Resenhas - Desejo

kirao0 01/03/2024

Mais baixos do que altos
Bom,eu li MUITO arrastado esse livro,me deu uma baita ressaca,o tema é algo bem interessante e que de fato é curioso,só achei a escrita dificil a autora nao usa paragrafos, ela escreve tudo direto e faz muita analogia.
Ela me lembrou o chuck por ser muito gráfica na hora de escrever,mas nem se compara
Gostei do tema só acho que ficou muito confuso ,bom,pelo menos pra mim,me senti cansada lendo

Maria 04/10/2019

O oposto do desejo
Laureada com o Nobel em 2004, "por seu fluxo musical de vozes e contra-vozes em novelas e peças que, com extraordinário zelo linguístico, revela o absurdo dos clichés da sociedade e seu poder de subjugo", Jelinek é aclamada como uma das maiores autoras vivas da Língua Alemã. Em "Desejo" que, apesar do título, foi considerado pela crítica como "antipornográfico", temos uma mulher sem voz, cujos desejos são ignorados, cuja existência miserável - a despeito de toda prosperidade material que a cerca- reduzia-se a cumprir o papel de “escrava sexual” do seu Senhor que, no caso, era o marido, diretor de uma fábrica.

“Agora a mulher não tem tempo nem de baixar os olhos. O diretor aprova quando ela quer ir para a cozinha e executar algo. Agarra-a, decidido, pelo braço. Primeiro, ele quer tomá-la para si, para isso cancelou compromissos. A mulher abre a boca, para lhe cancelar a investida.Pensa na força do marido e torna a fechar a boca. Esse homem até no colo de penhascos tocaria a sua melodia, ele acariciaria retumbante o violino e seu órgão genital.A toda hora começa esse Lied, essa obra musical, esse som em explosão, tão surpreendentemente terrível, com o acompanhamento de tantos olhares. Essa mulher não tem pulso para se debater e recusar, ela caminha indefesa. O homem está sempre pronto e anima-se de antemão consigo mesmo."


Em quase todas as cenas de sexo, que são muitas, a sensação é de ser a testemunha ocular de um estupro; e, ainda por cima, num fluxo narrativo meio Joyce, meio Woolf. Entre um estupro e outro, uma crítica social brutal.

“A mulher é lambuzada de esperma. Do mesmo modo como lhe construíram uma bela casa, agora não vão querer perder a parceira, e lá fora as pobres casas geminadas dos mais paupérrimos indivíduos, expulsos como que num sacudir de mangas e num enxotar de seus departamentos do sexo, já se encontram à venda às dúzias, já estão disponíveis para leilão público, para serem secretamente incinerados. E o que foi um dia um lar agora se espreme para baixo dos martelos dos patrões da comunidade. O que foi um dia foi trabalho é arrancado dos corações com brutalidade.”


Numa sociedade do consumo, o que seria a mulher além de mero objetivo a ser consumido, reutilizado, reduzido a nada, descartado (após ser penetrado e sugado até que nada mais reste):

“O diretor fala tranquilo da xoxota e de como dali a pouco irá rasgá-la.(...) Ele segura a mulher pela cintura com a mão esquerda e puxa, se é que se pode dizer assim, a roupa de boa serventia por sobre a cabeça. Ela se agita diante do peso pesado.Ele xinga em voz alta suas meias-calças, faz tempo que já a proibiu de usá-las. Meias finas comuns, segundo ele, são mais femininas e permitem aproveitar melhor os buracos, isso quando não criam mais alguns.”

Em busca de um refúgio (será mesmo) da miséria em que vivia, Gerti vive uma aventura com um estudante, não tão diferente assim do seu marido - “Ambos já ouviram marulhar em seus ouvidos a xana de nossa Gerti”- e Senhor.

“O estudante agora não é mais alguém disposto a se doar, e também não virá a sê-lo”.

