Gabriel Aleksander 28/11/2016Lionel Shriver e a sua representação crua da realidadeA Sinopse
Pandora é uma empresária que deslanchou no mundo dos negócios com a inovadora empreitada de produzir bonecos personalizados que falam um conjunto de frases típicas de alguém, com o intuito de mostrar o pior lado das pessoas, trazendo um humor ácido para a vida de seus clientes que gostariam de passar uma mensagem específica de maneira descontraída.
Tudo estava caminhando normalmente, tanto em seu casamento (que já não era dos melhores) quanto na sua carreira, até que uma ligação inesperada traz a notícia que Edison, irmão de Pandora e grande músico de jazz, estava com dificuldades financeiras e precisava de ajuda por não ter onde morar. Sendo assim, a empresária decide acolher seu irmão em casa durante um período de 2 meses, sem ao menos ter noção da dimensão do caos na vida do mesmo.
Ao se deparar com Edison no aeroporto, Pandora, descobrirá que a imagem do homem que ela conhecia não é a mesma, pois, com mais de cem quilos acima do peso o que antes era familiar tornou-se desconhecido e esse impacto trará pra vida dessa família uma nova dinâmica que irá transformar tudo o que era comum e colocará em destaque todos os fantasmas que pairam sobre essas pessoas.
Um meio para um fim
Ao tratar de um tema marginalizado e que não é discutido de maneira responsável, a autora trouxe para si uma responsabilidade com a qual eu sinto que ela não soube lidar com o decorrer das páginas. Ao iniciar sua narrativa, Shriver trouxe a perspectiva de alguém sobre o corpo obeso, permitindo que o leitor se colocasse no lugar de narrador da história e enfrentasse de frente as crenças errôneas que são alimentadas constantemente por uma sociedade regida pelos padrões de beleza.
Contudo, essa foi uma missão que foi se esvaindo com o desenvolver da história que, ao ser divida em três partes, permitiu-se modificar seus objetivos no meio do caminho, deixando a questão da obesidade aberta e falhando no objetivo de desconstruir os preconceitos e representar a minoria que ela põe em cheque na construção de seu enredo, fixando a impressão de que aqui , a obesidade foi apenas usada para causar um desconforto e servir como ponto de ignição para o desenvolvimento pessoal dos personagens, deixando a pauta da forma como nós não acolhemos esses indivíduos e proporcionamos a manutenção das violências direcionadas a pessoas que não se encaixam no modelo de corpo que é comercial em aberto.
Lionel Shriver e a sua representação crua da realidade
Uma coisa pela qual a autora do aclamado “Precisamos Falar Sobre o Kevin” é conhecida é sua habilidade excepcional em retratar temas diários de uma forma envolvente e que leve o leitor a refletir durante dias sobre a mensagem que ela trouxe. Em “Grande Irmão”, somos expostos a temas que circundam a vida de uma personagem que possui laços familiares que são estabelecidos de maneira corrosiva e como isso afeta diretamente na sua vida, levando o leitor a possivelmente enfrentar seus próprios fantasmas, o que só é intensificado com a maneira crua com a qual esses fatos são mostrados durante a narrativa.
É inegável que essa capacidade de tocar diretamente nas nossas feridas acarreta pontos positivos para as obras da autora que sempre se mostram investimentos válidos a se fazer.
Opinião Final
Apesar das ressalvas que esse livro me levou a fazer, não posso negar que as reflexões que ele me gerou foram extremamente construtivas, a ponto de me deixar horas na frente do computador até definir com que nota eu classificaria o mesmo.
A temática da obesidade ainda não foi abordada de uma maneira correta, porém, o livro coloca em discussão essa realidade que é tão pouco falada, mas que precisa ser posta em pauta para que a marginalização dessas pessoas chegue ao fim.
O importante a se pensar é que os transtornos alimentares estão ligados a fatores emocionais, sociais e psíquicos. Não tratar essas pessoas com retaliação e acolhê-las é tratar o outro com humanização, uma tarefa que deveria ser comum a todas as pessoas.
site:
fatalityliterario.wordpress.com/