Polly 01/10/2020Se você costuma frequentar blogs literários, com toda certeza já acabou passando em algum momento pelo blog da Ivi, o Meu amor pelos livros e foi por lá que acabei conhecendo-a e acompanhando seu trabalho desde então. Agora tive a oportunidade de conhecer sua faceta como escritora e já adianto para vocês que foi uma ótima experiência.
Contratempo já começa de uma forma que nos deixa apreensivos. Começamos conhecendo Letícia, indo para Santa Maria em 26 de janeiro de 2013, para ir a uma festa universitária com sua amiga. Talvez a data não te remeta de cara ao que aconteceu, mas o nome da cidade com toda certeza vai te lembrar a tragédia que aconteceu ali na madrugada do dia 27 de janeiro de 2013, quando uma casa noturna pegou fogo, matando 242 pessoas e 116 feridos.
Mas a tragédia não é o ponto central da trama. Na verdade, ele começa nos contando que Letícia, uma modelo internacional, uma das mais bem pagas da atualidade, que se aposentou ainda jovem, decidiu voltar ao Brasil para encontrar o pai, com quem nunca teve contato. Ela sempre se sentiu incompleta e sente a real necessidade de saber quem foi o pai, entender de fato toda sua história e sua origem.
Neste ponto conhecemos Lais, a mãe de Letícia, uma mulher forte, determinada e capaz de fazer tudo pela filha. Até mesmo reviver um passado de 21 anos para ter a certeza de que o homem que ela vai encontrar ainda é uma boa pessoa.
Ela teve um passado conturbado com Rodrigo, pai de sua filha. Uma série de acontecimentos os separou e agora, ela vai de certa forma revisitar essa história, revirar as memórias que ela manteve para si. A história dos dois é marcada por lacunas, maus entendidos, questões não resolvidas e não vai ser nada fácil para Lais reviver tudo aquilo.
Então, teremos uma história narrada entre presente e passado, por dois pontos de vista, um em terceira pessoa – onde conhecemos mais sobre Letícia, seus anseios e a forma como ela sempre se esforçou para encontrar o pai e uma narrativa em primeira pessoa, onde acompanhamos os receios de Lais em revisitar seu passado, o amor por sua filha e a certeza de que ela faria qualquer coisa por ela, além de suas lembranças do passado, que nos são entregues em fragmentos, onde vamos entendendo o que aconteceu entre ela e Rodrigo e porque seus destinos se separaram de forma tão abrupta.
E é em meio a essas narrativas e a uma trama que fisga nossa atenção desde o início que Ivi nos prende e emociona.
Se vocês acompanham o blog, sabe o quanto tramas envolvendo dramas familiares me tocam de uma forma especial, sempre ganhando um espacinho no meu coração e com este livro não foi diferente.
Contratempo foi uma leitura que me despertou diversas emoções ao longo de sua trama. Se no início fiquei com o coração na mão ao descobrir que a tragédia ocorrida em Santa Maria estaria ligada de alguma forma ao destino de Letícia, logo em seguida me vi curiosa, ansiando por respostas sobre a vida de Laís e Rodrigo, curiosa para descobrir como seu deu o amor entre os dois e saber o que aconteceu para que se separassem, o porquê de nunca mais se falarem, apreensiva para saber quem ele tinha se tornado.
E em meio a toda essa curiosidade, me afeiçoei muito a Lais, uma mulher forte, que passou por muitas adversidades e uma mãe incrível, capaz de fazer qualquer coisa pela filha, até mesmo reviver um passado que lhe é tão doloroso.
E quando cheguei ao fim, bem, foi um misto de “preciso de respostas, preciso saber como tudo termina” e uma agonia enorme por saber o que estava por vir em relação a tragédia na festa universitária que ocorreu em Santa Maria. Me senti com o coração apertado, me emocionei, derramei algumas lágrimas e fui tomando os sentimentos dos personagens como meus.
Ler contratempo trouxe uma avalanche de emoções. Apesar de ser um livro curto, a narrativa de Ivi é feita na medida certa para nos fazer refletir, despertar emoções e até mesmo repensar sobre preconceito racial, socioeconômico e até mesmo sobre a própria tragédia anunciada ocorrida em Santa Maria e a impunidade em relação a ela, impunidade esta muito comum em nosso país.
A Ivi não não entra em detalhes em como essa tragédia afetou sua vida, mas deixa muito clara sua intenção: não deixar que a mesma caia em esquecimento e este livro cumpre esse papel de uma forma emocionante.
Esta foi uma leitura que fisgou desde o início e que recomendo muito a todos vocês. Como eu já disse, é uma leitura rápida, intensa, com personagens bem construídos e que nos prende logo no seu primeiro capítulo e por isso o recomendo a todos vocês!