por Brenna é sempre tão original e surpreendente, que não tem como não gostar do livro, mesmo que o desenvolvimento não atinga suas expectativas.
Dessa vez temos uma inversão na classificação de bem e mal. Os demônios aqui são pessoas do bem (não tão bem assim), e os anjos são vistos como os vilões. É meio confuso, mas não quero entrar em muitos detalhes para não tirar a surpresa.
Os vilões estão muito bem caracterizados. Na verdade todos os personagens estão. Seres sombrios são definitivamente a praia da autora. Por mais que eu tenha achado estranho os demônios possuírem dentes cinzas, não conseguia imaginá-los de outra forma.
O fato é que o discurso e a forma como Yovanoff apresenta seus personagens me convenceu. É estranho escrever isso, mas lá vai: nunca na minha vida imaginei que iria torcer tanto por um demônio (só na literatura, claro).
Dá pra perceber logo no prólogo o quanto a escrita da autora amadureceu. Porque não basta criar um mundo original, é preciso torná-lo crível, e ela cumpriu perfeitamente essa tarefa. Pandemonium apesar de ter sido pouco explorada, foi totalmente palpável. Dava arrepios só de imaginar as passagens que Daphne mencionava, como o poço, para onde as almas condenadas eram enviadas.
Daphne é uma protagonista no mínimo muito estranha, mas que causa simpatia no leitor. Fica claro que ela é um súcubo, mas achei que essa parte sobrenatural poderia ter sido melhor explorada.
" - O amor existe mesmo?
- Amor - diz ele (...) Você perguntou sobre o amor. Não sei nada sobre o amor, Daphne. Só sei que não quero nada além de você. Não quero estar em nenhum lugar senão ao seu lado."
O que falar de Truman? Já deu pra perceber em minhas resenhas que eu tenho um estranho caso de amor por personagens irreparáveis e perdidos. O romance entre eles é muito cute. Não no sentido fofinho da palavra, mas no sentido que ambos pareciam ser predestinados (eu sei, parece clichê, mas não é. Eu juro).
Apenas algumas cenas senti uma vibe totalmente crazy, mas já tinha notado essa característica no livro anterior, então digamos que eu estava familiarizada com a mente totalmente imaginativa de Yovanoff.
Para quem está cansado de séries, Entre Mundos é a escolha perfeita. Equilibrando sobrenatural com romance, Brenna reserva muitas reviravoltas e um final surpreendentemente devastador.
site: www.mybooklit.com