Rodrigo Arlindo 07/04/2024O que resta dizer sobre “Fausto”? Provavelmente nada. Muitos escreveram sobre, analisaram criticamente a obra e nela se inspiraram para escrever suas próprias histórias. Cabe somente compartilhar reflexões pessoais. Deixo aqui as minhas.
Uma mudança de paradigma social: vejo “Fausto” como algo tragicômico, uma pantomima sobre a transição do mundo teocrático para o mundo burguês e prático, onde o conhecimento e o dinheiro substituem o “direito divino” na determinação de quem detém o poder. O “tom” dos diálogos, assim como a sucessão de périplos da dupla de personagens principais, remete ao cômico, pois trata-se de rir não da ciência ou da religião, mas da incapacidade do homem de enxergar verdades absolutas. Ou seja, vejo essa obra como uma “epopeia” bem-humorada sobre as limitações da humanidade em suas tentativas de compreender a existência. Como exemplo disso posso citar o capítulo “Sonho da Noite de Valpúrgis”, que para mim é muito representativo da comicidade das “buscas pela verdade” na obra, pois, nele surgem personagens de diversos arquétipos e classes, numa “celebração” onde estão envoltos num caos de intenções, pretensões, emoções e percepções de realidade, culminando numa cena inconclusiva, onde ninguém detém verdade absoluta alguma.