Kath 24/05/2022
Chato
É o meu primeiro contato com a autora e vai ser o último no que depender de mim. Que livro difícil de terminar, parabenizo minha paciência por não tê-lo abandonado como, por vezes, foi minha vontade.
A história é contada por Beatrice em uma espécie de narrativa para sua irmã Tess que desapareceu. A princípio, ela fornece algumas pistas sobre a vida da irmã que ela achava conhecer muito bem, mas percebe, conforme a investigação avança, que havia muitas coisas que Tess não havia lhe contado. Na última vez que falou com a irmã, ela estava grávida de um professor da universidade onde cursava artes, o homem era casado e não ia assumir qualquer responsabilidade pelo bebê, mas a irmã decidiu que o teria mesmo assim, contrariando todos os conselhos de Beatrice, a quem chamava de Bee.
Completamente o oposto da irmã mais velha, que tem uma vida estável, um emprego bem remunerado, está noiva e controla cada pequeno aspecto da sua vida, Tess era um espírito livre. Tinha um emprego que ajudava a pagar as contas, um apartamento decrépito e um monte de sonhos de ser reconhecida como a artista que era. De alguma forma, aquém do desprezo da mãe por suas escolhas, Beatrice sempre soube que Tess era sua favorita, ela viveu sob as duras críticas da mãe e desenvolveu uma autoestima muito baixa, contudo, esse fato não abalou sua relação com a irmã caçula a quem sempre amou e admirou.
Tão logo a mãe lhe informa sobre o desaparecimento de Tess, Beatrice viaja para Londres determinada a encontrar a irmã. O cenário não é dos melhores, a polícia averígua os fatos, mas parece convencida que Tess fugiu para ficar um tempo sozinha, pois, semanas antes de desaparecer, ela deu à luz a um bebê morto. A família de Beatrice tem um histórico genético de fibrose cística (conhecida como Doença do Beijo Salgado ou Mucoviscidose, é uma doença genética crônica que afeta principalmente os pulmões, pâncreas e o sistema digestivo. Atinge cerca de 70 mil pessoas em todo mundo, e é a doença genética grave mais comum da infância. É uma doença que faz com que o corpo produza muco de 30 a 60 vezes mais espesso que o normal. Isso leva ao acúmulo de bactérias e germes, causando inflamações e infecções recorrentes, trazendo danos (até irreversíveis) aos órgãos acometidos.), o irmão mais novo delas, Leo, faleceu vitimado pela doença ainda aos oito anos.
Por causa disso, Tess temia que o seu bebê pudesse sofrer da doença e se submeteu a um novo tratamento que poderia reverter qualquer possível alteração no gene que causava a fibrose cística. Contudo, sua criança ainda nasceu com uma doença grave nos rins que a levou a falecer. Alguns dias depois, o corpo da sua irmã é encontrado no banheiro de um prédio abandonado. A polícia fecha o caso como suicídio, mas Beatrice não tem dúvidas que a irmã nunca cometeria um ato extremo como esse, ambas viram seu irmão morrer de modo doloroso, sabiam o valor da vida e respeitavam isso. Assim, decide ir atrás da verdade procurando reconstruir os últimos dias de vida da irmã para encontrar a pessoa que a matou.
Na teoria, esse livro era para ser um thriller, mas a maior parte da narrativa é sobre luto. A bem da verdade, por se tratar de um relato em primeira pessoa direcionado para Tess, não seria muita surpresa a exposição desse sentimento de perda, a constante lembrança e os detalhes sobre a saudade da perda. Apenas quem já passou por um luto dessa magnitude pode entender. Mas, a bem da verdade, isso tira um pouco o foco da trama para o que importa: quem matou Tess e por quê. O livro se torna, assim, um relato arrastado que oscila entre passado e presente para desencadear em um enredo que não soa verossímil ou confiável.
O plot twist escolhido pela autora foi, a meu ver, bem falho. Acredito que fãs assíduos de Agatha Christie mataram a charada bem antes do capítulo 20, francamente. Além disso, ela escolheu um final aberto que não deixa claro o desfecho da personagem e, mesmo que ela tenha realmente sobrevivido, o estado em que se encontrava deixava dúvidas quanto a veracidade dos últimos parágrafos. especialmente pela revelação acerca do "advogado". A meu ver, o livro é lento. A gente descobre que Tess está morta no capítulo 3, então Beatrice vai dando voltas e mais voltas no tempo fornecendo um cenário fragmentado que por vezes dificulta nossa composição do quadro geral. Além de, como uma detetive amadora, questionar coisas óbvias como o uso de EPIs por profissionais de saúde no exercício da função, o que não faz o menor sentido.
Para mim, a experiência soou mais como um drama que um suspense e, por Deus, é muito arrastado. Tem horas que é preciso paciência para avançar a leitura. Embora concorde que os conflitos familiares e a relação das irmãs foi algo muito bem construído, como narrativa em si o livro não conseguiu me prender e o desfecho beirou o frustrante com toda aquela ambiguidade.