Gahcardozo 06/07/2016
Hipertexto, construção em conjunto e antiromance: o jogo de criança que alterou o curso de um gênero que pedia por reinvenção.
Respirei fundo, durante muito tempo, antes de encarar essa leitura.
Será que é possível lê-la sem ter nas costas o peso de um clássico que influenciou o gênero do romance, e representa até hoje muito bem a literatura latino americana?
Comecei pelas beiradas. Meu primeiro contato com Cortázar havia sido em seus contos, mais especificamente, na reunião incrível deles em "O Bestiário". Seu realismo fantástico já me mostrara que a originalidade andava junto de um surrealismo sutil, como vemos em "Casa tomada", que além de tudo traz traços dignos de Allan Poe.
No entanto, "O jogo da Amarelinha" consegue ir além. Enquanto história, deliciei-me com momentos que foram do humor a conversas existenciais sobre tudo, e sobre nada: Horário, Maga e o Clube da Serpente, convidam o leitor para construírem a história em conjunto, visto que o livro oferece duas formas de ser lido - uma indicada pelo autor, e outra sequencial.
Em suma, o que me chamou atenção foi execução da hipertextualidade na obra. Não sou dotado de muitos conhecimentos no campo da literatura, no entanto, basta que nos aventuremos em saltos pelo jogo proposto por Júlio para que viajemos pelo destino dos personagens, até colagens, citações e capítulos ironicamente chamados de "prescindíveis".
Ora, nada aqui é prescindível, diria eu. Enquanto romance, consideraria uma obra completa, mas enquanto metáfora da modernidade e suas redes de conexões, auto-reflexões e novos caminhos a serem seguidos, definiria que, para todo aquele que procura grandes clássicos na europa, a América Latina não deve ser esquecida, pois traz autores e obras, como esta, que, sem dúvida, entraram para a história.