Karla Samira @pacoteliterario 09/11/2016Anjos do universoMe deparei com uma biografia de Pálmi Örn, escrita por seu irmão, o renomado autor islandês Einar Már Gudmundsson. Como podem perceber, o título inicialmente não retrata exatamente o teor da história, mas, durante a leitura, o motivo do título fica claro.
O autor narra, em primeira pessoa, a biografia do irmão, a quem chama carinhosamente de Páll. É um narrador já falecido, tendo em vista que a homenagem do autor ao irmão, através desse livro, foi feita posteriormente à sua morte.
Einar conta a vida de seu irmão desde o início, ou seja, do nascimento de Páll, um dia histórico para a Islândia, onde ocorriam protestos da população para decidir se o país deveria ou não entrar na OTAN.
Páll é esquizofrênico e, desde muito jovem, dá demonstrações de sua doença em várias passagens do livro. É interessante perceber a proximidade entre os dois irmãos, de forma que a narrativa é muito leve e natural, típica de quando um irmão vê o outro fazer ou falar algo.
No livro, o autor acompanha todos os problemas e a evolução da doença de Páll e nos conta várias situações e circunstâncias que culminam na sua internação em um hospital psiquiátrico.
A esquizofrenia é uma doença na qual a pessoa intercala momentos de lucidez com outros de delírios e alucinações e, no livro, temos as duas faces desse grande universo que é a mente humana, pelo olhar de Páll.
De forma muitas vezes desconexa e fora de uma sequência temporal, sendo fiel ao modo de pensar de Páll, o leitor tem acesso aos pensamentos de uma pessoa esquizofrênica a respeito de tudo: da vida, das relações familiares, dos amigos, das pessoas famosas e dos profissionais que lhe cuidam, dentre outros assuntos.
Através dessa história, também conhecemos bastante da cultura islandesa, seus costumes, a forma como lidam com as dificuldades e com a política.
O livro não é apenas uma narrativa triste da esquizofrenia. Einar consegue abordar, de forma leve, vários aspectos da doença e, ao mesmo tempo, transmitir uma grande crítica de como a sociedade em geral (inclusive a própria família) erra na exclusão e na incompreensão das pessoas que sofrem com esse problema.
A capa é bem interessante e, em minha opinião, é uma analogia entre o pensamento do esquizofrênico e o título do livro.
Recomendo a leitura a quem gosta de livros nesse estilo, onde o leitor tem acesso às partes mais escondidas da mente humana.
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