Pedro 02/12/2022
Simples e direto. Simples até demais
De Gados e Homens, de Ana Paula Maia, é um livro contemporâneo brasileiro que tenta tematizar as relações entre seres humanos, animais e ambiente através de uma leitura direta e brutal, inspirada claramente pela corrente literária naturalista.
Infelizmente, a autora não consegue trazer para o leitor as melhores qualidades do Naturalismo. A carnificina e a brutalidade típica desses livros do final do século XIX e começo do século XX estão ambas presentes (afinal, o protagonista é responsável por, a marteladas, atordoar o gado que será morto para consumo humano), mas é aí que as similaridades acabam.
A leitura é fluida, o livro é curto e a mancha de texto é pequena. Em uma viagem de ônibus de uma hora, é possível ler metade do livro e ainda assim ter tempo para ouvir algumas músicas. Essas características que muitos podem ver como vantagens, no entanto, são talvez aquilo que impede que o livro seja verdadeiramente bom em minha opinião.
Ao contrário dos mestres naturalistas, Ana Paula Maia não descreve à exaustão. O livro se passa em um lugar indeterminado e seus personagens parecem brasileiros mas com nomes que impedem a precisão da sua nacionalidade, como Edgar Wilson, Bronco Gil e Helmuth. Ações e procedimentos, personagens e lugares, cujas descrições tomariam páginas em um A Besta Humana, ocorrem rapidamente, sem dar tempo para que o leitor entenda as complexidades e dificuldades do trabalho retratado ou do lugar onde se passa a obra.
A imprecisão que dá asas à imaginação é benéfica a um livro, mas não a um livro que tira suas principais inspirações de Dostoiévski (citado no fim do livro), John Steinbeck (provavelmente homenageado no título) e outros autores de características similares.
Isso significa que De Gados e Homens representa brutalidade abstraída, deslocada de um contexto histórico e econômico concreto. Seus personagens são exatamente isso, personagens, e o livro é exatamente isso, um livro. Nunca chega ao nível de denúncia social incisiva e precisa de Zola nem ao espiritualismo de Dostoiévski. Sobra a carnifica, que nem chega a ser brutal a ponto de satisfazer os desejos primordiais do ser humano por violência.