Ancillary Justice

Ancillary Justice Ann Leckie
Ann Leckie




Resenhas - Ancillary Justice


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JuBarros_ 08/04/2021

Uma releitura maravilhosa
Minha primeira experiência com Justiça Ancilar foi no começo do ano passado, onde li a edição brasileira (btw, a capa da edição brasileira dá um banho na gringa). Resolvi reler o livro em inglês, já que Ancillary Sword (a continuação) parece que nunca será lançada no Brasil (poxa Aleph!!).

A primeira coisa que tenho a declarar é como eu amei a narradora do audiobook. Sua voz se encaixou perfeitamente e ela fez um trabalho maravilhoso. Dito isso, vamos conversar sobre a história.

A premissa desse livro é incrível, e Ann Leckie não deixa a desejar na execução. Acompanhar os pensamentos da Breq é fascinante, eu esperava que por ela ser uma AI seria completamente fria e sem emoções, mas esse não é o caso, e isso enriquece muito a trama.

Eu AMEI o universo que a autora criou! O império Radch, a sociedade Radch, as questões de tecnologia, religião e cultura, a relação com outros povos... Foi tudo fascinante! Creio que desvendar como tudo isso funciona foi a parte mais interessante desse livro, já que a autora te lança nesse universo e você vai aprendendo aos poucos o que cada coisa significa. Apesar de eu ter gostado dessa escolha, acredito que torna a leitura bem mais densa, lembro de ficar bem perdida nos primeiros capítulos quando li pela primeira vez. Na releitura eu consegui perceber nuances que eu não lembrava ter notado antes.

A relação entre as naves e suas ancilares, e os soldados humanos é brilhantemente explorada. Toda a questão das ancilares proporciona cenas com perspectivas múltiplas que são incríveis de acompanhar.

O plot é muito interessante, mas eu me diverti mais explorando as questões que mencionei acima do que seguindo a narrativa de vingança da protagonista. Justamente por isso eu não aproveitei tanto a última parte da história. Creio que não seja um spoiler dizer que a maior parte do livro intercala capítulos do presente com capítulos de flashback. Pra mim os flashbacks são as melhores partes do livro, mas há um ponto em que deixamos de acompanhar o passado e seguimos apenas a protagonista e seu curso atual, e é a partir desse ponto que a história dá uma estagnada.

Durante a primeira leitura eu senti que a parte final do livro demorou séculos para concluir, mas na releitura não pareceu tão demorado assim. Acredito que por já saber o final pude aproveitar melhor, mas ainda assim não posso dizer que amei.

Julgando pelo final de Justiça Ancilar, creio que os próximos livros melhorem nesse aspecto. Mau posso esperar para mergulhar nesse universo novamente.
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Alexandre Torres 03/02/2020

Space Opera do século XXI
Neste século estamos questionando a lógica por trás de gênero, número e grau. Ann Leckie trabalha muito bem os dois primeiros no primeiro livro de sua trilogia (e aborda o terceiro lateralmente nos outros dois, na figura do alien). Aqui somos apresentados a um povo conquistador, o império Radch, que não faz distinção de gênero em sua língua.
Este império está sempre anexando novos mundos. Aqueles que resistem são escravizados, tendo seus corpos transformados em "ancilares": suas mentes são apagadas e substituídas pelas memórias da inteligência artificial que controla as grandes máquinas de combate. É ai que entra a questão do número. A história acompanha uma destas naves de combate, Justiça de Toren, em dois momentos: primeiro quando controlava vários ancilares e depois, após sua destruição física, quando restou apenas um ancilar com as milenares memórias da inteligência artificial. Este ancilar chamado Breq agora busca em um planeta remoto, fora do império, uma maneira de se vingar do poderoso imperador.
O problema é que esse imperador também não é apenas um, mas vários ancilares com cópias de sua mente, espalhados pelos quatro cantos da galáxia.
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Camila(Aetria) 28/03/2017

Ancillary Justice, please come to Brazil!
Em Ancillary Justice fui apresentada a um mundo complexo, com uma protagonista não humana, negra, e num império onde o gênero não faz diferença.

Ann Leckie, sua maravilhosa.

