spoiler visualizarDany 24/12/2014
O Deus de Espinosa encontra o Hermetismo
"Ad infinitum" é um livro que mistura filosofia, espiritualidade e ideias vindas da ciência.
Nele, o autor se vale de 4 personagens para encenar um diálogo acerca do Tudo: uma filósofa, um agnóstico, um espiritualista e um cristão. Um hino a tolerância e ao bom senso que me parece ter sido escrito sobre ombros de gigantes como Benedito Espinosa, Hermes Trimegisto, Carl Sagan, etc.
Abaixo trago um resumo do que ocorre em seus 7 capítulos, ou pelo menos pelo que ainda consigo me lembrar após haver lido:
1. Conversas no jardim
Os personagens se apresentam e estabelecem as regras do diálogo. São eles: Sofia (estudante de filosofia e história, apreciadora de Sócrates, Espinosa e Epicteto, etc.); Petrius (jornalista científico e agnóstico, gosta de Carl Sagan e Richard Feynman, etc.); Otávio (ilustrador, escritor e livre-pensador, admirador de diversas doutrinas espiritualistas); Ismael (psicólogo e cristão moderado).
2. Alguém constrói a Deus na penumbra
Onde Sofia fala sobre a substância que não poderia criar a si mesma, e que se opõe ao nada, que não existe (Espinosa). Prosseguindo, ela também fala da lógica da criação mental (Hermetismo). Ao final há um debate entre Otávio e Petrius acerca dos argumentos para a existência de Deus (inspirado em palestra de Carl Sagan).
3. Eu quero Te conhecer, desconhecido
Onde Ismael fala acerca dos atributos divinos, no que é avaliado e criticado pelos demais. Dentre outras coisas, debatem acerca da validade da oração, há uma crítica pertinente a chamada Lei da Atração (mais conhecida ultimamente através do livro "O Segredo"), e ainda falam acerca de alguns paradoxos relacionados ao conceito de Onipotência.
4. Bendito seja o mesmo sol de outras terras
Onde Otávio começa sua exposição acerca do conceito de justiça divina. Há uma análise de toda a história do espaço-tempo e do surgimento da vida, amparada por informações trazidas por Petrius. Depois há uma comparação entre a justiça humana e divina, do qual nasce a ideia de que o conceito de igualdade é o maior parâmetro para se chegar a justiça. Há ainda um pequeno debate acerca de paranormal vs. sobrenatural ("O homem que afirmava levitar").
5. Em vida após vida, idade após idade, sempre
Onde Petrius lança sua pergunta devastadora: "como um deus pessoal seria justo ao permitir que uma criança nasça com câncer?". Ismael tenta rebater, mas por fim recorre a resposta que não é resposta ("os mistérios de Deus"). Sofia fala de estoicismo e Epicteto, mas não resolve a questão. Finalmente, Otávio faz a derradeira tentativa, e começa falando sobre informação ("a mente também trabalha com a substância de Espinosa") e genética (evolução das espécies).
6. Vossos filhos não são vossos filhos
Onde Otávio continua sua longa exposição acerca de genética, evolução das espécies, crianças selvagens (Amala e Kamala), crianças prodígio (Mozart), homossexualidade (crítica ao suposto "gene da homossexualidade" e aos demais "deuses-genes"), personalidade vs. potencialidade, até que apresenta a teoria da reencarnação como hipótese lógica para sustentar a possibilidade da justiça divina (inclusive citando Schopenhauer).
7. Diz sempre "Um" com toda a alma
Onde nem todos se convencem de um deus pessoal e/ou da reencarnação, mas uma conclusão mais importante é feita: a de que o amor, a amizade e a tolerância podem ser ainda mais importantes do que as demais conclusões. Ao final, Sofia recita um poema que trata do problema de como a experiência religiosa está, muitas vezes, além da linguagem.
"Ad infinitum" se trata, sobretudo, de uma experiência, muito mais do que de um livro. Ao que parece, cada um terá a sua própria :)