Solari 19/07/2009
Ficção científica militar de qualidade
Old Man’s War é um livro da nova safra de ficção científica militar, nos moldes dos clássicos Starship Troopers e The Forever War. No futuro retratado no livro, a Terra se tornou um fim de mundo superpovoado e secundário, sendo que os recursos de verdade estão sendo usados para povoar o espaço que, quem diria, está lotado de espécies alienígenas inteligentes. Para azar da humanidade, muitas dessas espécies são bem agressivas. E boa parte delas ainda adquiriu um paladar particular pela carne humana.
A novidade do livro é que os recrutas que vão defender os colonos em um universo tão hostil não são os jovens, mas idosos de 75 anos. Eles deixam a Terra e toda a sua vida passada para nunca mais voltar, com a promessa de terem os seus corpos rejuvenescidos para o combate pela tecnologia superior do exército. O que de fato acontece, mas de uma maneira bem diferente do que os recrutas imaginam.
Acompanhamos o protagonista John Perry que narra a história em primeira pessoa conforme ele se une às forças armadas. No início, enfrentando a burocracia do recrutamento com exames médicos e psicológicos inusitados junto de diversos outros velhinhos (não deixa de ser engraçada a descrição do refeitório lotado com seu batalhão de mais de mil septuagenários) até Perry se tornar um veterano de diversas batalhas.
Uma coisa que o autor John Scalzi sabe fazer muito bem é dosar as informações. Existe um equilíbrio tênue entre dar dados demais ao leitor, e criar um episódio Deus ex machina, e arrastar a narrativa criando barrigas. Para o meu gosto pessoal ao menos, o autor acerta na mosca o ritmo da narrativa. Vamos acompanhando as descobertas que Perry faz ao longo da história, em um futuro bem criativo e muito bem construído, envolvendo clonagem, interfaces computadorizadas integradas ao pensamento, mutação genética e física quântica. Scalzi faz um bom trabalho em tornar o lado científico crível sem se tornar pedante e explicativo.
Outro ponto positivo é a variedade das raças alienígenas. Temos desde seres voadores, a baleias conscientes, a humanóides de uma polegada de altura, à curiosa religiosidade dos Corsu, que são xenófobos ao ponto de jogar o solo que pisaram outras espécies para dentro de um buraco negro “para que não contamine nunca mais essa galáxia.”
Um tema abordado de forma muito interessante é como é tênue a linha que separa a autodefesa das atrocidades, algo muito confuso em tempos de guerra. Se o livro transmite a sensação de que os seres humanos estão em uma desesperada luta por sobrevivência e quase sempre à beira da extinção, em determinado momento são eles os autores de grande destruição, esmagando friamente civilizações menos avançadas para que elas não cheguem a se tornar uma ameaça.
Uma pequena modificação que eu faria diz respeito aos personagens. É como se todos tivessem sacadas geniais a colocar a todo o momento, o que faz os diálogos parecerem às vezes um roteiro de filme de ação do que um livro da profundidade que Old Man’s War tem. Essa característica é comum em outros trabalhos de Scalzi e de certa forma faz parte de seu estilo, mas eu diminuiria.
O livro foi nomeado ao prêmio de melhor romance do prêmio Hugo em 2005 e possui as continuações The Ghost Brigades, The Last Colony e Joe’s Tale.