aline203 18/01/2024Bem bom, porém cansativo Mário Vargas Llosa tem uma escrita primorosa, o livro é recheado de trechos poéticos e muito imaginativos em que ele descreve personagens que por diversos motivos buscaram no Conselheiro e na religião a única saída e motivação para sobreviver.
Nos primeiros capítulos são apresentados os personagens de forma isolada, e com o tempo eles se entrelação e as histórias se conectam em torno de Canudos. Existem alguns muito interessantes como Maria Quadrado, o pessoal do circo e o ativista comunista Galileu. Quem lê a coluna política de Mário Llosa pode interpretar que Galileu seria uma ironia do autor sobre o que a esquerda entende o que foi Canudos. Entendo também que a opinião de Llosa se expressa na fala do jornalista míope para ao Coronel Cajazeiras:
"...estive indo ao Gabinete de Leitura da Academia Histórica - A revisar os periódicos, todas as notícias de Canudos. O Jornal de Notícias, o Jornal da Bahia, o Republicano. Tenho lido tudo o que se escreveu, o que escrevi. É algo...difícil de expressar. Muito irreal, vê você? Parece uma conspiração da qual todo mundo participasse, um mal-entendido generalizado, total."
Independente de qual era o objetivo do povo de Canudos, além da pura sobrevivência num terreno muito árido e complicado de viver, independente da forma como eles se organizaram para obter esta sobrevivência, e quais crenças eles tinham e de que forma a imprensa motivou a opinião pública, o retorno da recém-nascida república brasileira foi desastrada, irresponsável e de tamanha violência, porque, afinal de contas, a religião aparece onde o estado não está.
Apesar de haver trechos de ação em que o ritmo de leitura acelera, existem outros, principalmente nas duas últimas partes, que o livro se torna bem cansativo e difícil de seguir.