Muito Prazer

Muito Prazer Karla Lima




Resenhas - Muito Prazer


4 encontrados | exibindo 1 a 4


Marta Skoober 13/03/2021

A leitura é uma coisa mágica, isso se você você se permite acreditar em magia. Seguir seu coração em meio a tantas opções não é fácil, mas às vezes a leitura chega até você de um jeito que até parece bruxaria.

Em 2020 quando foi decretado o primeiro lockdown minha mãe me ligou chorando apavorada, a voz quase não saia. Passei a mão na mochila, coloquei umas roupas e olhei para os livros que estava lendo (uns dois calhamaços e esse Muito Prazer: vozes da diversidade, de Karla Lima) que estavam na mesinha. Na última hora disse pra mim mesma: muito pouco tempo pra carregar tanto peso, passei a mão no kindle e foi. E foi uma pandemia que não acabou, meses depois já de volta à casa, o momento daqueles livros tinha passado.

Outras leituras vieram e no final de fevereiro (de 2021) acontece o chamado, pego o livro e meu olho bate em: "Ainda não sei se consigo voltar no final de março. Tenho medo de deixar minha mãe sozinha aqui. (...) Desculpa, são coisas que estão totalmente fora do controle. Se pudesse, eu estaria em Sampa cuidando da minha vida, mas, no momento, preciso estar aqui cuidando de outras vidas." (155) Olhei para a página oposta e "No final de 2012, o quadro se agravou e Alexandra viajou para Florianópolis para ajudar a mãe. Pretendia ficar uma semana, ficou cinco meses." (154) Olhei pra aquilo uma, duas, três vezes, e soube estava na hora (de retomar a leitura). Depois comentei o fato com minha irmã e li para ela, que me disse "parece magia"...

É um livro extremamente rico de histórias reais, que me levou do riso às lágrimas, e que me faz pensar (assim como em A pandemia que ninguém vê) que a gente nunca sabe o drama que cada um vive/viveu, por isso sempre cabe um pouco mais de empatia.

