Raphael 27/06/2021Rezan Asla, escritor e especialista em assuntos religiosos nos apresenta, aqui, sua versão para a biografia do Jesus histórico. Para isso, ele faz uma reconstrução da situação político-religiosa da Palestina do século I, monstrando o contexto social turbulento em que Jesus nasceu, viveu e, por fim, foi morto. Os judeus que viviam na Palestina, nesta época, estavam submetidos politicamente ao império romano. Havia diversos grupos insurgentes contra o regime estabelecido, dentre eles os denominados “Zelotas”, daí o título do livro, pois o autor sugere que Jesus foi um Zelota, ou seja, pertenceu a este partido revolucionário judeu do século I que insurgiu-se contra o império romano utilizando violência.
Prossegue, o autor, dizendo sobre a dificuldade em reunir informações sobre o Jesus históricos for a dos evangelhos. Aduz o seguinte: “Há apenas dois fatos históricos efetivos sobre Jesus nos quais podemos realmente confiar: o primeiro é que Jesus foi um judeu que liderou um movimento popular judaico na Palestina do século I; o segundo é que Roma o crucificou por isso”.
A crucificação, nesse sentido, diz muito sobre quem Jesus foi em vida. A imagem dele na cruz lança dúvidas sobre a interpretação dos evangelhos de Jesus como um homem de paz incondicional quase totalmente isolado das convulsões políticas de seu tempo. O trabalho dos cristãos do século primeiro - Paulo, notadamente - foi justamente desvincular Jesus da imagem de um judeu revolucionário e transformá-lo em um líder espiritual pacífico sem nenhum interesse terreno.
Nesse sentido, o autor apresenta as sérias divergências estabelecidas entre Paulo e os apóstolos, sobretudo Tiago, pois estes, diferente daquele, defendiam o vínculo de Jesus com o judaísmo e a necessidade de observar preceitos judaícos conforme o próprio Jesus ensinava. Paulo, por sua vez, sustentou posições doutrinárias diversas sendo que a mais notável delas foi a de que a salvação decorria apenas da aceitação de Jesus como messias salvador, não havendo mais a necessidade de submeter-se aos preceitos e ritos judaicos da época como a circuncisão, por exemplo.
Assim, com a doutrina de Paulo e a criação do cristianismo, tentou-se apagar o líder judeu revolucionário e nacionalista para criar uma imagem mais universal da figura de Jesus. Um messias universal e transcendente poderia ser aceito inclusive pelo império romano. O triunfo do cristianismo decorreu daí.