... E o Vento Levou

... E o Vento Levou Margaret Mitchell




Resenhas - E o Vento Levou


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Flávia Menezes 25/06/2022

NÃO VOU PENSAR NISSO AGORA. PENSAREI NISSO SÓ AMANHÃ!
?E o Vento Levou?, de Margaret Mitchell, lançado em 1936, é um clássico que foi escrito pela autora durante um período em que esteve doente, e que levou anos para ser trabalhado, até chegar a sua publicação. E como resultado, temos uma quantidade grande de páginas, porém que não são suficientes para que, ao terminar, não queiramos ainda mais dessa história que nos conquista de forma arrebatadora.

Muito embora esse seja um clássico cuja questões raciais estejam bem-marcadas, e que chegaram a levar grandes redes de streaming a banirem sua adaptação para o cinema, eu penso que é uma questão que faz parte de uma época, e que infelizmente não pode ser apagada. E embora seja realmente doloroso, eu penso que existem tantas mensagens contidas neste livro, que se pudermos enfrentar todo o desconforto, poderemos nos beneficiar em tirar todas as suas boas lições.

Scarlett O´Hara é uma das personagens mais icônicas de todos os tempos, e junto com Holly Golightly (Bonequinha de Luxo), sua personalidade é tão marcante a ponto de ficar gravada na nossa memória para sempre.

Scarlett começa a história como uma menina jovem, cheia de sonhos, mimada e cheia de vontades, nutrindo uma paixão por um homem que apesar de também ter sentimentos por ela, não a escolhe. Ao contrário, sua escolha para esposa é uma mulher bem mais simples em atributos físicos, porém bondosa ao extremo, e que ao longo da história vai ganhando nossos corações de um jeito que nem sequer esperávamos.

Melanie, a Melly, é a única personagem boa e ingênua de que me lembro ter gostado tanto em toda a minha vida. E a autora foi tão brilhante em construí-la, de forma a mostrar porque, mesmo na simplicidade, pode haver tamanha beleza em um personagem, sem que isso diga respeito ao aspecto físico. Aliás, uma das maiores habilidades dessa autora, são as oposições. Assim como Melly é praticamente o oposto de Scarlett, Ashley é o oposto de Rhett.

Ashley é o amor da adolescência de Scarlett, e esse clima de amor impossível é algo que nos faz questionar o porquê de Scarlett amar tanto um homem que tem tão pouco a oferecer. Mas quando analisamos bem de perto, a personalidade forte de Scarlett, sua força que vai se manifestando conforme os obstáculos vão surgindo, é o que a faz, no fundo, desejar um homem que não está acima dela. Scarlett quer brilhar, quer ser a força, e um homem para ela é aquele que vai adorá-la, colocando-a em um altar.

O que também nos conta o motivo pelo qual Ashley sempre a afasta. Como um homem pode permanecer ao lado de uma mulher que o enfraquece tanto? Por mais tolo que Ashley pareça, a verdade é que ele é corajoso o suficiente para dizer não a esse amor que o reduz, mesmo que a princípio pareça tão cheio de devoção. E é aí que entendemos a grande mulher que Melly é. Porque com sua delicadeza, sua humildade, ela é quem fortalece Ashley. Não Scarlett.

Sobre Rhett... ah, o que dizer de Rhett? Sabe aquele personagem que vai te ganhando aos poucos, só para depois te deixar caidinha por ele? Esse é o Rhett. No começo, ele pode até ser visto como um vilão, um homem ruim que faz coisas piores ainda para Scarlett, quando na verdade, é um homem que esconde um amor enorme, atrás de uma inteligência muito sagaz.

Só ele sabe como domar a indomável Scarlett. E quer saber? Essa relação deles é tão divertida, que você acaba passando pano para tudo o que ele faz. Eu confesso que passei e até o fim! Até mesmo porque no final, quando esse personagem abre o seu coração e escancara tudo o que sente, ele acaba nos levando às lágrimas.

Sabe aquela vontade de que exista na vida real um homem capaz de nos dizer todas as coisas que ele dizia sentir pela Scarlett, e fazer tudo o que ele fazia por ela? Foi exatamente o que senti pelo Rhett. E tenho que dizer que essa autora fez meu coração ficar em inúmeros pedacinhos, só de lembrar que ele é apenas um personagem, e não existe na vida real. Os sentimentos e ações de Rhett o colocam no patamar do homem mais incrível que já vi em toda a minha vida. Mesmo sendo apenas um personagem.

Se Gustave Flaubert despertou as mulheres para as delícias da paixão e do amor romântico, ao invés das uniões frias por conveniência, Margaret Mitchell nos faz perceber o quanto a paixão nos cega, e nem sempre o homem real é o mesmo daquele que vive em nossa fantasia. É a típica lição para levar para a vida toda e passar para todos os que amamos.

Nada do que eu escreva sobre esse livro vai poder demonstrar 1% da sua grandiosidade. A narrativa é poética, e flui de uma forma que você nem sente as páginas passando. E por mais que seja um livro longo, sua trama é tão perfeitamente desenvolvida, que te prende do início ao fim. Nas partes boas e nas partes tristes. E no final, eu queria mais uns 3 calhamaços desses de continuação. Até porque não há um único erro que eu consiga apontar. Essa história é simplesmente perfeita!

De fato, depois de uma leitura como essa, eu me pergunto como superá-la. E honestamente, acho que nunca irei superar não ter mais nenhuma história sobre a audaciosa e corajosa Scarlett para ler. E sabe o que é pior? Eu já não sei mais o que fazer sem o Rhett e suas provocações, e seu jeito de cuidar da Scarlett à moda antiga, como só um homem do passado sabia cuidar. Não sei como superar a partida de todos esses personagens incríveis. Não sei como uma nova leitura poderá me distrair de tamanho impacto.

E como resposta a todo sentimento que essa leitura me despertou, e também para conseguir encerrar essa resenha, eu preciso pegar por empréstimo o bordão de Scarlett O´Hara: ?Não vou pensar nisso agora. Pensarei nisso amanhã, porque amanhã será outro dia!?
Gleidson 25/06/2022minha estante
Magnífica! Vc conseguiu expressar seus sentimentos em relação ao livro. Depois disso, só me resta ler o livro. Rs


Flávia Menezes 25/06/2022minha estante
Ah, Gleidson, obrigada ?. E olha?eu super te incentivo a fazer essa leitura, porque essa autora é simplesmente perfeita! ??


skuser02844 25/06/2022minha estante
Que resenha maravilhosa, agora estou morrendo de vontade de ler!


Flávia Menezes 25/06/2022minha estante
Xará!!! Você precisa ler!! Te garanto que o tamanho até pode assustar, mas a leitura?você não se arrependerá ????


Fabio 25/06/2022minha estante
Que resenha é está! Desta vez se superou!! Perfeita!


Michelle.Gandolfi 25/06/2022minha estante
Uau, sem palavras. Meus parabéns!!??
Com certeza entrou na minha lista.


Lu @gentequeamalivros 25/06/2022minha estante
Eu só quero morar nessa perfeição de resenha ??.


Flávia Menezes 26/06/2022minha estante
Fábio, muito obrigada!! ????


Flávia Menezes 26/06/2022minha estante
Michelli, obrigada pelas palavras!! Nossa. Vou ficar de olho esperando você começar esse, só pra acompanhar o que você vai achar! ??


Flávia Menezes 26/06/2022minha estante
Ah, Lu!! Muito obrigada!! ? E obrigada pela companhia durante a leitura!! Foi ótimo poder trocar impressões sobre essa história tão incrível! ???


Reader.. 26/06/2022minha estante
Comprei esse box ano passado, no meu aniversário, nem tirei ele do plástico ainda, espero ler esse ano.


MaywormIsa 26/06/2022minha estante
MARAVILHOSA resenha! Obrigada por compartilhar com a gente seus sentimentos e suas impressões de forma tão agradável e bem estruturada. O livro é muito complexo, o filme deixa menos pesado porque, como muitos sabem, foi tirado o aspecto racial o máximo possível. O filme é o favorito da minha vida, e tô pra ler o livro esse ano. Obrigada novamente pela resenha e em breve posso entrar no clube das apaixonadas pelo Rhett ????


Maygeek7 26/06/2022minha estante
Que resenha maravilhosa!!!!
Eu voto em Flávia para presidente ?
Eu já disse que amo as suas resenhas?! Amo!!!


Flávia Menezes 26/06/2022minha estante
Jura, Sig? Eu admiro quem consegue deixar o livro no plástico até ler. E esse é um calhamaço de respeito. Romântico, uma narrativa bem feminina, mas muito bonito. Espero que você também possa ter uma boa experiência com ele. ??


Flávia Menezes 26/06/2022minha estante
Isa, nossa, estou imensamente lisonjeada com as suas palavras! Obrigada de coração! Eu assisti ao filme, mas por sorte nem me lembrava tanto, e foi uma grande experiência. Mas logo logo vou assisti-lo de novo, até porque acho que vai ser bem diferente dessa vez. Impossível não amar essa história não é? E Isa, te aguardo no Clube das Apaixonadas pelo Rhett! ???


Flávia Menezes 26/06/2022minha estante
Mayra, minha linda!! Obrigada! Que gostoso ler isso! Não sabe como me deixa feliz saber que a minha paixão por esses livros consegue ser transmitida na forma como escrevo. Agradeço suas palavras. Entraram aqui no meu coração e ele ficou mais quentinho! ????




spoiler visualizar
Flávia Menezes 02/10/2023minha estante
Resenha mais do que perfeita, especialmente pela forma como consegue passar sua visão sobre cada momento dessa obra. Foi maravilhoso ler sua resenha e relembrar esses personagens que me encantaram tanto, por mostrarem um lado real de qualidades e defeitos.
Parabéns! Uma exemplar resenha para uma obra tão magnífica como essa! ????????


Regis 02/10/2023minha estante
Obrigada, Flávia! Seu comentário foi encantador. ??


Carolina.Gomes 02/10/2023minha estante
Amo esse livro! Muito boa resenha, Regis ?


Regis 02/10/2023minha estante
Obrigada, Carolina! ??


Núbia Cortinhas 02/10/2023minha estante
Regis, que resenha maravilhosa!!! Parabéns!! ?? ?? ??


Aryana 02/10/2023minha estante
????


Alex 02/10/2023minha estante
Excelente!


Regis 03/10/2023minha estante
Obrigada, Núbia! ?


Regis 03/10/2023minha estante
Valeu, Aryana! ?


Regis 03/10/2023minha estante
Obrigada, Alex! ?


CPF1964 05/10/2023minha estante
Régis..... Que resenha sensacional !!! ????


HenryClerval 05/10/2023minha estante
É incrível o quão estimulantes são suas resenhas, Régis! Enquanto não tenho tempo de fazer certas leituras, me contento apenas em conhecê-las um pouco através de suas impressões maravilhosamente bem descritas. ????


Regis 11/10/2023minha estante
Obrigada, Cassius! ?


Regis 11/10/2023minha estante
Muito lisonjeiro seu comentário, Leandro. Agradeço e fico contente por te estimular. Adoro nossas conversas sobre os livros! ??


HenryClerval 12/10/2023minha estante
Eu também adoro, Régis, você fala com muita paixão de suas leituras e isso encanta o ouvinte.




