Resenhas - A Utopia

Taylor 12/09/2023

Ainda atual (500 anos depois!)
A Utopia é, talvez, o livro mais curto que li esse ano ? ainda assim, um dos mais interessantes. Numa narrativa que começa misturando realidade com ficção, o autor (aqui como protagonista da obra) envia para um amigo o próprio livro "A Utopia" para que seu amigo veja se as informações sobre a tal ilha Utopia, sobre a qual eles aprenderam conversando com um aventureiro chamado Raphael, estão corretas.

Trouxe esse contexto inicial porque achei relevante comentar sobre a estrutura da obra: basicamente o livro se resume a um relato desse aventureiro para o próprio autor (aqui como personagem) sobre uma nação ideal e "perfeita" em que ele teve o prazer de viver por cinco anos.

Utopia é uma ilha na qual a evolução de uma sociedade ? isolada do mundo que conhecemos, mas com outras nações vizinhas por perto ? culminou no extermínio da propriedade privada. A terra é compartilhada entre todos os habitantes, sem o conceito de "isso é só meu", e, consequentemente, o trabalho também tem que ser compartilhado. A conclusão lógica disso é um sistema de produção que proporciona a abolição de classes ? Marx nem sonhava em nascer e A Utopia já trazia algumas de suas ideias ksksks.

O fato de não haver propriedade privada, o trabalho e a terra serem compartilhados, assim como os frutos da produção, permitem uma jornada de trabalho muito menor do que o convencional e o extermínio da fome e da pobreza em Utopia ? algo que, com nosso nível tecnológico atual, certamente funcionaria no mundo real também.

Não pretendo me alongar mais nessa questão, mas foco nisso porque foi uma grande surpresa para mim ver como questões tipo a propriedade privada, superprodução e, até mesmo, a justiça (e leis) beneficiarem os mais ricos em detrimento dos pobres (hoje, uma justiça burguesa) sendo debatidas por um santo católico do século XIV.

Mas, como nem tudo são flores, Utopia também reflete muitos dos problemas da carga cultural do próprio autor: a submissão da mulher ao marido e a "aversão" ao ateísmo são exemplos de coisas que ainda existem numa sociedade "perfeita" segundo a obra de Thomas More.