SamellaFonseca 22/05/2016Resenha exclusiva para o blog SammySacional
Sabe aquele tipo de leitura que chega para você de forma repentina, apesar da vontade de lê-la já ser um pouco antiga, e por mais que você imagine que ela será bem despretensiosa, acaba por se surpreender com a intensidade e naturalidade da trama e dos seus personagens? Pois é, foi assim que a leitura de Super Desapegada concluiu-se para mim, a história que antes eu imaginava ser apenas mais um clichê romântico do casal que aparentemente não se dá bem mas se gosta apesar de tudo, migrando para uma narrativa leve e descontraída sobre o amor na fase adulta, que trata sobre desapegar do que não existe ou não nos faz bem e sobre o quão importante são as poucas, mas sinceras, boas amizades que cultivamos ao longo da vida.
Na internet, Raquel é uma blogueira super famosa conhecida por todas os conselhos e debates intensos sobre desapego, mas na vida real, ela é uma mulher adulta que em pleno aniversário de 30 anos planeja declarar-se, enfim, para o seu melhor amigo, Alan, com quem tem uma amizade antiga e forte desde os quinze anos de idade. Durante a comemoração, porém, é com surpresa que ela o descobre noivo de uma das colegas da infância, não tão presente na turma com a qual Raquel convivera, mas agora responsável por conquistar Alan. Desesperada por provar ao rapaz que ela é quem é sua alma-gêmea, Raquel acaba por unir forças com Eric, então irmão da noiva e tão insatisfeito com esse casamento iminente quanto ela. O único problema é que rever aquele que fora um dos garotos mais levados e arteiros da infância, com quem não tem memórias tão boas assim, acaba por se mostrar uma verdadeira confusão quando os sentimentos passam a confundir-se dentro dela, levando-a a questionar-se sobre tudo o que tem vivido e quer para si a partir de então.
“Entenda: vontade de ‘beijar na boca’ ou ‘medo de ficar sozinha’ não é amor. São coisas bem distintas! Não confunda, saiba perceber a diferença. Não pense que estar solteira é o fim do mundo, muitas mulheres são felizes sozinhas. A felicidade não vem acompanhada, ou se é feliz ou não se é. Aprenda a não aceitar migalhas. Você não é uma pombinha de praça. Valorize-se!”
Já de início começamos a leitura com um prólogo apresentando o momento exato em que Raquel e Alan firmaram sua então amizade, durante um pequeno acidente na festa de quinze anos da garota que sujou seu vestido de bolo, seguindo, então, para o primeiro capítulo com um post inédito no blog Super Desapegada, em mais um de seus momentos ativos e determinados, pouco antes de ir para o trabalho numa agência de publicidade. Desde então, seus primeiros momentos como a mulher de recém-completados trinta anos que ela é na trama apresentam uma personagem de atitude, bem resolvida com a própria vida e inclusive sua idade, que espera apenas alcançar seu tão sonhado romance com Alan para se sentir-se completa. Os planos do rapaz, porém, são outros, e ao longo da história, apesar da narrativa em terceira pessoa, vamos nos envolvendo e até mesmo apegando-nos à protagonista, por entre seus altos e baixos rumo à interromper o casamento do amigo sem ele saber.
“Apaixonar-se pode mudar você. Ou te revelar, ainda não tenho certeza. O fato é que você passa a agir de forma totalmente diferente e a tomar decisões que, em tempos normais, jamais tomaria. Virei uma vilã. E não me orgulho disso.”
Confesso que fiquei inicialmente reticente à medida que o plano de Raquel, em parceria com Eric, se desdobrava e as coisas começavam a acontecer, mas ao mesmo tempo a carreira profissional da personagem se vê prestes a ascender ainda mais, ao ficar responsável por uma convenção de games tão grande e importante quanto a Crazy Games. O problema, nesse meio tempo, de certa forma, é que ela não irá passar por isso tão sozinha quanto ela imaginava. Como dono de uma das empresas a participar do evento, Eric acaba por precisar manter mais contato do que o esperado com a garota com quem não tivera uma boa relação quando mais novos, o que acabará por desencadear uma verdadeira confusão nos sentimentos neles, principalmente em Raquel. Porque, querendo ou não, apesar da postura de 'desapegada' nos textos do blog e da determinação e agilidade no âmbito profissional, por trás das más intenções do plano de acabar com o casamento de Alan, são notáveis as inseguranças da personagem com relação ao amor como um todo, ao mesmo tempo em que, porém, ela também se dá, aos poucos, a chance de amadurecer de verdade e seguir os próprios conselhos tão elogiados pelas leitores de seu blog, por mais que isso possa destruir o conto de fadas com o qual ela tanto sonhou.
“Se tinha algo que aprendera com seu blog é que no coração ninguém manda.”
Por causa disso, eu acabei por me surpreender muito com a personagem e por acabar simpatizando tanto com ela ao longo da leitura. Raquel é tão humana e a forma como suas ideias vão mudando e amadurecendo mais - mesmo já com seus trinta anos, mas a gente nunca deixa de aprender com nossos erros nessa vida, isso é fato -, conquistando a confiança do leitor no decorrer disso, assim como também dos demais personagens da trama. Estes, por sua vez, também desempenharam seus papéis lindamente na história, cada um a seu modo. Gabriela e Ian, colegas de trabalho de Raquel, que me cativaram e divertiram à beça mesmo nas poucas cenas em que apareciam, ele mais ainda pela forma sincera e direta com que tenta ajudar Raquel a superar a situação, bem como Alan e Bianca, os então noivos do pedaço, que da mesma forma já estavam envolvidos na vida de Raquel, mas que se firmam ainda mais com uma relação que, já nas últimas páginas, arrancou-me lágrimas de emoção e alegria, de verdade! O único que me deixa um pouco indecisa - mas só um pouco, rs - é Eric, por ser tão apresentado como um garoto levado na adolescência que evoluiu para um homem mulherengo e desleixado, que mais se provou, na verdade, para mim, como alguém que andava tão inseguro e perdido, de certa forma, no âmbito amoroso, assim como nossa protagonista. Ainda assim, cativou-me demais, por apresentar-se não apenas como um amor em potencial, mas até mesmo como alguém atencioso e responsável, principalmente quando em relação a sua própria família.
Assim, Super Desapegada concluiu-se para mim como um chick-lit nacional deliciosamente divertido e envolvente escrito por Jaqueline de Marco, com personagens igualmente carismáticos que poderiam ser muitos dos adultos que conhecemos na vida real. É definitivamente um romance a se indicar quando se quer algo visivelmente despretensioso que, no entanto, tem seu toque especial na hora de envolver e prender o leitor à leitura de tal forma que a vontade de parar mesmo é só quando se terminar o livro - com um visível gostinho de quero mais, ainda assim, após as despedidas desse elenco de personagens que muito me cativou. Recomendadíssimo!
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http://sammysacional.blogspot.com.br/2016/05/Resenha-SuperDesapegada.html