Coruja 10/02/2020

As Várias Facetas de ‘E o Vento Levou’
Começo a resenha confessando que essa foi a segunda vez que peguei E o Vento Levou para ler: quando comprei o livro uns anos atrás, li a primeira parte e abandonei, porque criei ojeriza a Scarlett O’Hara. Desconfio que o problema era meu humor à época, que me deixou sem paciência para o poço de egoísmo que Scarlett se revela logo no começo - tive tanta raiva da protagonista que larguei-a sem peso na consciência. Ok, ela é uma adolescente no início, mas ainda assim, tive uma reação muito visceral ao egocentrismo da mocinha. Esse ano, na minha incansável jornada para conquistar os livros não lidos da estante, decidi dar uma nova chance ao calhamaço de Margaret Mitchell: pensei que começando-o no começo do ano, estaria num humor melhor e conseguiria avançar.

Deu certo. A primeira parte ainda foi como se arrastar ladeira acima, mas depois que Scarlett chega a Atlanta, quando se inicia sua convivência com Melanie e Rhett - quando ela é confrontada com a realidade da guerra, o cerco à cidade, a fuga desesperada de volta a Tara - a leitura deslanchou. À determinada altura eu já nem conseguia largar o livro, quase um exercício de musculação considerando o tamanho. A transformação da orgulhosa e mimada Scarlett O’Hara numa mulher forte e capaz de tudo para alcançar seus objetivos - em especial a manutenção da terra de sua família e reaquisição de sua fortuna (“jamais sentirei fome outra vez”) - é brilhante.

* aviso de logo que teremos spoilers daqui por diante*

Tendo feito tais considerações, devo observar que há muitas maneiras de analisar esse enredo. Tradicionalmente, E o Vento Levou é vendido como um daqueles ‘grandes romances de todos os tempos’ (na verdade, isso está escrito no rodapé da capa da minha edição). Isso me fez pensar na época em que li O Morro dos Ventos Uivantes, e como o relacionamento de Heathcliff e Cathy me causou calafrios. Gosto imensamente de Rhett, e Scarlett é um pouco melhor que Cathy, mas não consigo pensar neles como um casal que se sustente - mesmo que eu tenha adorado vê-los juntos (tenho uma queda por casais tipo Cão e Gato) - porque eles parecem totalmente incapazes de se comunicar de forma sincera.

Scarlett começa a história como uma coquete que enfeitiça todos os rapazes ao seu redor, mas apaixonada por Ashley Wilkes, apresentado como o modelo perfeito de cavalheiro sulista. Rhett a flagra num momento em que sua máscara de grande dama cai e esse vislumbre acende seu interesse - algo que, aos poucos, parece se transformar quase em obsessão. Não temos seu ponto de vista, mas imagino o que diríamos de Rhett se pudéssemos enxergar a forma como seus sentimentos evoluíram: de uma admiração irônica para o desejo ciumento de posse até a magoada indiferença.

Rhett admira a força e persistência de Scarlett, disso não se pode duvidar. De certa maneira, ele a vê como uma igual, uma mulher determinada a tudo para sobreviver, alguém capaz de se livrar de todos os seus escrúpulos se necessário. Uma ‘gata selvagem’ por debaixo do verniz de nobre dama sulista. Ele, que foi expulso de casa por seu pai, que perdeu a fortuna e a primogenitura, mas conseguiu se reerguer a partir de sua própria sagacidade. Exatamente por isso - ali está uma pequena hipócrita que lhe mostra que a sociedade de que foi expulso não é tão melhor que ele - sua atenção é fisgada.

O problema é a paixão de Scarlett por Ashley que, de certa maneira, imita a preferência do pai de Rhett por um tipo de figura moral que é o absoluto oposto do nosso anti-herói. Assim como o senhor Butler provavelmente teria preferido Ashley Wilkes como filho, Scarlett parece preferi-lo como marido. E essa relação envenena Rhett, que se torna tão obcecado por Ashley quanto o é pela primogênita dos O’Hara. De certa maneira, conquistar a posse do coração de Scarlett é um substituto para ganhar a aceitação que seu pai lhe negou.


"- Nunca lhe ocorreu que eu a amava tanto quanto um homem pode amar uma mulher? Que a amei por anos antes de conseguir ficar com você? Durante a guerra, eu ia embora e tentava esquecê-la, mas, sem conseguir, sempre tinha que voltar. Após a guerra, me arrisquei a ser preso, só para voltar e encontrar você. Era tão apaixonado que acho que poderia ter matado Frank Kennedy se ele não tivesse morrido quando morreu. Eu a amava, mas não podia deixá-la saber. Você é tão brutal com aqueles que a amam, Scarlett... Você usa esse amor como um chicote sobre suas cabeças."


O egoísmo, a ignorância e a crueldade de Scarlett fazem par com o ciúme possessivo e a violência reprimida de um Rhett que aparenta ser um paradigma de autoconfiança - mas que me parece usar o escárnio como carapaça para seus sentimentos de inadequação -, numa mistura bastante explosiva. Rhett se nega categoricamente a confessar seus sentimentos, Scarlett ignora seu coração, cega pelo ideal que plantou para si mesma na adolescência e, de desencontro em desencontro (quão frustrante é saber que ela estava chamando por ele quando acamada, mas não foi ouvida, enquanto ele esperava por um sinal, qualquer que fosse, e se deixava afogar na culpa?), suas emoções estão sempre em descompasso.

Essa incapacidade de ‘se encontrar no meio do caminho’ é o que torna o final tão pungente. Aliás, eu bato palmas para o final de E o Vento Levou: foi muito corajoso da parte da autora deixá-lo em aberto daquela maneira, sem uma resolução para o romance entre os protagonistas. Ao leitor é dada a possibilidade de passar o resto da vida pensando em situações que poderiam ocorrer após aquele final.

Nessa relacionamento, temos de levar em conta ainda outro casal (como se o protagonistas já não fossem complicados o suficiente…): o já citado Ashley e sua esposa, Melanie Hamilton. Ashley, como já dito, é-nos apresentado como ideal de cavalheiro sulista: educado, gentil, corajoso, honrado. Contudo, se tivesse de escolher uma única palavra para descrever Ashley, seria “sonhador”. Minha impressão dele é de que tem uma alma de artista, sensível, idealista e introspectiva, o que torna sua vida bem difícil numa história de gente pragmática e pé no chão.


"Pois Ashley nascera de uma linhagem de homens que usava seu tempo de lazer para pensar, não para agir, para tecer sonhos vividamente coloridos que nada possuíam de realidade. Ele se movia em um mundo interior que era mais lindo que a Geórgia, e retornava à realidade com relutância. Ele observava as pessoas sem gostar ou desgostar delas. Olhava para a vida e não se animava nem se entristecia. Aceitava o universo e o lugar que nele ocupava pelo que eram e, dando de ombros, se voltava para seu mundo melhor, sua música e seus livros."


Ashley ama o Sul e o modo de viver no qual cresceu. Tendo entrado no exército confederado, contudo, ele não é a favor da guerra. A derrota da confederação representa o fim do mundo que ele conhecia e ele é incapaz de se adaptar aos novos tempos. Aliás, é curioso o contraste que ele forma com Will Benteen, que, tendo perdido uma perna, ainda é muito mais útil em Tara que o major que voltou fisicamente inteiro da guerra. Se muitos dos jovens do condado perderam a vida no conflito ou em consequência dele (os garotos dos Tarleton, Calverton, Fontaine), Ashley perdeu algo de sua alma, sua vontade de viver.

Isso justifica sua atração por Scarlett: é a vitalidade, a capacidade de se reconstruir, a carnalidade de Scarlett O’Hara que o enfeitiça. E Ashley é fraco demais para negar e cortar a relação com ela - sua indecisão permite que Scarlett continue a alimentar suas próprias ilusões, prende-a a ele e, com isso, impede-a de compreender seus reais sentimentos. Ao final das contas, Rhett tem razão em desprezar Ashley, pois ainda que ele não ceda à paixão por Scarlett, também não a liberta de sua influência. No mínimo, a admiração dela faz bem ao seu ego.

Melanie, como seu marido, é o paradigma de feminilidade sulista, “uma grande dama” nas palavras de Rhett. Vista pelo olhar de Scarlett, Melly é constantemente julgada como fraca e enfadonha. Nada poderia estar mais longe da realidade, contudo. Ligadas pelo primeiro casamento de Scarlett, com o irmão de Melanie (casamento esse decidido pela voluntariosa O’Hara por despeito da predileção de Ashley pela outra), as duas permanecem próximas pelo romance inteiro e formam uma relação curiosa. Melly ama Scarlett como a uma irmã, enquanto ela a detesta - ao menos, até se dar conta de que Melanie foi o esteio de sua existência e tudo o que ela foi capaz de fazer foi tendo Melly como seu apoio.


"Melanie era jovem, mas possuía todas as qualidades que esses combativos remanescentes apreciavam, a pobreza e o orgulho na pobreza, uma coragem conformada, alegria, hospitalidade, bondade e, acima de tudo, lealdade a todas as antigas tradições. Ela recusava-se a mudar, e nem sequer admitia que houvesse motivo para tanto em um mundo em mudança. Sob seu teto, os velhos tempos pareciam estar de volta e as pessoas criavam coragem e desprezavam ainda mais a onda de vida impetuosa em grande estilo que levava de roldão os aventureiros ianques e os republicanos emergentes."


E Melanie é uma força insuspeita em todo o romance. Pequena e frágil na aparência, sua doçura esconde nervos de aço, uma força moral e capacidade de empatia que impressionam. No quadrilátero amoroso com Ashley, Scarlett e Rhett, Melanie é a personagem mais digna: com maior potencial de sair machucada e, ao mesmo tempo, a que melhor compreende todas as partes. Você pode passar o livro inteiro pensando se Melly sabia ou não do que ia entre Ashley e Scarlett, isso não importa muito. A lealdade que ela tem para com a cunhada-irmã é inquestionável: Melly deve a vida do filho e dela própria a Scarlett várias vezes e ela não se ressente de tal conta.

Esse “quadrilátero” (ou seria a quadrilha de Drummond?) é a o foco romântico do livro. Como já observei no começo, ele é também uma história sobre o amadurecimento de Scarlett - a perda de sua inocência, sua luta pela sobrevivência, sua gradativa compreensão de si mesma. Gosto do termo em inglês para esse gênero literário: “coming of age”, a chegada da idade, da maioridade. Uma maioridade que não é apenas física.


"Via as coisas com novos olhos, pois, em algum ponto ao longo da estrada para Tara, ela abandonara sua infância. Já não era como o barro moldável, no qual cada nova experiência deixava uma marca. O barro endurecera em algum momento desse dia que durara mil anos. Essa noite era a última vez que ela seria cuidada como uma criança. Agora era uma mulher feita, e a juventude ficara para trás."


Os obstáculos que são colocados no caminho de Scarlett destruiriam alguém mais fraco. Destruíram, na verdade: é possível ver o constante contraste dela com as pessoas que eram seus vizinhos, que tiveram sua mesma criação, que conviveram com a guerra da mesma maneira, que perderam tanto quanto ela. Scarlett supera a perda da mãe, do pai, do conforto em que cresceu, dos escravos, de um inteiro modo de viver, dos maridos, de uma filha, enquanto outros vagam pela vida como fantasmas; ela está constantemente se reconstruindo, sem jamais desistir.

Li a primeira parte do livro há quatro anos e levei todo esse tempo para me encorajar a continuar a história (sério mesmo, eu detestei a Scarlett no início). Aí li todo o resto do livro em pouco menos de quinze dias, aflita porque, toda vez que parecia que as coisas estavam se ajeitando, alguma nova tragédia acontecia e eu ficava com o coração na mão achando que dessa feita, Scarlett não se reergueria (mas aí percebia que ainda tinha centenas de páginas à frente e suspirava de alívio sabendo que não acabaria ali).

