Filino 27/12/2018
A continuação de uma obra indispensável
Continuando as reflexões do volume anterior, Norbert Elias trata, nesta obra, do modo como se deu o processo de civilização. Não que isso tenha sido previamente desejado ou que haja, por trás dele, uma teleologia; ou ainda, a civilização não é algo que se deu ao acaso. Mas é inegável que se trata de algo surgido em determinadas condições e até em resposta a elas.
Na primeira parte de sua obra, o autor recorre à narrativa histórica, boa parte dela após Carlos Magno e com grande ênfase no feudalismo. A dinastia dos Capetos, na França, ocupa lugar de destaque (posto que a França seria um bom modelo para se compreender o processo acima). Mas os Habsburgos e a Inglaterra não são olvidados. Por vezes, nessa parte da obra, o leitor pode se sentir até um pouco desnorteado, tamanha a massa de informações históricas fornecida pelo autor. Isso, contudo, ilustra muito bem a situação de poderes pulverizados e o processo de aglutinação cada vez maior que perpassa a história, que culmina na concentração do poder em poucas mãos (ou num monopólio).
A partir da concentração do poder e do monopólio da tributação, típicos do Estado absolutista, uma nova configuração se segue: os cavaleiros se veem forçados a fazer parte da sociedade de corte, ao tempo em que a burguesia também mostra o seu poder e a nobreza, por seu turno, tenta preservar o próprio status. No meio disso, o rei tem que garantir o próprio poder para que não seja suplantado pela nobreza ou pela burguesia.
Nesse novo estado de coisas, há uma diferenciação cada vez maior nas relações sociais, que se tornam mais complexas. Doravante os homens, caso queiram granjear novas posições ou mesmo manter as que já possuem, devem ser menos impulsivos e tratar os seus semelhantes (ao menos os de sua classe) de um modo diferente, mais polido (e até [dis]simulado). Elias trata das relações entre os membros de uma mesma classe e os de classes diferentes, inclusive no aspecto psicológico, de um modo bastante interessante. Ao final, o autor arrisca-se a traçar um paralelo com a época em que vivia (primeira metade do século XX).
Trata-se de uma obra indispensável para historiadores, sociólogos, filósofos e qualquer um que se interessa não apenas por um bom relato histórico, mas também por uma instigante investigação sobre o comportamento humano. Uma verdadeira joia.