Pattr_ 19/04/2023
Olha que onda boa para surfar!
Eu sempre achei insuficiente a atenção que as pessoas dão hoje em dia à arte brasileira do passado. Seja qual for o espectro da arte, a popular, a folclórica, a erudita; o brasileiro parece ter um dom de esquecer os próprios ídolos, ignorar gerações inteiras de excepcionais artistas, se não pelo capricho de estar socialmente adequado ao consumo da arte, talvez pela mera preguiça de não tê-la em mãos tão diretamente.
A Bossa Nova, quando por mim descoberta, causou-me uma revolução, pois a partir dela me foi possível conhecer uma totalidade de gêneros e estilos, tão ricamente explorados, e com tanto escopo para inspiração, que eu não poderia achar que ela fazia parte desse esquecimento, mas faz. Quando escrito, "A onda que se ergueu no mar" citava com esperança o revival que o gênero parecia estar passando nos anos 90...mas que não se adequou, infelizmente, ao século XXI.
Esse livro é um presente aos que conseguem se emocionar ainda com o cancioneiro de Tom, João, Vinicius e Alf. Os fatos nele discorridos, que não apenas remetem ao período bossanovístico, ajudam a costurar a malha da MPB com retalhos desconhecidos para os apreciadores em geral. É como se a linha do tempo da nossa música popular fizesse total sentido, e ainda repleto do bom humor e da sinceridade que só vemos em Ruy Castro, no tratar de assuntos delicados como o fracasso e a negligência.
Hoje eu compreendo que o resgate da cultura do passado é essencial para que nós possamos compreender a cultura do presente, e saber também que há muita poesia oculta nos meandros da arte popular. Nós apenas temos que escavar um pouco o solo para encontrar o ouro.
Se me permitem dizer, eu, que nunca fui à praia, desfrutei desta onda como um surfista profissional!