A persistência e recusa em se dar por vencida são as características mais marcantes e redentoras de Scarlett. Ela não é uma boa pessoa, uma heroína no sentido mais óbvio do termo, pois é capaz de passar por cima de tudo - ética, princípios, os sentimentos das outras pessoas, regras da sociedade - para conseguir aquilo que quer. E o que ela quer é dinheiro, e a segurança que o dinheiro representa, segurança que lhe foi arrancada ao final da Guerra. Dinheiro significa manter Tara, ter sua casa, poder manter sua família e, mais importante que tudo, ter o que comer.


"Durante cinquenta anos, haveria por todo o sul mulheres amarguradas a olhar para trás, para o passado morto, para homens mortos, a evocar memórias que magoavam e eram inúteis, tolerando a pobreza com orgulho amargo porque tinham essas memórias. Mas Scarlett nunca olharia para trás.

Olhou de relance para os alicerces escurecidos pelo fogo e, pela última vez, viu Twelve Oaks erguida diante de seus olhos como fora antes, rica e altiva, símbolo de uma raça e de um estilo de vida. Depois começou a descer a estrada rumo a Tara com a cesta pesada a lhe cortar a carne.

A fome lhe corroía o estômago vazio novamente e ela disse em voz alta:

— Com Deus por testemunha, com Deus por testemunha, os ianques não vão me vencer. Vou superar isso e, quando acabar, jamais sentirei fome novamente. Nunca, nem nenhum dos meus. Mesmo que tenha de roubar ou matar, que Deus seja minha testemunha, jamais sentirei fome novamente."


A insistência de Scarlett em ter ‘dinheiro, muito dinheiro’, pode parecer mercenária e cínica, colocando-se acima de sua necessidade de amor - é a razão de seu segundo e terceiro casamento, afinal -, mas a construção da personagem dá sentido a isso. E isso é irônico: o egocentrismo que não consegui perdoar na primeira parte da história eu aplaudi nas outras. Porque é isso que faz com que Scarlett não apenas sobreviva, mas floresça, quando tantos outros simplesmente ficam pelo caminho. Porque Scarlett se revela simplesmente, demasiadamente humana. E isso a faz uma das mais complexas e interessantes personagens literárias que já conheci.

E o Vento Levou é, dessa maneira, uma grande história de amor num primeiro plano (porque é assim que se prefere vender o livro) e também um conto de amadurecimento, numa segunda camada. E aí vem o terceiro contexto pelo qual pensar a obra: sendo um romance histórico, ele é um perfeito recorte da época que retrata - e bastante complicado nesse quesito.

Não se trata só do fato de toda a ação ter como pano de fundo o sul confederado nos anos da guerra civil: essa ação é contada do ponto de vista dos sulistas e, como tal, é extremamente racista. Da minha posição de leitora moderna, não posso concordar com a romantização de senhores de escravos; a caracterização dos negros em fiéis aos seus antigos senhores ou vilões, preguiçosos e predadores sexuais, infantilizados em ambos os casos; ou das justificativas para a criação da Ku Klux Klan. Porque é exatamente isso que Mitchell faz: ela transforma os Estados da Confederação em seu período pré-guerra num idílio, uma utopia.

Publicado em 1936, E o Vento Levou precede em dezoito anos o início da luta por direitos civis dos negros. Ele foi escrito numa época em que imperavam as ‘leis de Jim Crow’, um conjunto de legislações estaduais promulgadas entre o final do século XIX e o início do século XX que impuseram a segregação racial. Vemos os efeitos práticos dessas leis ao final do livro, quando os Democratas retomam o poder no sul - o constante debate acerca do voto ou a preocupação de Melanie com a ideia de seu filho ir para uma escola em que ele divida a sala com crianças negras, por exemplo.

Aliás, observe-se como Melly, uma personagem que nos foi apresentada o tempo todo como digna de nossa admiração, replica tão casualmente o preconceito racial. Como a afirmação de Ashley, de que teria libertado os escravos quando fosse dono de Twelve Oaks - a fazenda da família Wilkes - é vista como devaneios de uma pessoa bem pouco prática (e incapaz de apresentar quaisquer lucros ou resultados em seu trabalho...). Como o mesmo Ashley, juntamente com os dignos cavalheiros de Atlanta, formam a KKK, tendo por justificativa a proteção de suas mulheres. Como Rhett - que se propõe moderno e tão diferente de seus conterrâneos - mata um ex-escravo que tenta se engraçar para os lados de uma senhora branca. Como um dos grandes vilões em Tara é o ex-administrador da fazenda, que afirma que brancos e negros devem ser vistos como iguais.

Compreender o contexto em que a obra foi escrita e o período que ela retrata não nos exime de pensar criticamente sobre os fatos e personagens que nos são apresentados.

De outro turno, E o Vento Levou leva à reflexão de questões de gênero interessantes. Esse é, afinal, um romance sobre mulheres fortes; é um livro sobre a guerra, mas que não acompanha os fronts de batalha, permanecendo com as famílias que se despedem de seus soldados. Enquanto os homens lutam, as mulheres administram as casas e plantações; organizam esforços de arrecadação de fundos para o exército; cuidam dos feridos; abrem as próprias portas para receber refugiados, mantendo a moral e a ordem em seus condados.

Mesmo antes da guerra, elas têm um papel importante na gestão dos negócios: Ellen, a mãe de Scarlett, é a responsável pelas contas de Tara; e a senhora Tarleton é quem cuida dos cavalos premiados de sua fazenda. Seu trabalho não é particularmente reconhecido, mas é fato que o sucesso de seus maridos depende delas.


"A vida de Ellen não era fácil, nem feliz, mas ela não esperava que a vida fosse fácil e, se não era feliz, essa era a sina das mulheres. O mundo pertencia aos homens, e ela o aceitava como tal. O homem possuía a propriedade, e a mulher a administrava. O homem levava o crédito pela administração, e a mulher elogiava sua esperteza. O homem berrava como um touro se tivesse um espinho cravado no dedo, e a mulher sufocava os gemidos do parto para não perturbá-lo. Os homens costumavam ter a fala áspera e se embriagar. As mulheres ignoravam os lapsos da linguagem e botavam os bêbados na cama. Os homens eram grosseiros e francos, as mulheres, sempre gentis, graciosas e magnânimas.

Ela fora criada na tradição das grandes damas, que a ensinara como carregar seu fardo e ainda assim manter o encanto, e pretendia que suas três filhas também se tornassem grandes damas. Com as mais novas, ela tinha sucesso, pois Suellen ficava tão ansiosa para ser atraente que emprestava o ouvido atento e obediente aos ensinamentos da mãe, e Carreen era tímida e fácil de guiar. Mas Scarlett, filha de Gerald, achava o caminho para se tornar uma dama duro demais."


As matriarcas de Atlanta - as senhoras Meade e Merriwether, entre tantas outras - são a força motriz da cidade. Elas atuam incansavelmente nos hospitais como voluntárias, enfrentam o cerco para buscar o corpo de um filho morto; fazem parte do saque aos mantimentos antes que os ianques dominem os depósitos. E depois, quando tudo parece perdido, elas tomam as rédeas mais uma vez, nem que para isso seja necessário vender tortas na rua. Considerando o conservadorismo do Sul, eu me surpreendi com quanta independência todas essas mulheres desfrutam, ainda que a participação delas fosse no mínimo lógico, se a sociedade esperava conseguir se recuperar.

Em todo esse contexto, Scarlett se destaca uma vez mais. A necessidade de cuidar de Melanie durante a gravidez, mesmo com o risco do cerco a Atlanta, a fuga desesperada da cidade com Melly ainda se recuperando do parto - um parto que Scarlett foi obrigada a realizar sozinha diante das circunstâncias do momento -, a chegada em Tara para se dar conta de que é ela agora a responsável pela subsistência de todos ao seu redor, sua organização dos suprimentos, divisão do trabalho - ela chega a ir para o campo plantar algodão -: ela vai muito além de todas as expectativas para seu gênero. Ao casar-se com Frank Kennedy para salvar Tara dos impostos, ela passa também a se imiscuir nos negócios da loja do marido, surpreendendo-o com sua cabeça rápida para números. Pegando dinheiro emprestado com Rhett, compra uma serraria e, sob sua administração, o negócio se expande e dá bons lucros.

Scarlett pode até ser vista com ressalvas na sociedade de Atlanta, mas ela se torna, indubitavelmente, uma hábil mulher de negócios. Quando ela se torna a senhora Butler, ela já é financeiramente independente, independência essa que ela construiu usando sua inteligência, seus próprios encantos pessoais, manipulação e até trapaça - nada, contudo, que lhe tire o mérito de ter chegado ao ponto em que chegou. Num certo sentido, Scarlett é muito mais bem sucedida em papéis tradicionalmente masculinos (provedora, empreendedora) que nos femininos (boa mãe, boa esposa, boa irmã).

Não sei se poderia dizer que E o Vento Levou tem uma mensagem feminista. Mas, é fato que é um livro sobre mulheres que não esperam para serem resgatadas; mulheres pragmáticas, sobreviventes. Vovó Fontaine, Beatrice Tarleton, Ellen, Mammy, Dilcey, Scarlett, Melanie, Belle, entre tantas outras, inspiram admiração pela força e capacidade que demonstram diante de tantas provações.

No cômputo geral, E o Vento Levou é fascinante, um desafio que merece ser enfrentado. Intenso, complexo, é uma leitura a qual é impossível ser indiferente, que merece reflexão e debate. Um monumento ao que existe de melhor e pior na humanidade, merecendo a classificação de um épico clássico.

site: https://owlsroof.blogspot.com/2020/02/as-varias-facetas-de-e-o-vento-levou.html
Lucas 10/02/2020minha estante
E o posto de melhor resenha que já li por aqui acaba de ser atualizado.... Sensacional, Luciana, a sua análise contextual de Scarlett não como um exemplo a ser seguido, mas alguém simplesmente prático. E esta é a característica predominante nela, que acaba trazendo em si muitos elementos detestáveis, de certo modo. As citações que fizeste foram bem pontuais e, particularmente, relembrei em cores vivas a fuga de Melanie e Scarlett de Atlanta... Acho que nunca li nada tão agoniante como aquilo (não que isso seja negativo, muito pelo contrário). Enfim, uma das maiores obras da história agora tem uma resenha à altura. :)


Coruja 10/02/2020minha estante
Obrigada, Lucas! Fiz várias anotações durante a leitura, já marcando as citações, porque sabia que essa era um livro que precisava analisar de forma mais aprofundada. Foi bom também que rendeu conversas com o pessoal do clube do livro de que participo, a gente sempre faz uma reflexão mais séria quando leva aquilo ao debate.

Também fiquei de coração na mão na cena da fuga. Fiquei de coração na mão em várias cenas, na verdade...


Lucas 10/02/2020minha estante
Sim... O desfecho também, que começa com aquele acontecimento triste, pode ser abrupto (ao meu ver), mas foi outro destes momentos... A cena final, diferentemente das páginas que a precederam, traz um mistério que fica na nossa imaginação pra sempre, como bem soubeste captar. :)


Demuner 16/07/2020minha estante
Acabei de terminar a leitura e tudo o que eu queria dizer, esta dito! E com coisas a mais. Incrível. Parabéns. Obrigada.


Coruja 17/07/2020minha estante
Obrigada também!


Anna 28/07/2020minha estante
Gostei tanto da resenha! Um dos meus livros prediletos.


Coruja 09/09/2020minha estante
Obrigada!


Carolina.Marco 17/09/2020minha estante
Uau! Que resenha IMPRESSIONANTE! Parabéns!

