Marjory.Vargas 16/11/2021“Ele acreditava ser o escolhido, o filho do cara, mas se contentaria em ser um superstar. Acabou por ser o porta-voz de um pesadelo americano do qual ainda não despertamos.”
Manson: a biografia é o livro que busca desnudar um ser quase que mitológico. Guinn faz todo um apanhado histórico do período anterior aos assassinatos que tornaram Manson tão famoso. Indo para o início do século, ele nos apresenta à família de Manson. Kathleen Maddox era uma jovem criada com extremo rigor pela mãe conservadora e religiosa. Aos 15 anos, a jovem só queria conhecer e desbravar o mundo. Acabou engravidando de um cara casado e criando sozinha o filho, Charles Miles Maddox. E a vida de Kathleen não foi fácil, tendo passado por diversos períodos presa, e assim, negligenciando a criação do filho pequeno.
O livro trás bastante contexto histórico do período e, apesar de tornar a leitura um pouco mais parada nesses trechos, foi extremamente importante para conseguir entender a manipulação exercida por Manson sobre aquelas pessoas. Manson percebeu nesse período histórico a oportunidade de ser um guru. Afinal, ele já sabia aliciar garotas de uma experiência anterior como cafetão (que o levou à prisão inclusive). Ele juntou um discurso envolvendo a Bíblia, o fim do mundo e os Beatles. Assim, foi fácil conquistar garotas que estavam completamente perdidas no mundo com o seu discurso de ser a reencarnação de um Jesus Cristo que curtia rock’n roll. O período de paz e amor da época escondia as drogas, a fome, os estupros, as pessoas que viviam nas ruas...e é exatamente essas pessoas “perdidas” que caiam na lábia de Manson.
Confesso que eu sabia bem pouca coisa sobre Manson. E o que sabia, era mais relativo aos crimes Tate-LaBianca do que ao Manson mesmo. Ouvi principalmente o termo seita relacionado a ele e os seus crimes, e pensava que eles tinham algum tipo de envolvimento com algum culto satânico ou algo do tipo (principalmente pelas palavras escritas com sangue nas cenas dos crimes). Mas na verdade não. Trata-se somente da perversidade humana mesmo.
Lembre-se que o livro é uma biografia. Pode ficar um pouco lenta em algumas partes. Mas o autor é simples e direto na narrativa dos fatos, sem “enfeitar” a história. É uma leitura densa, do início ao final. A infância de Charlie foi difícil, e algumas das coisas que aconteceram com ele nesse período incomodam. Principalmente por sabermos as consequências que elas tiveram na vida futura dele.
O trabalho do autor em reconstruir a história de Manson foi primoroso. Só de notas são cerca de 50 páginas. Quem diria que aquele menino da foto, de sorriso leve e até inocente seria responsável por crimes que, passados mais de 50 anos, ainda conseguem nos chocar.