GH 13/05/2017
Nietzsche e a incapacidade social Alemã de situar-se
Nesse livro que é breve, Nietzsche se dispõe a analisar, refutar e atacar sem piedade o livro ''Vida de Jesus'', escrito por David Strauss, onde o Teólogo alemão se dispõe a introduzir uma nova perspectiva ao cristianismo, autenticando a racionalidade, mas sem esquecer-se das bases importantes da citada religião.
De fato, é no mínimo curioso e paradoxal esse novo conceito de cristianismo desenvolvido por Strauss e abominado por Nietzsche. Mas, além das latentas críticas ao sectário, o filósofo usa como pano de fundo (incansavelmente) a sociedade alemã, dada como impotente.
''Se fosse possível suscitar contra o inimigo interior, contra essa forma de instrução extremamente equívoca e, em todo caso, não-nacional que um perigoso mal-entendido batiza hoje na Alemanha com o nome de cultura, se fosse possível opor a isso a coragem imperturbável e tenaz que o alemão mostrou diante da brusca e patética impetuosidade do francês, toda esperança não seria vã para edificar uma autêntica cultura alemã, precisamente o oposto dessa pseudo-cultura. '' (Pág. 24)
Niet, como de costume, contextualiza usando fatos históricos para dar veracidade a seus argumentos. Reforçando-os, conclui uma incapacidade moral e intelectual de uma Alemanha decadente, refletida socialmente. Fajutos intelectuais (Kant), reacionários e cópias iluministas são características que definem o país e sua época. Salva as exceções como Goethe, por exemplo.
''Só pode ser por causa de uma confusão que falamos da vitória da cultura e da civilização alemã, uma confusão que se explica pelo fato de que na Alemanha a simples ideia de civilização foi perdida.
A civilização é, acima de tudo, a unidade do estilo artístico através de todas as manifestações da vida de um povo. Mas o fato de saber muito e de ter aprendido muito não é nem um instrumento necessário nem um sinal da civilização e, na necessidade, concorda perfeitamente com seu contrário, a barbárie, ou seja, com a ausência de estilo ou a mistura caótica de todos os estilos. '' (Pág. 29)
É de costume o autor se colocar num pedestal, um salvador, ou melhor, como ele mesmo diz um médico de uma época/sociedade doente. Nas mais diversas obras do filósofo, o encontraremos sempre afiado, sagaz, ácido, sem medo e sem medir palavras, um exímio cutucador de feridas, melhor, dilacerador de feridas, frequentemente no auge da audácia!
''Lamentem, portanto – exclama Goethe – lamentem o homem extraordinário por ter vivido numa época tão lamentável que se viu forçado a polemizar sem trégua. '' (Pág. 73)