Quando me explicaram sobre o que era o livro, que todo o discurso era no feminino, que as personagens eram negras e que era escrito por uma mulher, foi um combo muito forte para ser ignorado. O que também me facilita na compreensão do porquê a Aleph ainda não lançou o livro, considerando que está com os direitos desde 2014 (de acordo com umas notícias que fui caçar), afinal, traduzir um livro desses vai ser um desafio tremendo.

“Radchaai don’t care much about gender, and the language they speak – my own first language – doesn’t mark gender in any way. This language we were speaking now did, and I could make trouble for myself if I used the wrong forms.”
Ancillary Justice, p. 3, Ann Leckie

Imaginar um mundo no qual existem sim gêneros, mas eles não importarem de tal forma que não é necessário no seu discurso separar ‘ele’ de ‘ela’ é incrível. E ainda mais fantástico é explorar que, por mais que no império Radch isso aconteça, em outros mundos não é bem assim. E a nossa protagonista passa uns perrengues enormes por não conseguir distinguir pessoas ‘masculinas’ de ‘femininas’ nos mundos onde se distingue tais questões na fala.

“She blinked, hesitated a moment as though what I’d said made no sense to her. ‘I used to wonder how Radchaai reproduced, if they were all the same gender.’
‘They’re not. And they reproduce like anyone else.’ Strigan raised one skeptical eyebrow. ‘They go to the medic,’ I continued, ‘and have their contraceptive implants deactivated. Or they use a tank. Or they have surgery so they can carry a pregnancy. Or they hire someone to carry it.’”
Ancillary Justice, p. 104, Ann Leckie

Adorei a forma como a autora vai nos guiando e explicando esse mundo diferente sem gastar parágrafos inteiros explanando os pormenores de cada aspecto da vida das personagens e mundos. Já que o discurso é todo em primeira pessoa, a protagonista não precisa explicar algo que lhe é natural. Então ficamos sabendo dos costumes religiosos, amorosos, estrutura de sociedade, castas, relação de pobres e ricos, aos pouquinhos, a conta-gotas, conforme ela vai sentindo necessidade de conversar com alguém ou descrever no meio de seus devaneios. Tudo sempre muito natural.

“A dozen people stood around talking, but instant silence descended as soon as I entered. I realized that I had no expression on my face, and set my facial muscles to something pleasant and noncommittal.”
Ancillary Justice, p. 6, Ann Leckie

E afinal de contas, nossa protagonista não é humana, não tendo as necessidades e direcionamentos morais/práticos que esperamos de um. Demorei um bocado aliás pra imergir nos conceitos de inteligência artificial proposto. E nas hierarquias militares que lá aparecem. A sorte é que antes de ler, esse meu amigo me fez um briefing, passando inclusive essa imagem para me orientar em relação a termos e estrutura. A protagonista era uma nave. Uma nave inteira. Com sua consciência expandida para vários corpos, soldados humanos que serviam de invólucro para a consciência da máquina (aliás, olha isso como questionamento moral heeein, a autora vai perpassando isso de forma linda no livro, até que ponto está tudo bem você manter um corpo vivo, e então suprimir sua consciência para que uma máquina possa usá-lo? Só porque a pessoa é dita “não civilizada” isso se torna válido? Você matou aquela pessoa, afinal de contas.).

É realmente um desafio criar uma personagem não humana e com uma noção de consciência que foge de tudo que tenhamos a experiência. Como descrever essa possibilidade de estar em tantos locais ao mesmo tempo e ainda ser você? Há momentos em que a comunicação entre os corpos é interrompida, e ainda assim, mesmo separada, ela ainda é todos aqueles corpos. Que tem emoções, pensam, calculam e se estruturam como tal. E como deve ser perder toda essa pluralidade e estar restrita a apenas um?

“Justice of Toren was gone, and all aboard it. I was not where I was supposed to be, might be unreachably distant from Radch space, or any human worlds at all. All possibility of being reunited with myself was gone. The captain was dead. All my officers were dead. Civil war loomed.”
Ancillary Justice, p. 254, Ann Leckie

A relação de Justice of Toren (o nome da nave) com a humanidade, seus limites morais, sua noção do que pode ser válido, seus vínculos emocionais com suas capitãs (afinal, na maior parte das vezes não conseguimos saber se em outro mundo aquelas pessoas são ‘eles’ ou ‘elas, apenas em alguns casos conseguimos definir os gêneros das personagens. Isso traz uma noção bem bizarra de como geralmente pensamos que todos são ou homens ou mulheres e aí, quando descrevem por exemplo a ‘barba’ de alguém, nossa construção de imagem dessa personagem é completamente destruída. HAHAHA), tornam algumas falas dela impressionantes. Como uma visão do humano fora do humano.