Você disse absolutamente tudo que vem se passando na minha mente e amadurecendo a medida que evoluo na leitura, mas de uma maneira muito incrível, detalhada e culta.

Ler "E o vento levou" foi uma experiência marcante. Descobri recentemente o livro, pois conhecia a história retratada apenas no filme (que inclusive, quero rever). Ao mesmo tempo que fico incomodada ao ler o livro de uma maneira crítica, tendo de buscar entender o contexto de personagens a favor do regime escravocrata, foi incrível poder entender como se formam as desigualdades de classe num contexto pós-guerra, e como a sociedade passa a se reconstruir.

De fato, Scarlett é uma personagem complexa, repleta de camadas, e na maior parte do tempo, muito difícil de compreender. Dado o contexto no qual se passa, e o cenário no qual os personagens viviam, muita coisa se explica, mas ao mesmo tempo não conseguimos aceitar.

Me senti mergulhando em um mar, e indo cada vez mais ao fundo, descobrindo novos corais e espécies... Com certeza, foi uma experiência marcante.


m. 16/03/2021minha estante
que resenha maravilhosa!!!!


Kira 08/06/2021minha estante
Que resenha maravilhosa ???


Clau Melo 08/08/2021minha estante
Sensacional sua resenha!


letAcia101 03/10/2021minha estante
nossa que resenha maravilhosa , queria ter esse dom da escrita .Parabéns!!


Jessica1248 08/07/2022minha estante
Resenha maravilhosa... Medo de o livro não ter tão bom quanto a resenha (estou no começo do livro)




Alex 10/09/2023

Imperdível
E o vento levou, aquele livro que eu nunca leria, sequer estava em meu radar e, não, não é por ser um calhamaço de 1600 páginas, mas porque eu imaginava que seria um romance meloso e chato.

Senhoras e senhores, E o vento levou, é tudo, menos chato. Uma epopeia sobre uma mulher obstinada, que enfrenta medos, dificuldades, tristezas, amores e desamores, com a resiliência e persistência só vista em pessoas que passaram fome.

Esse livro, também é, o relato de um tempo, um tempo pré e pós escravidão. Um tempo durante e pós Guerra Civil Americana. Um tempo de transições, rompimentos culturais e mudanças impossíveis de acompanhar.

E o Vento Levou, é, ainda, um retrato de convenções sociais, das hipocrisias humanas, da gentileza falsa e, em contraponto, das almas sinceras, daqueles que não se deixam levar pelo brilho falso, pela bajulação vazia e pelos galanteios interesseiros. É uma ode elogiosa ao comportamento reto, sensato e sincero. Mellanie, uma das personagens, é o expoente nesse sentido, Rhett Buttler, ao contrário, luta para o ser, mas anda sobre uma corda, vez ou outra cai de um ou outro lado.

Ao mesmo tempo, o livro é um retrato, deturpado, deformado e parcial, sobre o "sul" americano, sobre os confederados e sua envergadura moral superior, sobre suas "ótimas relações" com os negros escravos.

Esse é o único ponto negativo da obra, o fato de ser parcial, quase um folhetim em defesa do modo de vida sulista. "Os confederados são superiores", "os ianques são oportunistas", "os negros devem ser tratados como crianças" tratados, inclusive, com o mesmo carinho e cuidado, etc. Essa marca é indelével, porém, não diminui a obra, só necessita de uma visão crítica para o leitor não sair com uma impressão completamente equivocada sobre aquela época.

Ainda assim, com esse parêntese, o Vento Levou é uma obra prima de Margareth Mitchel. Leitura que escorre de tão fácil e envolvente. Os dramas são críveis e bem entrelaçados, os personagens são deveras complexos, a psicologia por trás de cada ato, cada decisão, são fiéis ao enredo como um todo. Não há pontas soltas, não há deus ex machina, não há falhas. E em alguns trechos, o fluxo de pensamentos de Scarlertt encantam ou te enojam, a depender do humor da personagem

Sai dessa leitura completamente envolvido, ganhou meu voto de melhor leitura do ano, entrou para o top 5 melhores livros da vida. E recomendo a leitura.

Obs. Não se baseie pelo filme, assisti depois da leitura e é infinitamente inferior, apesar de todo o frissom sobre ele, há um abismo de distância entre as duas obras, mas não comentarei sobre ele hoje, amanhã eu penso nisso.
Vanessa.Castilhos 10/09/2023minha estante
Resenha excepcional!!! Parabéns, Alexsander!! Só fiquei com mais vontade ainda de ler este clássico! ???


Alex 10/09/2023minha estante
Obrigado, Vanessa. Leia, é imperdível.


Aryana 10/09/2023minha estante
Excelente! ??


Déia 17/09/2023minha estante
Eu já sou apaixonada pelo filme, já sei que na maioria das vzs o livro é sempre melhor, e depois dessa resenha???


Alex 17/09/2023minha estante
Deia, se você gostou do filme (eu não gostei) irá amar o livro.


Núbia Cortinhas 03/10/2023minha estante
Adorei a resenha e confesso que fiquei com vontade de ler.


Alex 03/10/2023minha estante
Nubia, é uma obra imperdível. Esta no meu top 5, melhores livros da vida. E eu sequer pensava nele, antes de iniciar.


Carolina.Gomes 03/10/2023minha estante
Um dos preferidos da vida.


Fernanda.Telles 17/01/2024minha estante
Oiee,tudo bem?vi ali que vc colocou 1600 páginas...poderia me falar qual é esta edição?pq todas que eu procurei mostra m3nos páginas e cada edição um número diferente,vi com 700 outra 950,outra com 1100 mais ou menos. Tenho interesse em ler mas estou na dúvida qto que edição adquirir.




Cleuzita 01/05/2021

Melhor livro que já li até hoje
Nunca li nada tão bem escrito, com personagens tridimensionais, embasamento histórico de excelência, enredo instigante e crível. Eu li cada página com empolgação e afeto. Não tive tédio nem preguiça, pelo contrário, só queria mais... Pela primeira vez tive dó de terminar um livro, fiquei economizando as últimas cem páginas.
Como já fiz outras vezes, li ouvindo a trilha sonora do filme, naquele meu velho ritual e imersão. Como não poderia falta, já estou a postos para assistir ao filme, mais uma vez, só que agora graças ao presente maravilhoso que ganhei da minha amiga Séfora.
Este é o melhor livro que já li até hoje. ?
Ellen256 01/05/2021minha estante
ahhh Me deixou com mais vontade ainda de ler


Cleuzita 01/05/2021minha estante
Ellen, estou deslumbrada com esse livro. Já amava o filme, agora posso dizer que amo o livro também. Faço um bem a si mesma, leia esse livro. Só dou um conselho, não faça anacronismo histórico. Esse livro foi escrito entre 1926 e 1936, tratando de um período de quase 60 anos antes, ou seja, tanto quem escreveu quando o período contato são distantes de nós... tem muita coisa que causa estranhamento e incômodo, como o caso dos negros, afinal somos de uma outra época. Se você conseguir esse distanciamento, vai amar essa obra prima.


Silvana (@delivroemlivro) 01/05/2021minha estante
Li em 2019 e classifiquei com 5 estrelas (o que significa ótimo), coisa muita rara de acontecer. O filme, apesar de algumas alterações, também é incrível!


Ellen256 01/05/2021minha estante
Obrigada pela recomendação, Cleuzita


Ellen256 01/05/2021minha estante
Quando terminar quero mt ver o filme


Cleuzita 01/05/2021minha estante
Oii Silvana, é ótimo mesmo. Sobre o filme, que é maravilhoso também, fez algumas alterações, na minha opinião necessárias, para conseguir resumir uma história tão imensa em algumas horas... Quero reler essa história no futuro


NEA BRITO 03/05/2021minha estante
Parabéns Colega, resenha maravilhosa...


Cleuzita 03/05/2021minha estante
Oiii Nea, obrigada pelo carinho. Muito bom te ver por aqui. Um abraço carinhoso pra você.




Cy 20/03/2019

Not a damn was given that day. =P
Minha experiência com este livro não foi das mais positivas. Não digo que tudo foi terra arrasada, gostei de alguns aspectos e tem a Mellie. ♡ Mitchell escreve bem, o livro flui mesmo tendo quase 1000 páginas e, embora frustrada com a leitura, eu queria chegar ao fim e saber o que ia acontecer. O livro está longe de ser uma história horizontal: possui muitas reviravoltas e está em ação quase todo o tempo, o que é um refresco em calhamaços. No entanto, o que entendi como pontos negativos no romance me causaram mais incômodo:

- A ideologia (racista) da autora, o que me faz questionar esse livro ser TÃO cultuado até os dias de hoje...

- Apesar de não gostar da protagonista, esperava UM MÍNIMO de alguma transformação positiva nela, visto a personagem ser tal ícone da cultura pop. Pra mim, Scarlett começa como uma adolescente pirralha e termina como uma pseudo heroína odiosa. Não vejo méritos em pessoas inescrupulosas, "capazes de qualquer coisa" para sobreviver, quando esse qualquer coisa significa usar/passar por cima das pessoas. Existe uma diferença entre ser uma pessoa forte e resiliente e ser uma pessoa sem limite moral, que manipula, pisa e fere qualquer um que lhe sirva a um propósito. Para mim, Scarlett O'Hara ultrapassa em milhas essa linha e não consigo ver encanto algum nisso. A tão falada "transformação" de Scarlett se resume a passagem da 'criança classe média sofre' para a jovem com estresse pós-traumático e, por fim, uma mulher empreendedora (depois de passar a perna em pelo menos meia dúzia de pessoas pelo caminho, utilizar mão de obra escrava de detentos brancos conscientemente e conivente com os maus tratos a quais eram submetidos). Sua essência continua a mesma, infelizmente, e na segunda parte do livro só piora. Uma criança mimada por não ter o que quer, só pra ter o gosto de jogar fora/desprezar depois, egoísta, com pouca inteligência para coisas que realmente importam e que ainda por cima maltrata os filhos. Inclusive, a forma como ela trata e fala dos filhos é simplesmente nojenta.

- Em minha leitura, eu vejo Scarlett e Rhett como representações de um mundo industrializado do norte em ascensão: representam iniciativa, empreendedorismo, obsessão por dinheiro, livre especulação de oferta/mercado. Termos que descrevem o capitalismo selvagem, onde é visto com "bons olhos" a exploração da força de trabalho alheio para lucro do opressor. Onde só os "fortes" sobrevivem, onde os "fracos não tem vez, onde deus ajuda quem cedo madruga" e toda essa falácia bem típica do capitalismo americano. Mitchell faz um esforço danado para garantir que o leitor caia no canto de que Scarlett e Rhett são as únicas pessoas resilientes, os únicos com capacidades de garantir a sobrevivência dos demais: dos negros domésticos incapazes, das mulheres-damas incapazes, do pobre Ashley incapaz. A própria Scarlett acredita que é a única capaz de qualquer coisa e que todos dependem dela, logo, os fins justificam seus meios. Projeta seu egoísmo em todos, a fim de justificar ser egocêntrica.

- Até mesmo personagens dos quais gostava no início, sofreram derrotas pelo caminho. A Melanie provavelmente continua sendo a única "resgatável". Rhett... não sei o que se supõe que devemos pensar sobre Rhett. Provavelmente ele é o melhor personagem do livro, no sentido de construção de personagem: observador, vê através das pessoas, e reconhece o crápula que é. Com ele, a Mitchell alcançou, pra mim, o que ela não conseguiu me fazer ver na Scarlett: carisma em um personagem moralmente torto. No entanto, me decepcionou muito que o Rhett, tão inteligente e que supostamente era o único capaz de lidar com a Scarlett, se torna mais do mesmo quando passa a exigir dela coisas que ele sabia que ela não era capaz. Não sei se era intenção da autora ou se ela perdeu a mão, mas eu achei o terço final do Rhett (em relação à Scarlett) fora do personagem. Vibrei com seu "final", pois ali vi o velho Rhett (e pude rir da Scarlett =P).

