Jesnner 16/07/2024
Filho de uma pisadela e de um beliscão
Único romance da carreira de Manuel Antônio de Almeida, Memória de um sargento de milícias é um grande retrato da sociedade brasileira do século dezenove, formada por diversas inconstâncias e hipocrisias, banhada pelo descaso e malandragem das autoridades.
A narrativa é conduzida por um excelente narrador onisciente, que trafega pelos núcleos ? confusos ? da história. Começo pelo narrador porque esse é o ponto alto de toda a obra. Na realidade, é a ironia realista do narrador que faz com que toda a história não caia em um lugar enfadonho e chato.
A origem de Leonardo, menino desde pequeno bagunceiro, é dissecada através dos momentos perturbadores conferidos pelos pais da criança. Na adolescência, o menino se mete em cada vez mais encrencas, chegando à vida adulta como um completo vagabundo.
Leonardo encontra no exército o seu ofício e, através da figura do Major, conhecemos o quão ardiloso e hipócrita o ser humano pode ser, pendendo a escolher o que o beneficia sempre, enquanto finge agir com o rigor da lei.
No fim das contas, a obra tem bons momentos, cenas pitorescas, personagens caricatas e é isso aí. Não posso dizer que a história me prendeu, nem que andou; a sensação que fica é a de ler muitos capítulos iguais, com novos nomes jogados e sem muito desenvolvimento. Em diversos momentos, não pude deixar de compará-la ao bom "Triste fim de Policarpo Quaresma", que, em meu gosto, se sobressai pelo enredo mais amarradinho e pontas menos soltas.
Gosto do trabalho de documentação da origem da burocracia e do jeitinho brasileiro, a gente percebe que, muito do que sofremos hoje em nosso país tem uma origem secular. Gostaria de ver mais um pouco de desenvolvimento em algumas cenas e de ter mais desdobramentos em algumas ações.