Vi 19/01/2015Repugnante, desconfortável, mas acima de tudo: Real. Título: Desejo
Autor(a): Elfriede Jelinek
Editora: Alaude
Ano: 2013
Páginas: 240
Nota: 3/5
Sinopse: A obediente Gerti é casada com Hermann, diretor de uma fábrica de papel para quem tanto os funcionários como a mulher têm um valor meramente instrumental. Apesar de criança, o filho do casal já se mostra predisposto ao consumismo e a certa perversidade e completa um núcleo familiar disfuncional em que imperam a dominação sexual, a humilhação e o abuso de poder.
Desejo é uma crítica que fala sobre uma sociedade machista, na qual o homem tem supremacia na voz, autoridade evidenciada até no controle físico que exerce sobre a mulher.
Gerti é uma mulher extremamente infeliz. Casada com Hermann, diretor de uma grande fábrica, é escrava sexual dele.Temos o relato no decorrer do livro da sua obsessão doentia.
O filho do casal, ainda criança, presencia com curiosidade os abusos sofridos pela mãe, e isso reflete na formação da sua personalidade, e percebe-se que a certo porto a inocência infantil já foi perdida.
Gerti é extremamente submissa. Ela não tem voz. Ela não é dona do seu corpo, ela não controla as suas necessidades e muito menos os seus desejos. Seus gritos e protesto é a única forma de manifestação.
Apesar do tema forte, não existe nada de erótico nas descrições das cenas. Elfriede intercala sexo explícito com crítica social.
‘’ Desconfortável’’ talvez seja o adjetivo a esta obra tão realista. Tanto a forma quanto o conteúdo causam um incômodo durante a leitura, que continua mesmo depois de chegar ao fim do livro. Em alguns trechos, é insuportável acompanhar a narrativa, ver o modo como Gerti é subjugada e humilhada pelo marido, sua tentativa de fuga da realidade abrigando-se na bebida alcoólica, e a perversão do filho, um pequeno voyeur que se delicia observando a situação. Horrível.
Porém, Desejo nada mais do que um relato de uma sociedade não muito distante da nossa. Li algo sobre o livro, na qual um jornalista fala que a obra é uma leitura obrigatória para os jovens escritores de todo mundo. Em partes, tenho que descordar: Acho uma leitura obrigatória para todos aqueles que lutam, de uma certa contra esse sistema que vai contra todos os valores aprendidos e ensinados.
“As mulheres, enxertadas de esperanças, vivem da lembrança; os homens, entretanto, vivem do momento, que lhes pertence e, se cuidadosamente cultivado, se deixa compor e formar um montinho de tempo, que igualmente lhes pertence.” (p.23)