- Por último, mas nem de longe menos importante: a Ku Klux Klan ser romantizada como "uma tragédia necessária", uma instituição de bons homens brancos do sul defendendo as honras de suas boas mulheres brancas. NÃO, APENAS NÃO!

Por fim, o livro passou tempo demais tentando me convencer de coisas nas quais não acredito, disfarçadas por covinhas e vestidos esvoaçantes, exploração do outro e o bom escravismo do sul, que tratava seus negros como pessoas da família. No geral, foi decepcionante, pois a expectativa era acima do topo. Li muitos problemas para considerá-lo um livro que envelheceu bem. Eu sei que a maioria esmagadora ama esse livro com paixão, mas... "frankly, my dear, I don't give a damn." =D
Lili 21/03/2019minha estante
Aaahhhh que pena que você não gostou =(


Cy 29/03/2019minha estante
'Num' deu. rsssss


Lili 29/03/2019minha estante
Fuen fuen fuen


Rafa 24/08/2019minha estante
Até que enfim um resenha exatamente o que eu penso, não entendo o porquê o livro é tão falado, não me encantou em nada.


Sara Sena 14/11/2019minha estante
Penso exatamente o mesmo que você, não entendo porquê tanta gente gosta da Scarlett, é uma personagem que passa por cima de todos pra conseguir o que quer, não enfrenta realmente os problemas, com a sua máxima "pensarei nisso mais tarde" repetida mil vezes durante o livro. E também tive a impressão de que a autora era racista.


Soraya Freitas 15/01/2020minha estante
A parte da KKK é a que mais me incomoda. Ainda não terminei a leitura, mas nossa.. até parece que aqueles homens brancos estavam fazendo algo bom. Eu entendo que na época podia-se sentir que era assim, mas a autora nem chega a discutir isso, apenas enaltece como heróis incompreendidos defendendo suas mulheres. Tipo, quê?


Samile 30/09/2020minha estante
Finalmente encontrei uma resenha que disse o que pensei do livro!!




Luh 24/05/2022

Mas,do meu ponto de vista pessoal vou dizer:é uma obra prima
Tem pouco tempo que comecei a pegar o gosto pela leitura. Confesso que quando decidi ler E o vento levou, fui um tanto ambiciosa, já que a maioria dos livros que tinha lido até o momento tinham cerca de 300 páginas. Achei que em algum momento iria cansar e acabar desistindo da leitura. Mas foi ai que me enganei, não me cansei da leitura nem por um minuto. É incrível como a história vai sendo construída pouco a pouco, passando por toda a trajetória de Scarlett e todos aqueles em sua volta. E gente, eles passam por muitas coisas kkkkk. A história te traz tantas reviravoltas, e tantas histórias a serem desenvolvidas que você se encontra imerso naquilo, esperando ansiosamente pelo que vem pela frente. Antes mesmo de terminar a leitura, eu já sabia que este livro se tornaria o meu preferido (pelo menos até o momento kkk). Eu apenas gostaria que o livro tivesse mais mil páginas, para que a história pudesse continuar, confesso que apesar de ser compreensível, fiquei muito triste com o final. Mas mesmo assim, não estraga nem um pouco a experiência incrível de ler este livro.
Ainda não entendo bem os termos, mas devo dizer também que E o vento levou é o puro suco do Hate to Love/ Enemies to Lovers. A personagem da Scarllet é bem complicada tem horas que você quer dar três tapas na cara dela por conta de suas atitudes totalmente egoístas, talvez lhe falte o tal do caráter kkkk, mas é incrível em como ela se torna uma mulher forte e em como ela é julgada por tudo aquilo que se tornou. Mas é triste ver que apesar de ser essa fortaleza, ela era muito ignorante no que se diz respeito aos próprios sentimentos. Bom, o livro é incrível! Leiam ! ??

P.s.: agora já posso ver o filme, espero que seja tão bom quanto o livro ?
Lu @gentequeamalivros 09/06/2022minha estante
Como uma amante desse livro só posso dizer que começou lendo o livro certo ??.


Luh 10/06/2022minha estante
Siiiim, ele conquistou meu coração de uma forma, foi até triste quando acabou


Lu @gentequeamalivros 11/06/2022minha estante
Eu entendo pq todos os dias que olho pra ele na estante quero reler ?. E sempre que alguém fala E o vento levou bate uma saudade que nem sei explicar ?.


Luh 14/06/2022minha estante
Siiiim, eu terminei a pouco tempo, já comecei a ler outro, mas as vezes eu me pego pensando na história. Em como eu gostaria de tivesse mais ?
Você leu a ?continuação? que foi escrita por uma outra autora?


Lu @gentequeamalivros 20/06/2022minha estante
Eu comecei a ler mas parei pq senti um pouco de diferença na escrita e aí infelizmente já começa a comparação então resolvi dá um tempo pra dar uma "esquecida", se é que é possível fazer isso ??. Mas com certeza vou pegar novamente.


Luh 21/06/2022minha estante
Kkkkkkkk impossível né. Também vi alguns comentários sobre essa diferença, uma pena, mas pretendo ler também. Estou curiosa com a possível continuação ?




Kira 09/06/2021

"Nosso sistema sulista de vida é tão antiquado quanto o sistema feudal da Idade Média. O incrível é ter durado tanto tempo. Tinha que acabar, e está acabando agora."

Nada melhor do que começar com uma frase de Rhett, isso descreve bem toda essa sensação de saudosismo pífio que o livro tenta passar. Era um período antiquado e antiético e muita das vezes inclusive patético. Patético? Sim, aqueles cortejos no começo da trama com vários homens em cima de Scarlett me fizeram gargalhar horrores hahaha

Enfim, a narrativa trata de muitas questões a cerca de classe e desigualdade social, racismo e machismo.

No início além de ser mostrado toda a parte desumana do sistema escravagista (mesmo com uma tentativa medonha de romantização quanto a isso), tem também os brancos ordinários(que eu fui pesquisar e é a tradução do que até hoje em dia eles chamam de White trash nos EUA) que no contexto da época era os brancos pobres, visto como uma casta inferior semelhante aos negros com a diferença de serem livres.

Nas questões raciais dá pra entender, um pouco que superficialmente como o racismo se seguiu na sociedade americana; afinal após o período da Reconstrução veio a segregação racial e a lei antimiscigenação.
Acho muito interessante também mostrar essa visão que além dos Confederados serem explicitamente e intrinsecamente racistas, os Ianques também o eram; (Assim como no caso do Brasil a dona Isabel não assinou a Lei Áurea porque era boazinha)
Tanto que a libertação aconteceu e não teve uma inserção de verdade na sociedade americana, um apoio de verdade, foi basicamente um "olha te virem".
Vou deixar um pequeno artigo aqui sobre:

"Quando o Congresso proibiu oficialmente a importação de escravos em 1808, ninguém imaginava que as divergências entre o Norte industrializado e o Sul agrícola fossem se agravar tanto, a ponto de culminar numa guerra civil. A escravidão foi o estopim do conflito, mas suas causas foram um complexo emaranhado de fatores socioeconômicos e político-culturais.

Na primeira fase do conflito, o Norte lutou pela unidade da nação e não pela abolição da escravatura. Tanto que o presidente Abraham Lincoln escreveu a um jornalista: "Se eu pudesse salvar a união sem libertar um único escravo, eu o faria".

Ao ver que os nortistas não conquistavam vitórias decisivas, Lincoln aderiu às reivindicações dos republicanos radicais e abolicionistas, e transformou a guerra contra os "Estados rebeldes" numa luta contra a escravidão.

Os Estados do Norte vincularam ao Ato de Emancipação de 1° de janeiro de 1863 uma reestruturação do sistema social do Sul. Os negros passaram a ser recrutados pelo exército nortista, mas a proclamação de Lincoln não significou uma abolição institucionalizada da escravatura.

Os 4 milhões de negros ainda tiveram de esperar até dezembro de 1865, quando o Congresso proibiu oficialmente a escravidão nos Estados Unidos através da 13ª Emenda Constitucional.

Pelo artigo suplementar 14, os negros obtiveram direitos iguais aos brancos em 1868. Dois anos mais tarde, o artigo 15 garantiu-lhes a igualdade de direito eleitoral. Estados como Carolina do Sul, Mississippi e Louisiana, porém, deram um jeito de burlar os direitos dos escravos libertados, mantendo restrições legais, os chamados black codes.

A Declaração de Emancipação de Lincoln não conseguiu acabar, de repente, com a humilhação da raça negra. Ela também não impediu a violência contra os negros. Ao contrário, motivou até mesmo a criação de sociedades secretas, como a Ku Klux Klan, que estabeleceram como objetivo manter a hegemonia branca no Sul do país. Uma prova do êxito desse tipo de organização é que somente em 1967 foram anuladas as últimas leis de proibição de casamentos mistos."

Fonte: https://www.dw.com/pt-br/1863-estados-unidos-abolem-a-escravid%C3%A3o/a-372001

Acerca do sistema machista tem diversas passagens, como a que Ellen fala sobre a administração das fazendas ou quando Scarlett começa a trabalhar com a loja e a serraria.

"O mundo pertencia aos homens, e ela o aceitava como tal. O homem possuía a propriedade, e a mulher a administrava. O homem levava o crédito pela administração, e a mulher elogiava sua esperteza. O homem berrava como um touro se tivesse um espinho cravado no dedo, e a mulher sufocava os gemidos do parto para não perturbá-lo. Os homens costumavam ter a fala áspera e se embriagar. As mulheres ignoravam os lapsos da linguagem e botavam os bêbados na cama. Os homens eram grosseiros e francos, as mulheres, sempre gentis, graciosas e magnânimas."

"Uma ideia surpreendente essa, que uma mulher podia tratar de negócios tão bem, ou melhor, que um homem, uma ideia revolucionária para Scarlett, que fora criada na tradição de que os homens eram oniscientes, e as mulheres, não muito inteligentes."

A narrativa vai e volta assim, ora progressista, ora conservadora e até se confunde, mas considerando o contexto histórico do período em que foi escrito é uma obra bem a frente do seu tempo e imagino que deva inclusive ter escandalizado a sociedade da época.

Agora vamos finalmente falar sobre Scarlett.
Ah Scarlett que personagem meus queridos... Brilhante definitivamente!
Uma mulher egocêntrica e destemida, que não pensa muito ou nunca pensa sobre o outro se este estiver em seu caminho.
Scarlett é realmente um sobrevivente e uma lutadora, que usa de todos os artifícios para sobreviver a fome e a morte do seu famigerado mundo.
Impetuosa, voluntariosa, obstinada e sem medo de seguir em frente mas nem tanto.
Pois é, tinha uma pedra no meio do caminho de Scarlett e essa pedra se chamava Ashley! Com certeza nunca poderei entender como uma pessoa tão inescrupulosa e pragmática quanto a Scarlett se deixou ficar tão obsecada por alguém tão sem vida como Ashley e, pior, fazer disso sua ruína.
Mas enfim, Scarlet não parece aprender sobre a obsessão com Ashley no final e aparenta seguir o mesmo caminho com Rhett.
Dito isto Scarlet é fascinante pois não é uma vilã e também não é uma mocinha, ela ultrapassa essa barreira maniqueísta de ver às coisas.


