Marili 01/05/2018Não me atenho a resenhas pois sempre me aproximei muito mais da descrição de sensações que a leitura me causa; nunca me dei bem com enredo propriamente dito e prefiro manter distância o quanto for possível. Quando me arrisco em sinopse sempre acabo confundindo mais do que explicando - coisa de gente que fica ansiosa pra descrever e acaba atropelando palavras pelo caminho. Pretendo fazer isso ao modo Marili: informal e despretensioso.
Certo dia, quando ainda trabalhava numa livraria, recebi a visita de um cliente que atendia há um bom tempo. Ele costumava me emprestar qualquer coisa que eu demonstrasse um bocadinho de interesse:
— Tem um rótulo de cereais muito bom que comecei a ler e não consegui termi…
— Esse eu tenho, se quiser trago pra ti.
E realmente nunca fiz cerimônia pra aceitar. Perdão. Principalmente por ser raro encontrar alguém com gosto literário em comum e que tenha tanta vontade de repassar adiante o acervo, então sempre aceito de muito bom grado tudo que o moço me empresta. Eis que, um dia, ele me trouxe a graphic novel Livros da Magia, que com certeza estaria na minha lista de futuras aquisições se não estivesse esgotado em todos os fornecedores possíveis. Fiquei ainda mais felizinha quando disse que era meu presente de aniversário.
[ALERTA DE SPOILER]
Folheei a HQ e perdi um pouco o fôlego com um trecho sobre a inquisição de dar nó no estômago.
Mas deixa eu explicar melhor. Essa HQ não se trata de ficção histórica nem nada do tipo. É sobre magia (acabei de me sentir muito idiota escrevendo essa frase, mas não consegui fugir do termo até porque ele está no título). Mais especificamente: um menino com potencial para ser o maior mago do mundo moderno. Nem o moço sabia disso até encontrar quatro magos enquanto dava um rolê de skate. Cada um desses magos partiu em uma jornada com ele, mostrando os privilégios e as desvantagens de ser um mago. Trilhou pelo passado (história e ascensão da magia, aqui que entra a inquisição). E, ao final, ele é transportado para o futuro ao lado de um cego macabro. Vai até o fim dos tempos, quando já não existia o planeta terra e pessoas (seria meu sonho?). Resumindo: o universo todo estava na saidera. Nesse momento apareceram alguns personagens de Sandman (foi um momento de muita euforia por aqui).
Ao final do processo, ele teria que escolher entre ser mago pura adrenalina ou continuar com a vida normal e pouco empolgante.
[/FIM DO SPOILER]
E, até ler o desfecho da graphic novel, tu fica sem entender exatamente o que levou Neil Gaiman a escrever aquilo tudo. Desculpa, só consegui pensar “e eu com isso?” porque tou numa fase de prosa poética e sempre tento localizar algum sentido intimista em tudo que leio. Eis que aparece o posfácio do autor explicando que a história toda poderia ser uma metáfora bem linda e nem tão subjetiva assim:
“Quando eu era bem mais novo e o colégio fazia feriado, passava dias inteiros na biblioteca lendo a seção infantil de cabo a rabo Foi uma jornada mágica, ou melhor, uma sucessão de jornadas numa salinha cheia de livros. Ao escrever esta história, me sinto em dívida com aquele meu eu de nove anos, sentado sabe-se lá onde, sempre com um livro aberto; e às pessoas que me levaram a terras maravilhosas. Tenho imensa dívida com todos estes praticantes das artes arcanas e magos mestres [...] São vários, muitos dos quais já esqueci os nomes, ou nunca soube. Foram os primeiros a me mostrar que a magia existe, e onde eu poderia encontrá-la”