Sheila 14/03/2014As crônicas marcianasO tema central do livro, alguns diriam, é a colonização de Marte por humanos. A terra está um caos. Poluição, roubos, e talvez uma guerra por eclodir. Neste contexto, Marte aparece como uma saída: uma fuga para os terráqueos já sem esperança, um recomeço para outros mais otimistas.
Por outra ótica, podemos ver A crônicas marcianas como uma analogia a uma desconstrução de um sistema social e político e busca por uma sociedade diferente, mais igualitária e menos repressora, sendo a ida para um "outro planeta" uma forma metafórica de lidar com o esgotamento com o sistema vigente.
O mais interessante do livro é que, ao mesmo tempo em que existe uma seqüência nos efeitos narrados, algumas podem ser lidas quase que de modo independente. Provavelmente, isto advenha do fato de que alguns capítulos foram publicados de forma independente em revistas de ficção científica, em 1940, como contos ou novelas episódicas.
O livro divide-se em três partes: tentativa de colonização de Marte, a colonização propriamente dita, e o êxodo à Terra quando a guerra nuclear tão anunciada finalmente eclode. O livros hipoteticamente narraria acontecimentos que iriam desde janeiro de 2000 à outubro de 2026, falando desde a tentativa frustrada de colonização por parte das primeiras expedições, até o surgimento de uma “nova” raça Marciana – e, sim você terá de ler o livro para saber afinal de contas do que é que eu estou falando.
Na edição de 1997 as datas avançaram em 31 anos (o período agora seria de 2030 a 2057), inclui o conto "The Fire Balloons" e substitui "Way in the Middle of the Air" por um conto de 1952 chamado "The Wilderness", datado de maio de 2034 (equivalente a maio de 2003 na primeira cronologia). O relançamento pela Globolivros é de 2014, contando com 26 capítulos e a cronologia oficial ( de 1999 à 2026).
A Apresentação do livro, escrita por Jorge Luis Borges, não poderia ser mais fidedigna, ao dizer do autor que
Outros autores estampam uma data vindoura, e não acreditamos neles, porque sabemos que se trata de uma convenção literária. Bradbury escreve 2004 e sentimos a gravitação, o cansaço, a vasta e vaga acumulação do passado ... Talvez “A terceira expedição” seja a história mais alarmante deste volume. Seu horror (suponho) é metafísico; a incerteza sobre a identidade dos hóspedes do capitão John Black insinua incomodamente que tampouco sabemos quem somos nem como é, para Deus, nossa face.
Apesar de também ter gostado muito de “A terceira expedição”, elegeria “Os homens da terra” como aquela que mais me marcou. Afinal, a expedição de quatro homens liderados pelo capitão Willians – a segunda expedição – não esperava, de forma alguma, o que encontraram em marte. Em primeiro lugar, os marcianos por algum poder telepático conseguiam entendê-los perfeitamente. Em segundo, e mais estranho, ninguém parecia dar muita importância à sua chegada.
- Acho que a senhora não entendeu ...
- O quê? – ela disse secamente.
- Viemos da Terra!
- Não tenho tempo – ela disse. Tenho muito trabalho na cozinha hoje, e ainda preciso limpar a casa e costurar.
Só que a segunda expedição acabará por descobrir que, por trás deste aparente descaso, esconde-se uma verdade que eles não descobrirão em tempo ... e que você terá de ler o livro para saber qual é!
Cheio de uma crítica contundente ao ser humano, com sua capacidade de construir, mas também com sua potencialidade para a destruição, "As Crônicas Marcianas" merece seu título de best-seller e acho que nem precisava dizer, mas é um livro recomendadíssimo!
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http://www.dear-book.net/2014/03/resenha-dupla-as-cronicas-marcianas.html