"Nada em todo este mundo pode nos derrotar, mas podemos derrotar a nós mesmos ao procurar com demasiado afinco por coisas que já não temos... e por relembrar demais."
Carolina.Gomes 10/06/2021minha estante
Obsessões arruinam a vida do ser humano. Scarlet ficou apegada a uma pedra durante a vida toda e se afundou c ela.


Kira 10/06/2021minha estante
Scarlett era muito inteligente com números, mas uma negação pra relações interpessoais né? Hahaha


Carolina.Gomes 10/06/2021minha estante
Geralmente é assim kkkk


Almeida 04/07/2021minha estante
???




John 10/02/2011

Jamais se entregue à derrota...
Foi o que aprendi com este grande livro.
Margaret Mitchell, criou um dos mais belos livros do mundo.
... E o vento levou acompanha a vida da aristocracia sulista que vê a decadência de suas vidas durante a Guerra de Secessão. Nele conhecemos vários personagens: O cavalheiro Ashley Wilkes, a meiga e gentil Melanie, o sedutor Reth Butler e a impetuosa Scarlett O'Hara.
Esse é meio que um livro de auto-ajuda sem a aparência de auto-ajuda. Scarlett, através das suas privações e dificuldades sempre nos encoraja a nunca desistir mesmo perante os mais terríveis problemas.
Sempre que posso eu o releio pois me ajuda a me deixar mais forte para enfrentar meus medos.

Trecho preferido: "E reviu o movimento de ombros, quando Sacrlett lhe deu as costas, assim como o altivo erguer da sua cabeça. Todo o seu coração pulava por ela, despedaçado pela impossibilidade de ajudá-la e arrebatado de admiração. Sabia que, no vocabulário dela, não existia a palavra "denodo" e que, se lhe fosse dizer que ela era a alma mais intrépida que já encontrara, arregalaria os olhos sem compreender como nunca desconfiaria das coisas, realmente admiráveis, que ele sintetizaria ao chamar-lhe brava. Sabia que Scarlett aceitaria a vida tal qual se lhe apresentasse, opondo seu espírito obstinado a quaiquer obstáculos. Combatê-los-ia, com uma resolução que não admitia derrotas e, enquanto fosse necessário, continuaria a luta, mesmo sabendo que seria inevitavelmente vencida.
Durante quatro anos, vira homens recusarem-se à derrota inevitável. Homens que cavalgavam para a destruição certa, porque eram denodados e bravos. E foram também vencidos.
Mas, enquanto olhava para Will no vestíbulo mal iluminado, pensou que jamais vira intrepidez comparável à de Scarlett O'Hara, que saía a conquistar o mundo, tendo por armas as cortinas de veludo de sua mãe e as penas da cauda de um galo."
(...e o vento levou, pág.522)
Ana Maria 20/02/2011minha estante
"Scarlett O'Hara, que saía a conquistar o mundo, tendo por armas as cortinas de veludo de sua mãe e as penas da cauda de um galo."
O mundo precisa de Scarletts :)


John 22/02/2011minha estante
Realmente precisa, rsrs :)


Jéssica Santos 25/04/2011minha estante
John,me arrebatou seu trecho favorito,tenho outros,e nunca tinha parado significativamente nesta parte,mas agora lendo-o isolado. Meu deus. Voce tem tooooooda razão,que trecho lindo.....

Depois que eu ganhei esse livro ,eu não sei voce,mais eu ganhei uma força que eu tenho consciência de que não tinha,apesar de sempre ter sido independente,sagaz e tal,tenho motivos para isso,que não vem ao caso,mas mesmo assim ,ele foi o estopim ,sempre que em acontece alguma coisa eu lembro na Scarlett no Rhett pessoas que lutaram até o fim. Porque apesar de ser uma história de ficção,há pessoas por aí com o mesmo dom de não deixar ser derrotado jamais. E é nisso que a agente tem que se fixar.


John 20/05/2011minha estante
Obrigado Harttley, é um trecho que sintetiza bem a força que Scarlett passa para nós.
Nossa, depois que vi o filme fiquei louco para ler o livro, compri e nem demorei muito pra ler, ele é simplesmente demais, ajudou muito a ter forças de enfrentar o mundo e os problemas. Temos que ser mais vitoriosos e não abaixar a cabeça diante das dificuldades.
bjs




Gláucia 01/09/2016

E o Vento Levou - Margaret Mitchell
Releitura do livro que inspirou o mais perfeito filme da história do cinema, não saberia dizer dizer quantas vezes o assisti. O filme é longo mas a gente entende o porquê ao ler o livro: está praticamente tudo lá, não falta e apenas alguns pequenos detalhes e alguns personagens foram suprimidos. Mas muito pouco e até os diálogos estão iguais, parecem ter sido apenas transpostos para o roteiro.
Pra que ler (e até reler)? Para podermos acompanhar a intimidade do pensamento da mais fascinante personagem feminina da literatura: Scarllett O'Hara. Que mulher! Egoísta, ambiciosa, vaidosa, forte e absolutamente inescrupulosa. Não existem limites para que ela consiga tudo aquilo que deseja; a grande questão é conseguir fazer tudo e continuar passando por aquilo que se considerava ser uma dama respeitável na época.
O erro é apresentar o livro como a maior história de amor de todos os tempos, isso o diminui muito. A trama se inicia na guerra de Secessão e descreve o apogeu e a queda da aristocracia sulista, nos fazendo entender as origens e as diferenças entre norte e sul. É dramática a profunda transformação que essa guerra (a única feita pelos americanos em seu próprio país) provocou no sul em todos os sentidos, econômico, social, etc, e a narrativa da autora descreve tudo isso de forma que enxergamos cada passo dessa mudanças como se estivéssemos vendo um delicioso documentário.
E não preciso falar de Rhett Buttler, o mais honrado dos párias. E tão perfeito para Scarllett que o final não teria como ter sido diferente. Ahh que final... de deixar a gente sem ar... Mas não quero pensar nele agora. Pensarei nesse final amanhã...
Samara 01/09/2016minha estante
Já ouvi muito falar do filme e do livro, adorei sua resenha


Gláucia 01/09/2016minha estante
Obrigada Samara. O livro é excelente mas o filme é perfeito ??


Vanessa 01/09/2016minha estante
O melhor livro da minha vida, até agora. Só falta eu assistir o filme, mas antes preciso me recuperar desse final.


Iza 01/09/2016minha estante
Um dia ainda quero ler, já assistir ao filme, passei mais metade de um dia para vê-lo todo e gostei muito.




Michela Wakami 06/04/2020

Perfeito
Scarlett e Rhett, o que dizer desses protagonistas?
Uma história envolvente, cheia de surpresas.
Um livro muito bem escrito, que desnuda o caráter, dos nossos protagonistas e nos faz refletirmos sobre a capacidade de algumas pessoas a fazerem qualquer coisa para terem o que querem.
Nos mostra a cegueira, que acomete essas pessoas, sobre verdades, que só elas não conseguem enxergar.
Livro maravilhoso, que traz momentos históricos, muito importante, que não devem ser esquecidos.
kiwtty_z 03/11/2021minha estante
aaa, eu quero muito ler esse livro, e está tendo uma LC, tô pensando em ler junto


kiwtty_z 03/11/2021minha estante
muito obrigada!!


Michela Wakami 03/11/2021minha estante
Ema, esse livro é maravilhoso! Lê-lo em uma LC, deve ser delicioso, caso decida participar dessa LC, te desejo uma ótima leitura.


Michela Wakami 03/11/2021minha estante
Por nada!???




Lucas 17/09/2018

A eternidade literária em um novo ângulo: Um tratado sobre o fim dos preconceitos literários e sobre a extinção de uma era
São infinitos os modismos e paradigmas que existem dentro da literatura. A secular questão das adaptações cinematográficas, as imagens pré-concebidas de certas obras, a contundência de opiniões alheias... Tudo isso e mais uma enormidade de fatores contribuem para que o leitor cresça e se desenvolva com base em teorias, achismos e opiniões unilaterais que muitas vezes afastam este mesmo leitor de um grande livro.

E O Vento Levou, obra-prima da escritora norte-americana Margaret Mitchell (1900-1949) é o mais perfeito exemplo de livro maravilhoso mas que é vendido erradamente, o que cria certos preconceitos. Neste caso, a obra passa a impressão de ser um romance "dramático" ou algo no estilo Jane Austen: uma protagonista feminina forte, um cavalheiro encantador e uma opressão social ora intensa ora disfarçada. A inconfundível imagem-símbolo da adaptação cinematográfica (o ator Clark Gable tendo nos braços uma jovem Vivien Leigh, com um olhar apaixonado) alimenta o conceito de "romance feminino", que acompanha o livro. É uma tese meio machista, de fato, mas há sim um certo preconceito literário com relação à obra entre os homens. Mas as primeiras páginas já desconstroem isso: E O Vento Levou transcende o passar das décadas e todo e qualquer pré-conceito advindo de "lendas urbanas" que tentam limitar o público-alvo de sua narrativa.

Katie Scarlett O'Hara: um lindo nome, mas mais do que isso, um símbolo. Sinônimo de determinação, de transformação, de resiliência e de, por que não, polêmica. A protagonista d'E O Vento Levou é tão incrível, crível e emblemática que parece palpável, tamanha a sua complexidade. Definitivamente, a maior personagem feminina literária da história (na visão do autor da resenha) é um exemplo de garra e força de vontade, moldado por meio de uma sociedade que não via com bons olhos a independência feminina.

Tamanha dignificação da protagonista não é baseada apenas em floreios ou boas atitudes. Grande parte dos pensamentos e ações de Scarlett na obra são alvos de crítica e nutrem até mesmo certa repulsa por parte do leitor. Sua crueza, sua inicial futilidade, sua falta de consideração para com certas pessoas ou parentes que a rodeiam e seu eterno senso de "estrelismo" deixam quem está lendo sua história com raiva em vários momentos. Mas em todos eles é preciso que se avalie Katie Scarlett como uma pessoa prática, que não se importaria muito com a sua honra ou sobrenome em nome de uma vida melhor a ela e aos seus. Não há sacrifício que não possa ser feito, nem valor que possa ser quebrado para que haja comida na mesa e uma cama quente. Mas assumir essa postura materialista traz um preço que nem toda a pessoa é capaz de pagar...

A mocinha (começa a história com dezesseis anos) é a primogênita de Gerald O'Hara e Ellen Robillard: ele, imigrante irlandês, ela, descendente de franceses. Fica nítido que cada um dos pais de Scarlett carrega consigo muito das características de sua respectiva origem. Enquanto o pai é impulsivo, dono de um caráter quente, Ellen parecia feita de porcelana: delicada, mas forte por dentro. Além de Scarlett, o casal teve mais duas meninas: Suellen e Carren, ambas abissalmente distantes da grandeza de sua irmã mais velha, cada uma com seu respectivo motivo, como o leitor perceberá. Em meio a uma história fascinante de superação e força de vontade, Gerald, recém-chegado aos EUA, adquire Tara, a fazenda que irá tomar para si ares de protagonista oculta, já que tudo acaba girando em torno da sua manutenção e desenvolvimento.

