Dressa Oficial 13/11/2014Resenha - Sem Medo de Falar Olá, tudo bem com você?
Marcelo é a vítima que sofreu pedofilia desde os nove anos de idade e também é o autor do livro onde relata todo seu sofrimento que durou vários anos.
Adoro livros baseado em fatos reais e tenho que parabenizar a coragem que o autor teve em conseguir falar todos os abusos que sofreu e o mais polêmico ele sofreu todo o abuso dentro da igreja católica.
O livro tem capítulos curtos e é intercalado com o relato dele e reportagens sobre pedofilia e a reação de alguns "Papa" com o assunto.
Marcelo viveu em uma cidade pequena no interior de Minas Gerais e sua mãe o colocou no coral da igreja, ele aprendeu a tocar vários instrumentos, o maestro ainda não era padre porém usava o espaço da igreja para treinar seus alunos.
O Maestro era um carrasco com todos os garotos, mal ensinava direito e se os garotos fizessem algo errado era punido com surras, e xingamentos.
Porém diante dos olhos dos adultos ele se passava como um exemplo de ser humano onde ninguém questionaria sua índole.
Página 53/54
Muita gente pensa que o pedófilo é um ser estranho, desconhecido, que um dia surge do nada e aborda a criança de surpresa, em algum lugar isolado. Não é assim. O abusador de menores tece com paciência a sua teia. Entre ele e a vítima, uma dinâmica de sedução e subordinação vai sendo construída, peça por peça. Ele é carismático e inspirador para os menores e conquista a confiança dos pais e da comunidade. Ele precisa de uma reputação sólida, a sua proteção moral, antes de começar a agir.
O Maestro só escolhia garotos jovens para o seu coral e sempre se mostrava muito nervoso, ele dava funções diversas para os garotos e devido ao sucesso que o coral fazia ele conseguia marcar viagens com todos os garotos e com autorização dos pais das crianças.
Marcelo nunca entendeu muito bem o que de fato aconteceu com ele, não tinha experiência nenhuma da vida e com apenas 9 anos foi abusado sexualmente.
Página 169
"Mas abusou sexualmente como?"
"Fez sexo comigo"
"Sexo como? Ele fez o quê?"
Aprendi que as respostas têm de ser bem claras e diretas, por mais agressivas que possam parecer.
"Ele abusou sexualmente de mim pelo fato de, na época, eu ser uma criança e ele um adulto. Ele fez sexo comigo. Fez carícias, me tocou, me beijou, me fez praticar sexo oral e me penetrou, em várias posições, sempre a seu bel-prazer. E exigiu que eu penetrasse."
Sei que choca dizer isso diretamente, mas é essa a resposta que as pessoas querem e precisam ouvir.
O que mais surpreende nesse livro é que além de relatar o que de fato acontece com ele, ele também diz que chegou a gostar do Maestro, talvez não de maneira amorosa mas como passava muito tempo com ele acabava acreditando nas juras de amor que o Maestro lhe dizia.
Mas com certeza o maior sofrimento carregado por ele era o silêncio de não poder contar para ninguém o que de fato aconteceu, e só tomou essa atitude cerca de 30 anos depois, o que fez a impunidade tomar conta de todo o problema.
Página 181
Os críticos mais severos da atuação do cardeal Ratzinger e do Vaticano na denúncias de abuso sexual dos últimos anos alegam que a Igreja procurou resolver os inumeráveis casos intramuros. Não entregou os predadores de batina à lei dos homens para serem julgados como criminosos sexuais: Preferiu julgá-los como clérigos - e como "servos do Senhor" foram perdoados. A maioria era enviada para um período de reabilitação e de arrependimento, e depois voltavam a exercer suas atividades religiosas em outras paróquias, bem distantes daquelas onde foram denunciados.
Quando se faz uma denúncia de pedofilia a pessoa só é presa em caso de flagrante, ou seja como já tinha se passado muito tempo nada poderia ser feito, e como na frase acima vemos que o Vaticano não condena os padres que receberam denúncias de pedofilia, apenas são enviados para outra região distante podendo cometer os mesmos atos novamente.
Me considero uma pessoa católica, e fiquei bastante triste com toda essa impunidade que acontece no meio dos padres com as denúncias que recebem referente a pedofilia, agora parece que com o Papa Francisco algumas coisas estão começando a acontecer e espero que de fato aconteça, justiça seria a palavra mais certa.
O livro está com a edição muito boa, gostei da capa, as páginas são amareladas, letras em bom tamanho e capítulos curtos.
Uma leitura muito válida que faz refletir sobre a religião que as crianças costumam seguir por obrigação dos pais, muitas vezes ele não queria ir para a igreja e acabou sendo obrigado a ir pelos pais, e inclusive no livro ele mesmo informa que a religião deveria ser escolhida pela própria pessoa depois de uma certa idade, onde a pessoa saberia o que de fato estaria fazendo.
Página 185
Uma pessoa que, como eu, fui vítima de abusos físicos, psicológicos e sexuais a partir dos nove anos de idade dentro da Igreja Católica e por meio dela, sente-se no direito de fazer diversas indagações: como pode a igreja católica perdoar, aceitar e proteger um padre ou bispo pedófilo, mas não perdoa quem decide amar e casar com alguém do mesmo sexo? Ou não perdoa quem interrompe uma gravidez, mesmo quando tem sua vida em perigo em decorrência dela? Se a igreja não tem senso de humanidade ao destruir milhares de vidas acobertando padres pedófilos, porque exige humanidade se seus fiéis seguidores?
Um alerta para os pais, e uma coragem de quem sofreu abuso poder contar o que de fato aconteceu e tentar se livrar do peso que se carrega de um sofrimento sem tamanho.
Beijos
Até mais...
site:
http://www.livrosechocolatequente.com.br/2014/11/resenha-sem-medo-de-falar.html