Ana Cristina 11/09/2021Um desserviço a questão climáticaO livro é um discurso sobre como o aumento da população mundial é um gatilho para as condições econômicas e sociais que levam as mudanças climáticas. Quanto mais pessoas há no planeta, explica o autor, maior é a pressão para a produção de alimentos e bens de consumo que por sua vez impulsionam maior consumo de água e combustíveis, exploração de terras e desmatamento.
De forma resumida, o autor alerta para como estamos exaurindo o planeta de recursos básicos para a manutenção climática e sobrevivência do próprio ser humano. A visão dele é pessimista, demonstrando como o funcionamento econômico mundial dificulta ações de prevenção e reversão dos danos causados ao ambiente.
Um trecho que chama a atenção é o alerta do autor sobre a ocorrência de uma pandemia mundial em decorrência do aumento populacional. Ele chega a dizer “não é uma questão de se, mas quando”. E é um trecho assustador, visto que foi escrito em 2013 e em 2019 vimos a explosão do COVID-19. É para deixar o leitor pensando quais outras previsões do autor se tornarão realidade muito mais cedo o que o previsto?
Outro aspecto preocupante do livro são os gráficos, que além de assustadores por si só são sempre pautados em perspectivas otimistas. Por exemplo, o gráfico de crescimento de veículos motorizados e sua previsão para as próximas décadas é calculada numa taxa de 2,5% quando o crescimento real nos últimos anos foi de 3,27%. Em outras palavras, se a perspectiva otimista do nosso futuro é absurdamente assustadora, quão terrível será a realidade concretizada pela humanidade nos próximos anos?
O livro é pequeno e objetivo e cumpriria um papel importante no alerta sobre a situação no planeta, não fosse a total falta de fé do autor. Ele finaliza seu discurso de modo a conclusão a que o leitor chega é: “o mundo está acabando e não há nada que possa ser feito”. Sendo assim, porque nos preocuparmos em tentar?
O autor assume uma opinião de extremo pessimismo, enfatiza sua falta de fé na ciência para oferecer soluções tecnológicas e na política para fazer escolhas sustentáveis ao invés de puramente econômicas. Seria inocente dizer que a ciência irá nos salvar e os políticas vão virar mocinhos, mas o tom do autor deixa claro que não é há solução. Em resumo, o livro apenas esclarece que estamos em uma ida sem volta para o apocalipse.
Esse posicionamento do autor é grande desserviço a sua própria pesquisa. Ele chega a falar como encontrar o Bóson de Hyggs é uma empreitada inútil frente ao futuro que nos aguarda, mas se esse futuro é inevitável a pesquisa climática é tão inútil quanto. Acabei a leitura com a sensação que devo apenas aproveitar a vida enquanto ela ainda existe, mas que qualquer tentativa de um comportamento sustentável é inútil, então não preciso mais me preocupar com isso.