lacklusterstarchild 11/05/2024
Sangue Negro, Alienação Branca
Conforme Marlow reconta os horrores presenciados durante o processo "civilizatório" imposto ao Congo, comecei a indagar-me se o autor desse clássico estava realmente condenado a supremacia branca, a principal justificativa à legitimidade ao colonialismo. A conclusão que cheguei foi: não, essa obra preocupa-se menos em estabelecer uma ruptura na ideologia nociva e mais na experiência subjetiva de um homem branco pago para viver em um ambiente sufocante.
Veja bem, Conrad acentua o receio de Marlow pelo possível ataque tribal à toda espreita, retrata seu desconcerto com a possibilidade dos nativos (talvez!) não serem os selvagens que idealizava, destaca os impactos de ver um assassinato de perto e ter de lidar com um corpo sanguando tão profusamente à ponto de enxarcar seus sapatos. Mas, apesar de ressaltar o caráter impedoso e fundamentalmente injusto das relações inter-raciais no Congo, Marlow reafirma (várias vezes) a impossibilidade dos povos originários e seu grupo - os brancos - pertercerem a mesma Terra. É muito arrongância para um cara só, sinceramente.
Apesar de tudo isso, a musicalidade e as alusões presentes na escrita de Conrad me intrigaram o suficiente para continuar uma história que me parecia, sinceramente, bastante chata. Enfim, ainda não entendi como Marlow condenava e respeitava tanto Kurzt ao mesmo tempo que concebia a população negra como extraterrestres. Vai entender a balela que eles contam para si mesmo para dormir melhor.