Valéria Cristina 18/05/2022
Imprescindível
Patrícia Melo Neschling é uma escritora, roteirista, dramaturga e artista plástica brasileira, aclamada como uma das principais vozes contemporâneas da literatura no Brasil. Seus livros costumam ser associados ao gênero policial, embora a autora rejeite o rótulo, preferindo classificá-los como ficção urbana. Em 2001, ganhou o Prêmio Jabuti de Literatura por este seu trabalho em Inferno.
A história se desenvolve no morro do Berimbau e dos Marrecos, no Rio de Janeiro. Em meio à falta de estrutura, desorganização social, violência doméstica, famílias disfuncionais, ignorância, truculência policial, dependência, guerra entre grupos rivais, drogas e tráfico, cresce o menino José Luís dos Reis, o Reizinho. 11 anos no início da história.
Filho de uma empregada doméstica que o espanca na infância e de um pai alcoólatra que desapareceu, Reizinho vislumbra uma vida melhor e sonha em sair da situação em que se encontra. No tráfico, ele vê essa oportunidade e elege como referência masculina os chefes dos morros. Seu sonho é tornar-se um líder também e o livro narra essa ascensão.
Além do cotidiano do protagonista imerso em tiroteios e mortes, vê-se personagens como Leitor, Carolaine, Marta, Onofre, Fake, Kelly e outros que colorem e dinamizam a narrativa.
A discrepância entre morro e asfalto, a descriminalização das drogas, a corrupção policial e nos presídios, a ausência do Estado nas comunidades, a incapacidade governamental de lidar com o tráfico, o financiamento de serviços públicos com dinheiro do tráfico de entorpecentes, o fanatismo religioso e a exploração da fé são alguns dos temas discutidos no livro.
Uma realidade cruel, narrada de forma contundente e direta. Um livro para não esquecer.