Richard Matheson está entre a lista de autores muito elogiados e comentados, que por algum motivo impossível de entender nunca consegui ler. Ou porque nunca encontrei disponível quando procurei online ou porque o lançamento não foi muito chamativo. Seu sucesso mais conhecido, Eu Sou A Lenda, virou filme de Hollywood e agora a Bertrand traz um de seus últimos livros antes de falecer para o Brasil. Outros Reinos é uma história diferente do que eu esperava. Um relato intrigante, belo, mas que poderia ter sido algo mais do que foi.
Com 82 anos vividos, alguns livros lançados sob o pseudônimo Andrew Black e uma memória que começa a falhar, Alex White resolve contar algo que lhe aconteceu 64 anos atrás em um pequeno vilarejo em algum lugar no norte da Inglaterra. O ano era 1918, e com 18 anos o jovem Alex White acabou de ser dispensado do exército. Depois de servir na Primeira Guerra e viver dias terríveis em trincheiras horrorosas, Alex não se sente mais tão jovem. A melhor coisa que lhe aconteceu foi conhecer Harold Lightfoot, um rapaz diferente, de humor único e que lhe fez um último pedido: ir a Gatford, sua cidade natal. Alex nem sabe porque resolveu ir atrás da cidadezinha, mas sem vontade de encarar o pai ditatorial, ele chega na pequena aldeia. Um lugar pequeno, cercado por uma floresta antiga, com casas ainda de pedra e poucos habitantes. Alex vende a pepita de ouro que Harold lhe deu e aluga uma cabana que mais parece um bunker. Apesar dos avisos de Joe, o cara enviado para consertar a cabana, Alex arrisca a entrar na floresta e o que encontrou lá mudou toda sua vida. Lá Alex conheceu, Magda que todos chamavam de bruxa, e também teve contato com misteriosos seres que nunca sonhara existir, encontrou traição, mentiras, amor e felicidade.
A história se desenvolve a partir desse ponto e em forma de relato descobrimos o que Alex encontrou nas florestas de Gatford. A narrativa é marcada por comentários irônicos e mal-humorados de Alex. Enquanto nos leva ao seu passado ele comenta amargamente aqui e ali algumas passagens, além de sempre desdenhar do fato de ter se tornado um escritor de romance, horror paranormal. Sempre criticando sua maior série e rindo de seus erros no passado. Esse tom no começo me irritou. A ironia dele acerca de seu pai e de tudo me soou desnecessária ali nos capítulos iniciais, mas à medida que vamos acompanhando sua história esses comentários começaram a fazer mais sentido e até que renderam bons momentos.
Se por um lado é uma narrativa direta por outro o autor nos deixa cego sobre o que vai acontecer. Você passa capítulo a capítulo curioso para saber o que vai vir, e o que vai acontecer com Alex. Uma pista ali e uma dica aqui, mas apenas quando o livro se encaminhava para o final é que percebi a ideia geral do livro. A ambientação é um ponto que chama atenção, a floresta é belíssima e o protagonista deixa isso claro assim como fica visível a pesquisa que Matheson fez sobre as lendas, folclore e cultura por trás dos seres que ele utilizou na história. Alex é ora ótimo, ora irritante. O ponto do livro não é a fantasia ou o horror, é um relato, de uma história, acreditem ou não, de amor. Um amor impossível de se acreditar, mas que Alex viveu.
Leitura que flui em um ritmo todo próprio, se você for com muita pressa não irá apreciar a história de Alex. O autor tem um modo todo próprio de nos contar as experiências que Alex viveu e a despeito dos comentários irritantes do protagonista em diversos momentos me vi afeiçoada ao personagem ao final da história. Não é uma história que todo mundo vá apreciar, mas é rica e interessante ao seu modo. A edição da (...)
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