12.03.2021
comentários(0)comente



Kizzy 11/08/2015

A simplicidade do ser humano e a complexidade da sociedade
Eu ganhei esse livro de uma amiga muito querida. Foi um presente de surpresa, daqueles que a pessoa viu e achou sua cara. Eu não me lembro quando e nem como a Mari deixou de ser minha conhecida da faculdade e passou a ser minha amiga, grande amiga. Mas quando comecei a pensar nisso durante a leitura, eu me lembrei que foi mais uma afinidade de pensamentos mesmo, uma aproximação que aconteceu de forma natural e ficou, não consigo me lembrar da data.
Eu e Mari temos muitas semelhanças, somos mulheres independentes, fortes, lindas e resolvidas. Somos ambas bibliotecárias, adoramos ler, fazer programas culturais, curtimos um bom samba e somos donas de um humor satírico, rápido e muito irônico. Como todo bom ser humano, graças a Deus temos muitas diferenças também. Mari é uma mulher passional e muito corajosa. Dessas que entra pra ganhar ou não quer nada, que ama de peito aberto e que sofre com a mesma intensidade, já eu sou bem mais racional e covarde mesmo. Ela pensa longe, faz muitos planos e sonha de um jeito bonito de ver, eu sou mais conservadora. Eu gosto de dirigir, ela não (ainda), e eu gosto de meninos, a Mari de meninas.
Escrevi toda essa descrição apenas para dizer o que achei do livro. É exatamente isso, "Muito prazer", é uma coletânea de contos reais, muito, mas muito bem escritos. São apenas histórias de pessoas como eu, ou a Mari, ou você, que só fazem o que todos nós fazemos todos os dias quando acordamos, tentar viver e ser feliz. Só que nó livro a autora fez uma coletânea de textos jornalistico documentários com mulheres que são homossexuais ou que de alguma forma já representaram ou viveram essa experiência.
Ocorre que eu, nunca achei que o fato de eu ser hétero e outra pessoa ser homo, era uma diferença relevante, então, quando eu comecei a ler eu fiquei pensando que sinceramente eu não ia achar nada de tão interessante que justificasse um livro, mas isso já começou a mudar no prefácio.
Particularmente, acho difícil entender como que para o mundo, isso é ainda tão relevante. Sexualidade de uma forma geral me parece algo pessoal e privado, dessas coisas que não tem influência na vida coletiva, então natural seria que cada um amasse quem quisesse amar, e que isso não tivesse a menor importância, afinal se eu vou me casar com o Manoel ou com o Joaquim não muda nada no meu trabalho, ou para os meus amigos, então se vai ser com a Manoela, também não deveria mudar.
Porém, durante toda a narração e também no prefácio, você vai entendendo que, de fato, a sociedade (nela inserida a família, o trabalho, os amigos, os conhecidos, a mídia, as leis e inclusive a pessoa) demanda a todo tempo que a pessoa afirme que "olha, eu sou lésbica, mas eu trabalho como você, pago contas como você, posso ser legal ou chata como você, posso ser militante ou não como você, posso gostar de x e não de y como você."
A autora é brilhante por conseguir desconstruir a cada narração aquela minha ideia de que, é obvio que todo mundo pensa que uma coisa não ter nada a ver com a outra, de que o preconceito está na cabeça do próprio gay. Não está, infelizmente ele está aí na cara, na dificuldade e no processo quase sempre muito doloroso de alguém se assumir contra um padrão social.
Chama atenção também o machismo que o homossexualismo feminino carrega. Como para as mulheres o preconceito está profundamente aliado ao machismo, à ideia do papel da mulher como princesa e submissa o que gera discriminação até mesmo entre os próprios homossexuais.
Outro padrão desconstruído pelo livro é a ideia de que gay, principalmente mulher gay é algo novo. Simplesmente brilhante a história de mulheres que são casadas com mulheres desde os anos 60 e 70, que lutaram contra a ditadura, que precisaram ser militantes da própria felicidade.
Aliás esse para mim foi o ponto central da obra. Militar pela própria felicidade me parece algo tão natural, como pode ser possível que pessoas precisem de fato travar uma guerra interna e externa, para só aí conseguirem militar em causa própria e ser feliz.
Comecei a ler querendo me responder se realmente era necessário escrever um livro para retratar que mulheres lésbicas são pessoas comuns e que definitivamente tem seu papel na sociedade. Terminei respondendo que infelizmente ainda é necessário que se afirme isso, e que sim, elas estão fazendo este trabalho de formiguinha há décadas, de forma muito corajosa, decente e necessária.
Karla Lima escreve com maestria e honestidade. O livro te faz rir, te faz chorar, te faz ter raiva, alívio e te faz enxergar você mesmo independente de qualquer orientação sexual. É leitura que interessa a todos que montamos uma sociedade que precisa ser mais igualitária.
Leitura pela qual sou agradecida a minha querida amiga por ter me apresentado de forma tão sublime e natural como ela própria se tornou parte da minha vida. Foi realmente "Muito Prazer".

"A gente fala do objetivo da vida, o Princípio da Felicidade e questiona porque o Estado haveria dizer de que maneira devemos ser felizes. O Estado, claro, não tem que interferir na vida privada de ninguém.

Nós, homossexuais, estamos tão acostumados ao preconceito que, às vezes, também nos deixamos levar por idéias preconcebidas"
Marta Skoober 08/03/2020minha estante
Muito boa a sua resenha!




Manu 27/01/2014

Necessário!
Cada capítulo é recheado de cultura, histórias que acrescentam, personalidades fortes e uma narrativa deliciosa! Além de ser esplendido, é uma leitura totalmente necessária para todas as pessoas. Karla Lima, com maestria, nos faz andar pelo mundo LGBT e levantar a questão que deve ser questionada nos dias de hoje como nunca foi antes: A opinião e cabeça aberta disfarçadas de preconceito!
comentários(0)comente



Larissa 30/05/2022

Evolução!
Um livro sobre vivência lésbica e bissexual datado de 2013.

Muita coisa mudou, graças às deusas, não só a sigla GLS ou LGBTT.

O nosso discurso é, muitas vezes, preenchido por preconceito que nós mesmos disseminamos e em um livro publicado há quase dez anos é possível perceber o quanto já se caminhou.

?Fora do armário é mais gostoso, não tem cheiro de naftalina, mas cada um tem que saber quando pode vir pra fora respirar esse ar. ?
comentários(0)comente



4 encontrados | exibindo 1 a 4


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR