Luiza 18/06/2014
O sol nascerá sobre os Taltos, inseparáveis
Último livro da saga das Bruxas Mayfair: "Taltos".
Na última parte desta aventura, entram novos personagens, muito importantes, aliás. Se em "Lasher" conhecemos Mona e Yuri, aqui somos apresentados à sedutora prima caipira, Mary Jane Mayfair e ao fascinante Ashlar... Rowan e Michael não aparecem tanto neste livro, mas continuam sendo fascinantes e, aqui, finalmente o relacionamento dos dois volta a existir com força total. São grandes bruxos, poderosos e sedutores.
A mistura de ficção com fatos históricos, a meu ver, torna a narrativa sempre fascinante... Adoro o estilo de Anne Rice.
ABAIXO, ALGUNS TRECHOS QUE DESTAQUEI - CONTÉM SPOILERS:
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Ele já era velho quando os cavaleiros se abateram sobre a planície. Era velho quando viu os romanos nas ameias da Muralha de Antonino, quando olhava lá de cima, da porta de Columba, para os altos penhascos de lona.
O problema de Michael era que ele realmente tinha um fraco pela beleza pubescente. Seu encontro com Mona não havia sido nenhuma aberração da natureza ou obra de feitiçaria. E Mary Jane Mayfair era uma avezinha do pântano suculenta como nunca se viu.
“Anônimo. Lendas da terra perdida. De Stonehenge.”
Michael, aquele pedaço de sedução e músculos celtas, parado ao lado de Rowan.
Michael estava ficando mais envolvido a cada instante que passava, com seus olhos azuis de uma inocência inebriante fazendo uma inspeção dos pés à cabeça a cada quatro segundos e meio. Ele era esperto demais para se deter nos seios e nos quadris da garota... gostosa de se ver. Era essa a impressão final que ela dava: ignorante, biruta, brilhante, bagunçada e de algum modo deliciosa.
— Bem, é claro que sim — respondeu Michael, sem tirar os olhos da moça nem um instante, não importa quem estivesse falando com ele. E o que os homens veem quando olham para tanto charme como esse?
Ele havia perdido sua saudável relutância em confiar, mas era nisso que se resumia esse tipo de amor, não era? O ato de se despojar de uma forma tão completa dos habituais sentimentos de alienação e desconfiança que a aceitação subsequente era orgástica em termos intelectuais.
Como Rowan conseguia ignorar tudo aquilo? E aqui estava ele... só faltando comer Mary Jane com os olhos. Se isso não fosse suficiente para acordar Rowan, nem um ciclone seria.
É, eu dormi mesmo com o seu marido, mas você é a misteriosa, a poderosa, a mulher, aquela que ele ama e sempre amou. Eu não fui nada. Fui só uma criança que o atraiu para a cama. Ele olhou para mim do mesmo jeito que olhou para aquela outra garota, Mary Jane. Desejo, só
isso. Desejo e nada mais.
“Vocês devem saber que nossa Igreja na Inglaterra era na época celta ou britânica ou não importa como queiram chamá-la, fundada pelos próprios apóstolos, que vieram de Jerusalém até Glastonbury. Não tínhamos nenhum vínculo com Roma. Foram o papa Gregório e seu homem de confiança, Santo Agostinho, que forçaram a entrada da Igreja romana na Grã-Bretanha.”
— Vem, rápido... Vem me inundar.
— Não quero saber de garotinhas. E nunca quis. Não sonhei com outras mulheres enquanto você esteve longe. Amo Mona ao meu modo, e sempre vou amar, mas isso faz parte do que nós somos, todos nós... Mas só desejo você, e isso vale desde o dia em que estive com você pela primeira vez.
Aqui, em Glastonbury, a uma pequena distância do local onde nos encontramos, foi desenterrado no passado um gigante de mais de dois metros de altura, que se declarou ser o rei Artur. Quem era ele a não ser um dos gigantes de Tessa, eu lhes pergunto? Esse tipo de criatura foi encontrado em toda a Grã-Bretanha.
E com que eu me deparei, foi com uma pilha de estudos hagiográficos, manuscritos que escaparam da destruição durante a horrenda repressão aos mosteiros comandada por Henrique VIII, jogados ali nos nossos arquivos com milhares de outros textos semelhantes.
E... em meio a esses tesouros havia uma caixa identificada por algum secretário ou arquivista morto há muito tempo: "Vidas dos Santos Escoceses". E o subtítulo rabiscado às pressas: "Gigantes"!
Por acaso, logo encontrei uma cópia mais recente de uma obra antiga, de autoria de um monge de Lindisfarne, que escreveu no século VIII, contando a história de Santo Ashlar, um santo de tanto poder e magia que havia aparecido entre os habitantes das montanhas escocesas em duas épocas diferentes e separadas, tendo sido devolvido à terra por Deus, como o profeta Isaías, e que estava destinado, segundo as lendas, a voltar inúmeras vezes.
— Ele é meu, este livro! Escrevi cada palavra! Pintei cada ilustração. Foi para Columba que o fiz, sim! E é meu!
De repente, Ash veio na sua direção e cobriu o rosto de Yuri com beijos delicados. Yuri ergueu os olhos, dominado pelo amor, e, grudando a mão à nuca do outro, levou seus lábios à boca de Ash. Foi um beijo firme e casto.
É assim que eles são. São guerreiros. Matam aqueles que não são do seu clã. É tão importante para eles quanto comer, beber ou fazer amor são para nós. Eles se deleitam com a morte.”
— Acho que estou amando vocês. O que é perigoso.
— Você ama a nós dois?
— Amo, sim, ou estaria lhe implorando de joelhos que me deixasse fazer amor com você. Eu a seguiria até o fim do mundo.
— Estou... estou muito lisonjeada. Será que essa não é a palavra certa?
— Não, “intrigada” é a palavra que procura. Ou “fascinada”, mas na realidade não está lisonjeada. E você ama Michael com tanta entrega que eu sinto o fogo da paixão quando estou com vocês. Eu quero isso. Quero que a sua luz brilhe sobre mim. Eu jamais deveria ter dito aquelas palavras.
Que raça consegue viver com qualquer outra? Que religião com qualquer outra? A guerra está por toda a parte; e as guerras são tribais, não importa o que os homens digam que elas sejam! Elas são tribais e são guerras de extermínio, quer se trate dos árabes contra os curdos, dos turcos contra os europeus, ou dos russos combatendo os povos orientais. Isso nunca vai parar.
Você tem mais uma chance com Michael, pensou ela. Sabe que tem, não importa o que ele possa estar pensando. Não jogue fora o único amor que realmente teve significado para você. Seja madura o suficiente, tenha suficiente paciência para tipos de amor, para suas estações, acalme sua alma para que, quando a felicidade voltar, se é que um dia ela volta, você saiba.
— O bebê está bem, doutor — disse Mary Jane, deixando que a saia subisse pelas coxas acima até as calcinhas. Essa era uma garota formidável, ninguém precisava lhe dizer isso.
O romano Tácito escreveu a história da primeira campanha de Agrícola, que chegou à Escócia. No século seguinte, a muralha de Antonino foi construída, uma obra assombrosa para as tribos bárbaras que ofereciam resistência a Roma, e bem próximo dela, ao longo de quase oitenta quilômetros, a Via Militar, uma grande estrada pela qual não passavam apenas soldados, mas mercadores que traziam por mar todo tipo de produto e provas fascinantes de outras civilizações. Afinal, o próprio imperador romano, Sétimo Severo, veio à Grã-Bretanha para derrotar as tribos escocesas... Por muitos anos depois dessa ocasião, os romanos permaneceram ali...
A arte dos pictos é a denominação comum dada a tudo isso. E essa tribo tornou-se o grande mistério da Grã-Bretanha.
Nossa cultura, o nome que adotamos, o dos pictos, nossa arte e nossa literatura permanecem nos tempos modernos um mistério total. Vocês logo entenderão o motivo para isso, para o desaparecimento da cultura dos pictos.
Em geral aprendemos muito sobre os romanos que haviam penetrado na Grã-Bretanha, e nos demos conta de que esses romanos haviam derrotado os bárbaros celtas que haviam infligido tantas atrocidades sobre nós.
E lá se foi, a saia subindo por entre as coxas. Mas ela não chegava aos pés daquela belezinha flamejante do andar de cima. E como seria pôr as mãos numa coisinha daquelas, só por uns cinco minutos, tão novinha, tão macia, fresca e linda, com aquelas pernas longuíssimas. Acalme-se, seu velho idiota, ainda vai provocar um ataque do coração com isso.
No vale, os Pequenos ainda persistem. Há poucos indivíduos nascidos na Grã-Bretanha que não tenham ouvido falar deles. São chamados por inúmeros nomes, jogados no mesmo saco com outras criaturas do mito: as fadas, o Sluagh, os Ganfers, os duendes, os elfos. Eles agora estão em extinção em Donnelaith, por uma quantidade de motivos. Mas ainda vivem em outros lugares escuros, secretos.
Ela praticamente o estava perseguindo, cutucando-lhe as costas com os seios. Seios, seios, seios. Graças a Deus, sua especialidade era a geriatria. Nunca teria podido aguentar tudo isso, mães adolescentes em camisas transparentes, moças lhe falando pelos bicos dos seios, revoltante, era isso o que era.
Foi assim que Ninian descreveu Columba. Columba nasceu de uma família rica e poderia com o tempo ter se tornado Rei de Tara. Em vez disso, ele se tornou padre e fundou muitos mosteiros cristãos. Foi então que entrou em desavença com Finnian, outro homem santo, sobre a questão de saber se ele, Columba, tinha o direito de fazer uma copia do Saltério de São Jerônimo, outro livro santo, que Finnian trouxera para a Irlanda.
— Rowan, meu amor. Eu sei que você poderia ter ficado com ele. Sei que fez uma escolha.
— Você é o homem para mim — disse ela, com um suspiro levemente explosivo. — Meu homem, Michael.
E, no exato instante em que essas palavras me saíam dos lábios, eu soube que eram mentiras. Essa religião era enganosa, e o corpo e o sangue de Cristo podiam matar tanto quanto qualquer veneno.
Ninian falava com fervor da expansão da Igreja desde a época de Cristo, uns quinhentos anos antes, de como José de Arimatéia, seu querido amigo, e Maria Madalena, que lhe havia banhado os pés para secá-los com seus próprios cabelos, haviam vindo até a região ao sul da Inglaterra para ali fundar uma igreja num monte sagrado em Somerset. O cálice da última ceia de Cristo havia sido trazido àquele local, e na verdade uma grande fonte jorrava vermelho-sangue o ano inteiro devido à presença mágica do sangue de Cristo ali derramado. E o cajado de José, tendo sido enfiado no chão em Wearyall Hill, havia brotado resultando num pilriteiro que jamais parava de florir. Senti vontade de ir até lá imediatamente, ver o lugar sagrado onde os próprios discípulos do Nosso Senhor haviam pisado na nossa ilha.
Este é um mundo em que as raças humanas guerreiam sem parar, em que as pessoas de uma fé ainda exterminam as pessoas de outra. Guerras religiosas grassam desde o Sri Lanka à Bósnia, desde Jerusalém até cidades e cidadezinhas americanas onde os cristãos ainda, em nome de Jesus Cristo, provocam a morte dos seus inimigos, da sua própria gente e até mesmo de criancinhas. Tribo, raça, clã, família. Bem no fundo de nós estão as sementes do ódio ao que é diferente.
Meu império, meu mundo, é feito de brinquedos e dinheiro. Mas como teria sido muito mais fácil fazê-lo de medicamentos para acalmar o macho humano, para diluir a testosterona nas suas veias e fazer calar seus gritos de guerra para sempre.
Como será quando eles se deitam? Será que o rosto dela é uma escultura de gelo? Será que ele é o sátiro dos bosques? Bruxo tocando bruxa; bruxo sobre bruxa...
E quando ele ergueu os olhos de novo, viu a linda aparição de cabelos vermelhos no final do saguão, duas na realidade, uma muito, muito alta, e aquela sapeca da Mary Jane, com tranças louras no alto da cabeça mais uma vez, três dos pescoços mais extraordinários do universo, meninas assim são cisnes.
— Antes que amanheça aqui, já será manhã lá, e nós estaremos entre aquelas pedras. Nós nos deitaremos na grama, e o sol nascerá sobre nós, inseparáveis.
E o carro discreto saiu veloz da escuridão sombreada, deixando para trás a esquina lúgubre e sua casa majestosa, com os grandes galhos frondosos segurando as trevas como fruto maduro sob o céu violáceo, o carro, um projétil tendo como alvo o coração verde do mundo, levando-os ali dentro, os dois, o macho e a fêmea, juntos.