Além do núcleo familiar dos O'Hara, são vários os personagens coadjuvantes que merecem menção. Dentro disso, chamará a atenção do futuro leitor a figura de Melanie Hamilton, mulher encantadora que está de casamento marcado com Ashley Wilkes, vizinho de Scarlett e seu grande amor (tais revelações não são spoiler's, pois aparecem logo nas primeiras páginas). Melanie é a irmã de Charles, tímido personagem que exercerá grande importância inicial na história. Há ainda os escravos Mammy (babá) e Pork (camareiro), cujas falas (assim como de outros escravos) são transcritas com diversos lirismos típicos de pessoas sem instrução (o que é algo que traz uma forte realidade à escrita de Mitchell). Ainda existem outros personagens igualmente importantes e, algo louvável, são desenvolvidos em sua plenitude. Todo o texto em si traz escancarada a preocupação da autora em demonstrar cada personagem, protagonista ou não, em seus anseios, pensamentos e justificar suas atitudes.

Por mais que muitos nomes sejam ignorados (até para que se evitem maiores revelações antecipadas), é impensável que se teça qualquer comentário sobre E O Vento Levou sem que se mencione o protagonista masculino da obra, o capitão Rhett Butler. Se Scarlett era um contraponto, uma figura "fora da curva" de um padrão social secular àquela época, Butler era um contraponto a ela própria. Suas atitudes ferinas, sempre colocando a protagonista em seu devido lugar nos momentos em que o já mencionado "estrelismo" salta aos olhos, são um deleite único (os diálogos entre os dois são momentos totalmente inesquecíveis). Mas assim como Scarlett, Rhett é alvo de ressalvas: suas atitudes por vezes são injustificáveis e é natural que se desenvolva raiva por elas.

Se no estilo já mencionado de escrita da maravilhosa Jane Austen (1775-1817) há a presença de cavalheiros plenos, com condutas simples e transparentes que são símbolos de toda a literatura (Mr. Darcy que o diga), Rhett Butler é criado a partir de tudo o que há de mais mundano num contexto assim. Sua origem familiar, seu passado e, principalmente, sua visão de sociedade, são sombrias: para ele, o mundo é um lugar cruel e o materialismo é um elemento central da convivência social. Mas Butler está neste mesmo panteão do par romântico de Elizabeth Bennet (Orgulho e Preconceito) justamente por aliar a praticidade necessária no entendimento comum entre marido e esposa e aquele fulgor irremediável e eterno que é necessário na relação. Tal atributo faz dele um homem passional, disposto a assumir os riscos de suas atitudes e, talvez por isso, ainda mais real.

Tara ficava no condado de Clayton, região noroeste do estado da Geórgia, cerca de 50 quilômetros distante de Atlanta, a capital e cidade mais conhecida do estado (e onde se passa a maior parte da narrativa). A fazenda e as propriedades vizinhas simbolizavam bem o velho sul dos EUA: vastas regiões de terra vermelha que produziam todo o algodão do país. Uma terra onde a família e a honra não eram meramente conceitos: eram a essência de um modo único de viver que foi se extinguindo com o tempo. A narrativa d'E O Vento Levou começa em 11 de abril de 1861, precisamente um dia antes do início daquele que é o maior conflito civil da história dos EUA: a chamada Guerra de Secessão, que rachou o país entre o Norte e o Sul.

Os livros de história retratam que a guerra envolvia quase que unicamente a questão da escravidão, mas E O Vento Levou expande essa questão: o Sul, que sustentava a produção agrícola do país, dependia da mão de obra escrava para o manejo do algodão e do tabaco, e era o grande sustentáculo dessa produção nacional. Já o Norte, com um solo mais rochoso e impróprio para agricultura, se especializava no comércio e manufatura e o acúmulo de capital (em consonância com a Primeira Revolução Industrial) fez com que a região fosse se desenvolvendo muito mais rapidamente que o Sul. As tensões foram aumentando a tal ponto que no mesmo ano de 1861 os sulistas criaram os Estados Confederados da América, uma associação política criada entre seis estados do Sul para combater as ações de Abraham Lincoln (1809-1865), abolicionista que tinha vencido as eleições presidenciais no ano anterior.

A Geórgia, um destes seis estados, assumiu posição de destaque no conflito, e como a narrativa se debruça sobre Scarlett, sua família e seus vizinhos, todos confederados, a narrativa traz um ângulo nunca antes tão bem elaborado: a história contada a partir do lado perdedor de uma guerra. O leitor sabe que a vitória da União (estados do Norte) destruiu o Sul; Atlanta mesmo, na época uma cidade com dez mil habitantes, foi incendiada e pouca coisa sobrou (hoje é uma cidade pujante, sede mundial da Coca-Cola). Mesmo que não seja mencionado diretamente os pormenores de uma batalha sequer, a narrativa é capaz de elucidar todas as questões deste conflito por meio da visão das mulheres que ficavam em suas casas, esperando seus filhos, maridos, irmãos e pais que estavam lutando por todo um sistema social que acreditavam ser impossível ruir.

Essa elucidação se dá pelos sofrimentos passados por Scarlett. Por motivos próprios da narrativa, ela vê todo o conflito de Atlanta e o drama surge com força no final da segunda parte da obra (são cinco partes no total). Em meio ao caos e à destruição, Scarlett parte para uma jornada onde imperam o dramático e o improvável, que acaba rompendo seus laços finais com a adolescência mimada que até então possuía. É impossível não devorar o livro nestes momentos de agonia, tamanha a decrepitude que cerca a protagonista.

As duas partes finais do livro se dedicam a situar Scarlett e seus entes próximos na chamada Reconstrução, a fase que sucedeu o conflito. Aqui neste período o leitor adquire ainda mais noção da singularidade d'E O Vento Levou em demonstrar o lado ferido e derrotado de uma guerra: talvez mais dificultoso que o próprio conflito em si é o que está por vir após o seu fim. Com agora o controle dos ianques (termo mais popular para designar os seguidores da União), os antigos confederados eram perseguidos pelas autoridades pelas mais obscuras e fúteis razões. Foi uma época dura, de muito trabalho e pouca riqueza, que marcou o fim de toda uma estrutura social secular dos Estados Unidos.

Dentro desse contexto, Mitchell descreve o impacto da abolição da escravatura. Com a vitória da União, os escravos ficaram livres; mas como não houve nenhum tipo de mecanismo sustentável para eles, apenas um apadrinhamento político, grande parte dos escravos foi renegada à pobreza e à revolta. Alguns negros ainda ficaram com seus respectivos donos, mas a grande questão aqui é a distorção que livros populares de história fazem a respeito dos sulistas, colocando-os como verdadeiros carrascos dos escravos. A nova vida de Scarlett demonstra que muitos nortistas defendiam a abolição apenas da boca pra fora: boa parte deles era repugnantemente racista, tratando ex-escravos como animais desprovidos de qualquer tipo de inteligência ou humanidade. Muitos sulistas, por outro lado, mesmo que acreditassem que a escravatura era meramente uma estrutura da sociedade, tratavam muito melhor os negros do que quem se dizia seus libertadores. Mas se há uma coisa que a história não permite é a generalização: não havia um lado "inocente" na questão. O que a autora oferece formidavelmente é uma visão diferente de um tema eterna e universalmente polêmico. O livro em si, quando publicado, gerou intensas polêmicas por mostrar esse lado menos popular do conflito que marcou a marca várias gerações de norte-americanos.

"Scarlett O'Hara não era linda, mas os homens raramente se davam conta disso quando enveredados por seu encanto, como acontecia aos gêmeos Tarleton". A primeira frase d'E O Vento Levou é interessante: parece que todos 67 capítulos da obra derivam deste "mas"; tudo seria completamente diferente se Mitchell não tivesse escrito essa conjunção neste momento. Pensando bem, toda a lógica imiscuída em cada linha do livro é baseada num "mas", numa contraposição ao que se entendia como algo valoroso, ético, honroso ou honesto. A jornada de Scarlett não é um lindo romance, composto de uma gananciosa determinação e ambientado num contexto de dor e rivalidade; é, antes de tudo, a história de alguém que não sabia como abaixar a cabeça frente às dificuldades próprias e que não questionaria seus métodos para obter uma vida melhor. A capacidade de adaptação frente a um mundo hostil é o grande baluarte d'E O Vento Levou e, condiga-se, é algo muito distante de um melodrama feminino. E tais perspectivas atravessaram as décadas e permanecerão para sempre, pois a obra, no alto de sua excelência, é impossível de ser esquecida pelo ventar dos anos.
Isil 19/09/2018minha estante
Certa vez li que a Margaret Mitchell escolheu o nome da protagonista às pressas, pouco antes de entregar o manuscrito aos editores. Curioso, não? E ainda escolheu um nome tão significativo.


Peregrina 29/09/2018minha estante
Que resenha, Lucas! Parabéns!


Quezia 22/11/2018minha estante
Ótima resenha!


meriam lazaro 28/02/2019minha estante
Que espetáculo de resenha. Adorei




Peregrina 25/05/2018

Majestoso
"Havia uma terra de Cavaleiros e Campos de Algodão chamada de Velho Sul. Aqui, nesse belo mundo, o Galanteio fez sua última aparição. Aqui, foi a última vez que se viu Cavaleiros e suas Belas Damas, Mestre e Escravo. Procure-o apenas em livros, pois não é mais do que um sonho lembrado, uma Civilização levada pelo vento."

Embora pertença ao filme, o trecho acima dá uma boa noção do que esperar do livro também, que narra uma história de sofrimento, amadurecimento e superação não só de alguns personagens, mas de metade de uma nação.

Isso porque E o vento levou conta a história dos perdedores da Guerra da Secessão, conhecemos um lado da história que não costumamos estudar durante as aulas. Os confederados eram um povo rico, próspero, que tirava da terra o próprio sustento, que provocou uma guerra por orgulho e ficou cego quando tudo que davam como certo começou a ruir.

Poucos dias antes da guerra estourar, a autora nos apresenta à família O'Hara, nos revela seus costumes e de seus vizinhos e nos introduz a uma das maiores personagens femininas de todos os tempos: Scarlett O'Hara, talvez a anti-heroína mais detestável desde a Cathy de Wuthering Heights e, ainda assim, uma das personagens mais admiráveis da literatura de forma que não podemos evitar torcer pelo seu sucesso (e pela sua evolução como ser humano).

É pelos olhos de Scarlett que o leitor conhece a pompa e a opulência do Sul dos Estados Unidos. Mitchell trabalha muito bem as reais motivações da guerra naqueles poucos capítulos que a antecederam no livro. A pesquisa aprofundada nos registros familiares bem como memórias de histórias que lhes haviam sido contadas na infância proporcionaram um material muito rico e legítimo para a construção de um enredo sólido e impactante, consistente com o que haveria de acontecer em momentos posteriores.

O desenrolar da Guerra de Secessão também não peca em questão de detalhes e precisão histórica e a narrativa da autora faz bem em delinear a eexcitação, a esperança, a incredulidade, o desespero, a melancolia e, por fim, um saudosismo de épocas passadas ao final do conflito do qual os tão confiantes sulistas saíram por baixo. Em muitos momentos, Mitchell demonstra que a guerra foi muito mais uma disputa de egos, muito mais uma questão de orgulho do que de liberdade versus opressão, e o saudosismo da glória anterior à guerra, expresso com bastante fervor no insosso Ashley, é prova contundente disso, obtida de histórias reais e fieis a muitos relatos de pessoas que testemunharam toda a magnificência de outrora ser esmagada pelos ianques num banho de sangue e humilhação.

Contudo, engana-se quem pensa que a autora deixou de lado aspectos reprováveis das condutas dos sulistas. Temos tudo que há de mais abjeto e amoral (pelo menos para as conveniências e expectativas da época), em personagens como Rhett Butler, por exemplo, por mais sábio e sensato que fosse. A autora não é nem um pouco maniqueísta, ela mostra o ser humano como ele é. Não é à toa que até Rhett demonstra certa sensibilidade diante de vários eventos na história e que, junto com Scarlett, protagoniza uma das melhores histórias de amor que eu já li.