“Thoughts are ephemeral, they evaporate in the moment they occur, unless they are given action and material form. Wishes and intentions, the same. Meaningless, unless they impel you to one choice or another, some deed or couse of action, however insignificant. Thoughts that lead to action can be dangerous. Thoughts that do not, mean less than nothing.”
Ancillary Justice, p. 247, Ann Leckie

Eu teria que gastar infinitos posts para falar de tantos aspectos da história quanto passam na minha mente (por exemplo, quantos ‘a’s tem os nomes das pessoas, meu deos… Mianaai, Skaaiat…), como me apeguei à Tenente Awn (o nome dela poderia ter vindo de “aaaaaawnnnnn”, porque sua MARAVILHOSA!); como não consegui definir meus sentimentos sobre Mianaai (aliás, achava que era uma mulher até me dizerem o contrário, isso acabou com a imagem que eu tinha del’a’); como já quis correr pra começar o segundo livro, mas me controlei; sobre como fiquei um tempo considerável tentando sacar se Seivarden era homi ou molier, e ficava adicionando e retirando uma barba mental; sobre como os ‘alienígenas’ são super bem construídos e desvinculados de nossa visão de humanidade; sobre como é genial gênero não ditar as relações humanas em Radch; sobre como a relação deles com a religião e diversos deuses (ou apenas um) é quase um estudo de caso; sobre como esse livro é uma reflexão maravilhosa sobre civilização e autoritarismo. Mas não vou. O texto já está gigante. Vou guardar mais para depois.

A única coisa que tenho a dizer para terminar é: Aleph, me chama pra dar um help nessa tradução, sua linda!!! HAHAHA E que quem consegue ler em inglês, não perca tempo e vá correndo ver a vingança de Justice of Toren e se apaixonar pela Tenente Awn (e ficar com vontade de tomar chá, porque nossa, como as pessoas de Radch tomam chá).

site: http://www.castelodecartas.com.br/2017/03/28/ancillary-justice-ogs-149/
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Rachel C. 29/08/2015

Sobre um protagonista Badass e descobertas pessoais sobre representação de gênero
Imagina que o protagonista é o AI de uma nave espacial e possui diversos corpos anexados a uma só mente. Eles são corpos diferentes, fazem coisas distintas, mas todos dividem a mesma consciência.
Imagina também que o livro é todo contado em primeira pessoa da perspectiva desse ser, imagina que tudo isso funciona e a narrativa não é confusa.(a história pode ser um pouco confusa, mas definitivamente não por esse motivo).

Imagina também que a raça predominante - os Radchaais - não se importa com gênero, e que todos os seres são referidos como "she". Imagina ler vários trechos que as pessoas são referidas pelo seu titulo (the priest, the lieutenant e etc), formar uma imagem mental de homens conversando e esbarrar em um trecho do livro que se referem a todo esse pessoal como "she". (imagina também imaginar personagens femininas pra depois descobrir que na verdade she era he)

Imagina que até +- 50% do livro, são contadas 2 a 3 histórias paralelas mas com começo meio e fim, sendo presente, passado e as vezes mais passado ainda.

Tudo isso que você imaginou (ou não) + um protagonista que canta é Ancillary Justice!

Esse livro me intrigou desde do primeiro capitulo. Precisei reler o segundo capitulo algumas vezes pra entender que o protagonista era MESMO uma nave espacial com vários corpos distintos e uma mesma mente.
Você demora um pouco pra entender a trama, mas o resumo dela é: Vingança.

Como mencionado acima, a trama se divide no presente, - o protagonista em busca de vingança - no passado, - O que motiva essa vingança - e o passado um pouco mais distante - a história de um terceiro personagem que ele esbarra logo no começo da trama.

