Lista de Livros 10/03/2021
Lista de Livros: Os Limites do Capital, de David Harvey
Parte I:
“As dificuldades são em parte ideológicas. A aceitação disseminada dos benefícios a serem atingidos pelo individualismo e as liberdades que um livre mercado supostamente confere, assim como a aceitação da responsabilidade pessoal pelo próprio bem-estar, constituem, em conjunto, uma séria barreira ideológica para a criação de solidariedades nas lutas. Elas apontam para modos de oposição baseados nos direitos humanos e em associações voluntárias (como as ONGs), em detrimento de solidariedades sociais, partidos políticos e a tomada do poder estatal. Por isso, há uma percepção de que todos temos de ser neoliberais. Mas as formas mais tradicionais de luta são difíceis de articular, dada a incrível volatilidade do capitalismo contemporâneo, a evidente diminuição da soberania dos Estados individuais sobre suas questões econômicas e a redefinição da ação do Estado em torno da necessidade de cultivar um bom clima de negócios para atrair o investimento. Por isso, é cada vez mais difícil identificar o inimigo e onde ele está.”
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Parte II:
“O que diferencia Marx da economia política burguesa (tanto antes quanto a partir dela) é a ênfase que ele coloca na necessidade de saídas do equilíbrio e o papel fundamental das crises na restauração desse equilíbrio. Os antagonismos incorporados dentro do modo de produção capitalista são tais que o sistema está sendo constantemente obrigado a se distanciar de um estado de equilíbrio. No curso normal dos acontecimentos, insiste Marx, um equilíbrio só pode ser alcançado por acidente. Assim, ele inverte a proposição ricardiana de que o desequilíbrio é acidental e procura identificar as forças internas ao capitalismo que geram desequilíbrio. Mas, para fazer isso, Marx tem de gerar conceitos de equilíbrio adequados para tal tarefa. E é exatamente por essa razão que ele achou necessário ir além da aparência superficial da demanda e da oferta e até mesmo das caracterizações da produção e do consumo para articular uma teoria do valor apropriada ao seu propósito. Só depois que a teoria do valor fizer o seu trabalho podemos voltar às questões da oferta e da demanda e da produção e do consumo para explorá-las em detalhes. Enquanto isso, o centro da atenção se desloca para aquele da produção e da realização do mais-valor como capital – pois, afinal, é realmente nisso que se resume o modo de produção capitalista.”
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Parte III:
“Em virtude do seu controle sobre os meios de produção, os capitalistas também podem apropriar o poder social inerente ao dinheiro e colocá-lo para trabalhar como capital monetário, e assim produzir mais-valor mediante a produção. A lógica da circulação geral do capital os obriga a criar novos instrumentos financeiros e um sistema de crédito sofisticado que impulsiona o dinheiro e o capital que rende juros para um papel proeminente em relação à acumulação. Mas o poder coercivo da competição obriga os capitalistas, como agentes econômicos individuais, a abusar desse sistema e desse modo corroer o poder social do próprio dinheiro: a moeda pode ser desvalorizada, ocorre inflação crônica, crises monetárias são criadas etc. Constata-se que o seu uso do dinheiro como um meio de circulação através da ação do sistema de crédito solapa a utilidade do dinheiro como uma medida e uma reserva de valor. Então devem ser tomadas medidas para preservar a qualidade do dinheiro. Tornam-se necessários controles monetários rígidos e severos. Esses controles surgem no decorrer de uma crise quando os capitalistas se apressam em segurar a mercadoria-dinheiro (o ouro, por exemplo) como a única representação legítima do valor, ou então são impostos como parte de uma política consciente por parte de uma autoridade monetária poderosa que opera como um braço do Estado. Nas últimas circunstâncias, a política da estratégia monetária, como é seguida pelo Estado, torna-se crucial para o entendimento da dinâmica da acumulação do capital. Entretanto, sejam quais forem as circunstâncias, a tendência para o excesso no reino das finanças é fundamentalmente assinalada por um retorno às eternas verdades da base monetária.”
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Parte IV:
“O dinheiro é o poder social encarnado.”
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“Os marxistas, desde a primeira vez que Rosa Luxemburgo escreveu sobre o assunto, há muito vinham sendo atraídos pela ideia dos gastos militares como um meio conveniente para absorver os excedentes de capital e da força de trabalho. A obsolescência instantânea dos equipamentos militares e a fácil manipulação das tensões internacionais em uma demanda política pelo aumento nos gastos da defesa adicionam brilho à ideia. Acredita-se por vezes que o capitalismo é estabilizado mediante o orçamento da defesa, embora privando a sociedade de programas mais humanos e socialmente meritórios. Infelizmente, essa linha de pensamento é traçada segundo o molde subconsumista. Eu digo “infelizmente”, não tanto porque essa interpretação esteja errada, mas porque a presente teoria sugere uma interpretação mais sinistra e aterrorizante dos gastos militares: as armas não apenas devem ser compradas e pagas pelos excedentes de capital e trabalho, mas devem ser postas em uso. Pois esse é o único meio que o capitalismo tem à sua disposição para conseguir os níveis de desvalorização agora requeridos. A ideia é apavorante em suas implicações. Que melhor razão poderia haver para se declarar que chegou a hora de o capitalismo desaparecer para abrir caminho a algum modo de produção mais saudável?”
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