Com um filho que já dava mostras de sua perversidade e, inclusive, chega a testemunhar algumas das cenas brutais vividas pela mãe, quase que indiferente, não surpreende que Gertie não vislumbre qualquer esperança em sua existência. Eis que, num final trágico , temos Gertie, em meio ao desespero e à loucura, silenciando para sempre o filho que crescia - “Ele certamente se alegra com a expectativa de crescer, semelhante ao que se dá com o membro do pai”- para tornar-se a cópia do pai. No entanto, até o último momento, a figura sagrada da mãe está presente, pois ela o beija carinhosamente antes de sufocá-lo.

“A água envolve o filho e carrega-o consigo embora, por muito tempo ainda sobrará bastante dele, com esse frio. A mãe está viva,e coroado está seu tempo, em cujas amarras ela se laça. Mulheres envelhecem cedo, e seu erro é não saber onde poderão esconder todo o tempo que deixaram para trás. Será o caso de engoli-lo como os cordões umbilicais de seus filhos?”

Vi 19/01/2015

Repugnante, desconfortável, mas acima de tudo: Real.
Título: Desejo
Autor(a): Elfriede Jelinek
Editora: Alaude
Ano: 2013
Páginas: 240
Nota: 3/5
Sinopse: A obediente Gerti é casada com Hermann, diretor de uma fábrica de papel para quem tanto os funcionários como a mulher têm um valor meramente instrumental. Apesar de criança, o filho do casal já se mostra predisposto ao consumismo e a certa perversidade e completa um núcleo familiar disfuncional em que imperam a dominação sexual, a humilhação e o abuso de poder.
Desejo é uma crítica que fala sobre uma sociedade machista, na qual o homem tem supremacia na voz, autoridade evidenciada até no controle físico que exerce sobre a mulher.
Gerti é uma mulher extremamente infeliz. Casada com Hermann, diretor de uma grande fábrica, é escrava sexual dele.Temos o relato no decorrer do livro da sua obsessão doentia.
O filho do casal, ainda criança, presencia com curiosidade os abusos sofridos pela mãe, e isso reflete na formação da sua personalidade, e percebe-se que a certo porto a inocência infantil já foi perdida.
Gerti é extremamente submissa. Ela não tem voz. Ela não é dona do seu corpo, ela não controla as suas necessidades e muito menos os seus desejos. Seus gritos e protesto é a única forma de manifestação.
Apesar do tema forte, não existe nada de erótico nas descrições das cenas. Elfriede intercala sexo explícito com crítica social.
‘’ Desconfortável’’ talvez seja o adjetivo a esta obra tão realista. Tanto a forma quanto o conteúdo causam um incômodo durante a leitura, que continua mesmo depois de chegar ao fim do livro. Em alguns trechos, é insuportável acompanhar a narrativa, ver o modo como Gerti é subjugada e humilhada pelo marido, sua tentativa de fuga da realidade abrigando-se na bebida alcoólica, e a perversão do filho, um pequeno voyeur que se delicia observando a situação. Horrível.
Porém, Desejo nada mais do que um relato de uma sociedade não muito distante da nossa. Li algo sobre o livro, na qual um jornalista fala que a obra é uma leitura obrigatória para os jovens escritores de todo mundo. Em partes, tenho que descordar: Acho uma leitura obrigatória para todos aqueles que lutam, de uma certa contra esse sistema que vai contra todos os valores aprendidos e ensinados.
“As mulheres, enxertadas de esperanças, vivem da lembrança; os homens, entretanto, vivem do momento, que lhes pertence e, se cuidadosamente cultivado, se deixa compor e formar um montinho de tempo, que igualmente lhes pertence.” (p.23)

criscat 27/02/2014

O livro deu à autora o Nobel de Literatura de 2004. Autora de A pianista - que virou filme pelas mãos de Michael Haneke - ganhou todas as premiações mais importantes de literatura em idioma alemão. Este é o segundo romance da autora publicado no Brasil. (...)

Resenha completa no site.

site: http://www.cafeinaliteraria.com.br/2014/01/11/desejo/