O fato dos personagens serem referidos apenas no feminino a maior parte da trama não é nem de longe um ponto importante para a história - Assim como não importa para os Radchaais, não importa pra trama - mas é algo bastante difícil de deixar passar e me fez questionar(e, infelizmente confirmar) qual era a minha própria visão de gêneros na literatura.
Toda vez que um personagem era apresentado pela importância do seu cargo, automaticamente imaginava que se tratava de um homem, e era sempre um choque ver esse pessoal ser referido por pronomes femininos. Da mesma forma, quando aparece um personagens esnobe e mimado, imaginei se tratar de uma mulher pra, mais na frente, descobrir que eu estava errada e esse personagem era homem.
yep, essa foi uma descoberta sobre mim que não curti.

Como nem tudo são flores, o maior problema desse livro para mim se chama Seivarden. Tive MUITO problema com esse personagem e ele não conseguiu me convencer (mais informação que isso é spoiler)

Meu maior critério para dar 5 estrelas para um livro, é que, além de ter gostado, ele precise ter me marcado de alguma forma. Precisa ter me feito questionar algo ou me ajudar a visualizar algum aspecto da vida de forma diferente, e esse livro cumpriu esse papel.
Gostei bastante do livro pois além de ter um AI de nave espacial "Cantora" e Badass como protagonista, a História é contada em um POV muito louco - as vezes mostrando 5 coisas acontecendo ao mesmo tempo - me deu um soco no estomago ao me mostrar como há algo errado nos meus pensamentos em imaginar personagens poderosos sendo homens, e os mimados, sensíveis e chorosos como mulheres. Especialmente por este ultimo motivo, esse livro precisa levar minhas 5 estrelas.

O que não mencionei nesse review mas acho importante de nota:
- O vilão é confuuuuso (da melhor forma possível). Entender o que ele é demorou um pouco para minha pessoa.
- O livro também me fez questionar a definição de humano (migos, o livro é sobre uma AI agindo como humano e com motivações beeeem humanas)


TL;DR
- Protagonista Badass (que canta!!!!!!!!)
- POV muito louco de um unico ser com multiplos corpos. (hell yeah!)
- História sobre vingança (sempre divertido)
- Fez com que eu questionasse minha própria visão sobre como imagino o comportamento feminino e masculino (e me deixou meio mal por isso)
- História contada através de pequenos fragmentos com linhas de tempos distintas (que eu adoro, pois me deixa intrigada e curiosa)
- Preciso ser convencida sobre o personagem Seivarden (se alguém foi leu e se convenceu, por favor, me ajude)
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General ELL 24/08/2015

Não é um livro sobre 'Identidade de Gênero'
O vencedor do Hugo Awards de 2014, na categoria 'Best Novel'. Esse livro que basicamente é uma 'space opera' estilo Star Wars etc. foi acusado por alguns críticos do livro e da própria premiação de ter sido premiado somente por tratar da dita 'Questão de Gênero'.

O que eu digo é que não. Não é bem assim. É, a ideia de gênero aparece sim no livro mas NEM DE LONGE é o motivo central da trama. E a tal questão só é tratada "diretamente" (com aspas mesmo) em no máximo uma ou duas passagens do livro, bem de relance. Aliás a tal 'identidade' serve pra autora fazer um recurso estilístico muito interessante (que não conto aqui pra não estragar a 'surpresa'). Então se você só ouviu falar deste livro pela polêmica do Hugo deste ano (2015), meu recado é que as críticas são no mínimo um tremendo exagero que só servem pra desviar a atenção do leitor comum do que realmente importa que é a qualidade do material.

Sobre o livro em si: É Bom. Não é nenhuma oitava maravilha, mas não é perda de tempo. Sinceramente esperava mais para um ganhador do Hugo. A impressão que ele me deixou é que é um bom livro de ficção científica mas falta pra ele o... 'pulo do gato' vamos dizer assim, um algo mais. Faltou pra Leckie aquele estalo que transformou clássicos da FC como O Homem do Castelo Alto e a Mão Esquerda da Escuridão, dois outros ganhadores do Hugo, em mais do que bons livros de FC mas sim em bons livros em geral.

Mas de qualquer forma é bom. Os pontos altos pra mim são o recurso estilísco supracitado e a forma interessante de como a autora transforma um narrador em primeira pessoa em um narrador (semi)onisciente e como a perda desta onisciência muda a cadência do próprio livro. Truques de escrita muito interessantes mesmo, só isso já faz valer a pena a leitura.
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