Crítica, eu? 01/02/2019
Raylan
Raylan, de Elmore Leonard, é mais uma trama protagonizada pelo delegado federal Raylan Givens, personagem que ficou muito conhecido graças à série de TV Justified. Neste título, o agente vai precisar lidar com o tráfico de órgãos e encarar de frente a morte por diversas vezes quando novos e velhos adversários cruzam seu caminho.
A história do livro se inicia quando Raylan Givens vai a um quarto de hotel prender um velho conhecido, mas o encontra mergulhado numa banheira de gelo sem os seus rins. O hospital recebe uma ligação oferecendo os órgãos de volta em troca de dinheiro. É então que Raylan entra em ação e decide procurar os culpados, tentando desvendar quem está por trás do comércio de órgãos e quais as ligações entre os participantes do tráfico.
Resolvidas as questões da primeira parte da história, o delegado federal que protagoniza o livro precisa servir de guarda-costas a Carol Conlan, uma mulher que representa uma empresa de carvão. Raylan acaba encontrando velhos conhecidos e é, então, levado a procurar uma fugitiva, Jackie Nevada, presa por jogar pôquer a dinheiro.
A narrativa de Raylan é rápida demais e envolvente de menos. Os diálogos são secos e frios, a ambientação dos espaços é pobre e o texto se torna, muitas vezes, confuso. A progressão do enredo é mal desenvolvida, deixando o desenrolar da história difícil de compreender. As conexões que o autor busca fazer entre os personagens e as ligações que levam o protagonista de um canto a outro acabam perdidas. Raylan é um livro que faz o leitor se esforçar demais se quiser entender seu enredo. Elmore Leonard puxa muitas linhas de raciocínio para desenvolver esta história, tantas que acaba enrolado e sufocado nelas.
Os personagens criados por Leonard também são problemáticos. É bem claro, desde o início, que não há mocinhos e vilões em Raylan e isso não é um problema. A parte ruim é que não é possível se identificar nem criar empatia por nenhum tipo da história. O protagonista é uma caricatura exagerada demais de um xerife de filme do velho oeste, os fora da lei são muito clichês e os bandidos de colarinho branco são estapafúrdios. Raylan Givens, protagonista, tem uma noção muito peculiar de justiça e fica numa corda bamba entre ser o policial descolado que usa as próprias mãos e o investigador fissurado que não consegue deixar um crime para trás. Ele funciona mal nos dois papéis e, na verdade, está pendurado embaixo da corda bamba, não se segurando em cima dela.
Outro ponto negativo do livro é que o enredo parece não ter começo, meio e fim. É como se o autor tivesse escolhido um período da vida do personagem para retratar. Isso porque os acontecimentos vão se desenrolando, sendo finalizados e outros são iniciados indefinidamente. Não há um plot principal na narrativa. O final é simplesmente sem sentido, como se fosse uma parte descolada de outro enredo. O livro parece somente dar voltas em torno de seu personagem principal.
Raylan é uma obra que, enfim, não proporciona uma boa experiência em nenhum sentido. Se o objetivo era circundar o protagonista, o problema foi que Raylan Givens não é um tipo que dá vontade de observar. Se o objetivo não era esse, bem, foi exatamente isso o que o autor fez, o problema, então, está aí. Elmore Leonard não desenvolveu uma boa escrita neste livro e não conseguiu acertar nos personagens. Se Raylan for o primeiro contato do leitor com os textos de Leonard, é quase seguro que será também o último.
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