Dudu Menezes 27/02/2024
Bateu forte...
Acabo de ler a Antologia Poética do pernambucano, Manuel Bandeira, publicada pela Global Editora, e a sensação é de comoção diante dos escritos de alguém tão culto e capaz em seu ofício de traduzir a alma humana.
Irônico, sem deixar de expressar a tragédia que é viver, Bandeira foi um poeta romântico, embora sempre tenha se mostrado preocupado com as questões sociais. Um provocador dos mais habilidosos, cujo olhar estava atento ao Brasil profundo. Brasil, esse, que só os que escrevem com a alma tem a capacidade de transformar em literatura.
Esta Antologia reúne poemas realmente inesquecíveis, publicados em livros como A cinza das Horas e Estrela da Tarde, mas também em outras obras consagradas do autor, como: Libertinagem e Estrela da Manhã.
Bandeira dizia "não fazer poesia quando queria e sim quando ela, poesia, expressava sua força de vontade", e isso fica nítido em cada verso, seja ele ritimado e metrificado (com o mesmo número de sílabas) ou completamente livre. São poemas que nos tocam profundamente, porque dialogam com o que há de mais íntimo em cada um de nós.
Considerado o maior poeta lírico do Brasil, no século XX, Bandeira tinha sido desenganado pelos médicos, aos 18 anos de idade, devido à tuberculose. Mas a poesia foi para ele como um medicamento, que, em doses homeopáticas, permitiu que a sua vida se estendesse até os 82 anos - para a nossa imensa sorte, é bom que se diga!
Bandeira não lutou contra a sua doença. Ele a acolheu, como sábio que era, fazendo do sintoma físico uma motivação para dialogar com a morte. "Bendita a morte que é o fim de todos os milagres", dizia. Ou, então, "sei que é grande a maçada, morrer, mas morrerei - quando fores servida - sem maiores saudades, desta madrasta vida, que, todavia, amei".
Amou a vida, acolheu a morte. Soube usar a sua dor como combustível para mantê-lo vivo por mais de oito décadas. Mas, enfim, partiu para o seu refúgio, sem doenças, dores e sofrimentos. Foi-se, enfim, embora para Pasárgada, "onde a existência é uma aventura" e pode-se deitar, na beira do rio, ouvindo as histórias contadas pela mãe d'água. As mesmas que, em sua infância, Rosa ia lhe contar...