E, por intermédio de personagens egoístas sulistas como Scarlett e Rhett, acompanhamos um dos conflitos mais devastadores que os Estados Unidos vivenciaram, uma guerra há muito anunciada que provocou estragos que demorariam décadas para serem revertidos. Famílias destruídas, costumes desconstruídos, uma civilização inteira que se foi com o vento, que batalhou para se erguer, se reergueu e continua de pé até hoje, mesmo com os abusos dos ianques lá no início da Reconstrução e com todos os obstáculos financeiros.

A principal lição que fica é que possível vencer as adversidades se tão somente formos determinados o suficiente, tivermos fé e perserverarmos, com a força de nossos entes queridos ao nosso lado, na busca pela realização de nossos objetivos.

O que mais posso dizer? Como colocar em palavras uma gama dos mais variados sentimentos vividos ao longo de mais de 900 páginas?

Meu desejo era poder escrever uma resenha que transmitisse pelo menos uma pequena porcentagem da empolgação que senti quando conheci a propriedade de Tara em seus dias de glória, do quanto fiquei apreensiva durante a Guerra de Secessão, de como sofri com a Scarlett e seus companheiros durante a Reconstrução e do quanto torci pelo seu sucesso.

Mas a verdade é que, diferente de outras grandes obras em cujas resenhas creio ter conseguido exprimir um pouquinho das minhas emoções e percepções, me sinto incapaz de fazer o mesmo com o único e grandioso romance de Mitchell.

E, ainda assim, sinto a necessidade de falar, de encorajar e de promover esta leitura porque E o Vento Levou é um romance de excelência; é perfeito em ambientação histórica, não deixa nada a desejar na construção de seus personagens e a narrativa da autora é simplesmente magistral. Em nenhum momento torna-se cansativa: ela nos envolve de tal forma que nos pegamos apegados até a personagens bem secundários e amamos outros que mereciam nosso repúdio. Mas acho que é justamente isto que faz esta história tão sensacional: ela é repleta de personagens muito reais, detestáveis, covardes, tolos e loucos, em um tempo quase que apocalíptico, pelos quais é impossível não sentir um mínimo de compaixão e empatia.

Enfim, palavras jamais serão suficientes para descrever a grandiosidade deste romance, mas faço o que posso e apelo a você, que me lê, que faça isto: leia este livro e aprecie-o sem qualquer moderação. Esta é uma daquelas histórias que merecem entrar para um cânone literário supremo e que, não importa quanto tempo passe, nunca falham em emocionar seus leitores. Trata-se de um espetáculo de história e ficção que traça um fiel retrato dos perdedores do conflito e revela o melhor e o pior da natureza humana em meio ao caos.

"- Ah, Rhett, por que tem de haver guerras? Teria sido tão melhor que os ianques pagassem pelos negros... ou mesmo que os entregássemos a eles sem cobrar nada do que acontecer isso.
- Não são os negros, Scarlett. Eles são apenas a desculpa. Sempre haverá guerras porque os homens adoram guerras."
Peregrina 25/05/2018minha estante
Vale ressaltar que eu já tinha assistido ao filme quando li o livro e, mesmo a adaptação sendo muito fiel, o livro me surpreendeu de tanto que me impactou. Recomendo demais. Por enquanto é e provavelmente será (ao fim do ano) a melhor leitura de 2018.


Lucas 25/05/2018minha estante
Perfeição define o seu relato, Enza. Feliz o dia em que escutei-a para ler o quanto antes E O Vento Levou. Muito em breve, tenho certeza que a empolgação que você conseguiu sim transmitir, será incutida em mim também. :)


Isil 25/05/2018minha estante
!!!


Peregrina 25/05/2018minha estante
Obrigada, Lucas! Fico feliz por saber que conquistei um leitor ^^




Fernando Lafaiete 23/04/2018

...E o Vento Levou: "A Perfeição em Foma de Livro!"
***NÃO possui spoiler***

...E o Vento Levou é uma obra visceral que me encantou tanto que é difícil até expor em palavras o meu amor pela estória e minha admiração pela autora. Nunca acreditei em livros perfeitos e na verdade continuo não acreditando. Entretanto, Margareth Mitchell me entregou uma obra que me impactou e me fez considerá-la uma completa perfeição.

A autora levou exatamente 10 anos escrevendo, pesquisando e revisando no intuito de publicar uma obra-prima. Ela conseguiu? Sem sombras de dúvidas. Passei durante milhares de páginas anotando e pesquisando diversos fatos históricos na vã intenção de encontrar alguma falha. Um diálogo bobo, uma descrição mal escrita, personagens mal desenvolvidos... qualquer erro que eu pudesse apontar apenas para alimentar meu ego de leitor chato. Mas acabei dando com os burros na água. Não encontrei nada que possa apontar como um ponto negativo. Nem A Divina Comédia e Os Miseráveis (ambas obras que compõem meu top 5) conseguiram este feito.

Nesta fabulosa estória, considerada pela crítica literária o maior e mais importante romance do século XX, Margareth Mitchell apresenta Scarlet O’Hara, uma jovem egoísta, mal caráter, tempestuosa, teimosa e determinada. Ela nutre um amor “platônico” por seu melhor amigo Ashley Wilkes. Esta obsessão da personagem central irá moldar muitas das suas atitudes. Mas não se enganem, esta obra não se trata de uma linda história de amor. Trata-se de uma narrativa repleta de amores e temas. Amores fraternos, maternos, paternos, patriotismo, esperança, perseverança, preconceitos e estruturas sociais. É uma obra completa!!

A autora tece a jornada de Scarlet O’Hara em busca de seus objetivos em meio à uma situação histórica muito bem inserida e transmitida para o leitor. É no meio da Guerra Civil dos Estados Unidos que ocorreu entre 1861 e 1865 que Mitchell desenvolve e cruza os destinos de diversos personagens. O livro intercala entre cenas cômicas e tensas. É no meio do caos da Guerra, que a autora dá um show de descrições e de desenvolvimentos psicológicos. Algumas cenas me impactaram tanto quanto algumas descritas por Victor Hugo em Os Miseráveis.

As cenas cômicas ficam por conta da interação entre Scarlet e Rhett Butler, o único homem capaz de enfrentá-la sem demonstrar qualquer sinal de medo. É uma relação de gato e rato dominada por uma paixão que os rodeia. Paixão esta que poderá ou não a vir se tornar em um amor verdadeiro. A relação destes dois magníficos personagens me lembrou em um primeiro momento a relação de Elizabeth Bennet e Mr. Dracy de “Orgulho e Preconceito” da maravilhosa Jane Austen. Mas as comparações são apenas iniciais, já que a obra histórica de Margareth Mitchell é bem superior ao romance de época de Austen. E não surtem, amo “Orgulho e Preconceito” e a afirmação acima é apenas uma constatação e não uma crítica.

Os personagens criados pela autora são excepcionais. Todos são tridimensionais em suas devidas proporções. Scarlet O’hara é uma das melhores personagens que já tive o prazer de conhecer. Em diversos momentos eu torci por ela, em outros eu a detestei. Mas esta oscilação se dá pelo fato dela ser uma personagem complexa que instiga o emocional do leitor à um nível extremo. Rhett Butler é espetacular e apaixonante. Ambos se posicionam socialmente de maneira desafiadora. Vão contra os padrões sociais e jogam o foda-se para o que a sociedade pensa. Ashley Wilkes é um personagem vitimista (descrição muito bem dada por Butler) e Melanie sua esposa, é meiga e cativante; o oposto de Scarlet O’hara, que a odeia, mas que finge que a ama apenas para manter contato com seu amor platônico.

A emblemática personagem central tem uma força gigantesca e enfrenta as adversidades da vida de cabeça erguida. Existe um conjunto de cenas sobre uma invasão, onde tudo começa a acontecer ao mesmo tempo (milhares de desgraças). Foi uma das melhores cenas que li na minha vida. E uma das mais desesperadoras também. Estas cenas mostram o auge da coragem e da força de O’Hara.

O desenvolvimento da trama é impecável. O desdobramento da vida dos personagens é impactante e Margareth Mitchell faz umas escolhas corajosas que me fizeram derramar algumas lágrimas. A obsessão de O’Hara irrita em vários momentos, mas ao chegar ao final, entendi as razões da autora bater tanto nessa tecla. Foi um final que eu não esperava e que eu gostei, mas precisei digeri-lo. É excelente, mas foi um choque de realidade.

As questões sociais também são bem retratadas e a autora mostra o quanto a sociedade pode ser cruel com quem vai contra o que ela determina ser o correto. A pressão social que asfixiava e domesticava as mulheres é retratada de maneira mordaz pela escritora que usa e abusa de sua “heroína” para criticar esta maneira de viver.

...E o Vento Levou é uma obra impressionante. Mais que bem escrita, mais que imersiva, mais que impactante e mais que perfeita. É um livro que vou reler milhares de vezes ao longo da minha vida. Uma pena a autora só ter escrito esta estória. Faça um favor a você mesmo e leia este livro. Leitura obrigatória e que se tornou o meu livro favorito entre todos os outros que já li!
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Nota sobre o filme:

O Filme protagonizado por Clark Gable (Rhet Butler) e Vivian Leigh (Scarlet O’hara) que venceu 1.399 concorrentes para interpretar a protagonista, é considerado um dos melhores filmes já feito de todos os tempos, estando no top 10 da AFI (Instituto de cinema Norte-Americano). Foi vencedor de 10 prêmios do Oscar, é considerado pela AFI o filme que mais lucrou na história (*levando em consideração ajuste de valores) e é o filme que proporcionou à Hattie Mcdaniel, sendo negra, o prêmio de melhor atriz coadjuvante. O livro é um marco para a literatura Norte-Americana e o filme é um marco para a história do cinema.
ROBERTO468 24/04/2018minha estante
Que resenha maravilhosaa


Fernando Lafaiete 24/04/2018minha estante
Obrigado Junior. Indico este livro fortemente. É tão maravilhoso... Se tiver oportunidade e interesse, não deixe de lê-lo. S2


Carol 30/04/2018minha estante
Sua resenha ficou muuuuiito boa!


Fernando Lafaiete 30/04/2018minha estante
Muito obrigado Leitura Atual... Fico feliz de saber. :)




safiraduanny 31/08/2019

esse livro = TUDO PRA MIM
gente, que livro incrível. a escrita é fantástica e eu não conseguia parar de ler. se eu fiquei triste com o final? fiquei DEVASTADA mas depois de pensar MUITO no assunto acho que foi justo. a gente passa a vida inteira procurando por algo quando tudo que a gente precisava estava do nosso lado o tempo todo. se a scarlett não aprendeu a lição, eu com certeza aprendi. o rhett é simplesmente PERFEITO, a melanie é um ANJO, o ashley é um SONSO (meu deus, que macho chato) e a scarlett, uma verdadeira DEMÔNIA (eu falo mal mas eu gosto dela JURO). vou sentir muita saudades dessa história e eu só queria sofrer uma amnésia temporária pra poder ler tudo de novo e sentir as mesmas emoções pela primeira vez.
Letícia 13/12/2019minha estante
Amiga, eu tô ainda no início, mas em DESESPERO


Letícia 13/12/2019minha estante
Me ajuda, por favor


Letícia 13/12/2019minha estante
Preciso discutir sobre esse livro


safiraduanny 16/12/2019minha estante
AMADA, VAMOS.




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