Roberto Ramos 11/04/2022
A ILHA MISTERIOSA
Não é à toa que Verne é considerado um dos pais da ficção científica. Escritor a frente do seu tempo, mescla histórias de aventura científica, e nesse caso, robinsonadas - como é rotulado o gênero literário deste em específico -, com sacadas fora da caixinha para época: Aqui temos náufragos do ar, não dos mares. Outra coisa que esse tal Verme já fazia em suas obras é algo bem comum hoje no MCU da Marvel. E mesmo sendo considerado um livro juvenil, o autor coloca no cerne da obra indagações das mais importantes, e todo leitor ao fim da aventura vai parar por algum momento se indagando, e faz isso sem sacrifica a ação e a emoção da trama.
Antes de continuar, precisamos ter em mente que esse livro foi escrito para leitores de outra época e por isso com uma visão de mundo um tanto distante da nossa. Atento a esse ponto passamos a assimilar e aproveitar muito mais da história.
Temos cinco náufragos do ar que, desprovidos de tudo, caem em uma ilha deserta do Pacífico Sul. Fazendo um paralelo com a evolução da civilização refazem seus passos: da pré-história aos tempos modernos, do fogo a nitroglicerina, cerâmica, e até mesmo um telegraço. Tem um embasamento científico e acadêmico interessantíssimos. Lembrei de muita coisa da escola: Física, química, naturalismo, etc. Com habilidades variadas os nossos heróis subjugam a natureza a seu desejo, a mesma se submete silenciosa.
Podemos assimilar a visão, valores e preconceitos do tempo que o livro foi publicado. Temos a divisão de classe, a questão da abolição, o braço forte da civilização para com a natureza. E o fato de não ter um personagem feminino no livro, não referenciado mas personagem ativo no enredo.
É um livro gostoso de ler, e devia ser muito mais à época de lançamento, por isso é um sucesso desde. Às vezes a exaltação do protagonista beira um excesso exacerbado que só fui entender, no meu ponto de vista, fazendo um paralelo deste, o protagonista, com a ciência e colocando o mesmo em sua época. Assim entendemos que, tanto antes como agora, o ser humano tem uma idolatria fervorosa que a ciência vai resolver todas as mazelas do mundo.
Diante do paralelismo da obra há um vislumbre de Jules Verne, mesmo que efêmero, espectral. Alguns ousam dizer ser uma profecia, uma visão do futuro da humanidade. De como o grito daquela que, subjugada, até aqui silenciosa, vai rugir sua ira e engolir a ganância de todos os algozes que a dominam. Eu, tu e eles. Com habilidades variadas os nossos heróis subjugam a natureza a seu desejo, a mesma se submete silenciosa.
A dizer dos personagens, o que mais gostei foi sem dúvida o marujo Pencroff. Quase crível, real. O coração do grupo. Espontâneo, sincero, expansivo, ingênuo e fervoroso. Com sua espontaneidade e irreverência ingênua me diverti por toda a aventura com essa figura.
Essa é a segunda obra que leio do autor que me parece tem uma certa dificuldade com cronologia, não que isso diminui a obra, mas que é chato é. Nesse livro em especial, talvez pela extensão, as datações dos fatos são bem incorretas, o que ajuda é que essa edição da ZAHAR, tem muitos comentários e orientações sobre essas incoerências e outras. Ainda sobre a edição, outro ponto negativo, foi a quantidade de erros ortográficos bobos onde uma passada de olho mais atento seria suficiente para polir. Agora, é claro, que nada disso tira a beleza da aventura proposta.
- Morro por ter acreditado que era possível viver sozinho. -
PS: Vide o vídeo que coloquei aqui, porém contém SPOILERS, esteja avisado.
site: https://www.youtube.com/watch?v=ae7gZtXw5wQ