Sem medo de falar

Sem medo de falar Marcelo Ribeiro




Resenhas - Sem medo de falar


5 encontrados | exibindo 1 a 5


Iuri 23/08/2021

“Fui abusado na infância”. Só quando consegui pronunciar esta frase para minha mulher, aos 42 anos, é que pude começar a viagem em busca de meu passado. Ele estava enterrado pelo sofrimento, pela vergonha e pelo medo de falar. O silêncio é o melhor amigo da pedofilia.

Não sofri um abuso apenas sexual – o que já seria muito. Também fui abusado moral e psicologicamente. Sofri violência física. Minha família foi induzida à mentira e aos subterfúgios que me afastaram de meus pais e meus irmãos. Quase perdi minha mulher que é tudo para mim.

A história começa quando eu, ainda menino, comecei a cantar no coral da cidade onde morava com meus pais e meus seis irmãos (...)”
---------------------------
Assim começa “Sem medo de falar – Relato de uma vítima de pedofilia” (Paralela – 2014) de Marcelo Ribeiro, onde o autor, num corajoso exercício de resgate da sua integridade, relata os abusos físicos, morais e sexuais que viveu sob o jugo do sórdido maestro do coral (vinculado à Igreja Católica), de uma cidade do interior de MG, do qual participou da infância à juventude.

Neste “ambiente cultural” , criado e administrado na verdade como bem delimitado universo no qual o mestre musical reinava absoluto – impondo regras, limites, exigências, ameaças, castigos físicos e recompensas - , Marcelo, além de – obviamente – aprender música, foi alvo da ação criminosa do dirigente que, em movimentos muito bem orquestrados (lentos e certeiros), enredou o garoto numa relação de domínio absoluto (moral, emocional e sexual), na qual o monstro extravasou sua perversidade.

Hábil em manipular a inexperiência e confusão do adolescente, a fera disfarçada de cordeiro (mas que era alvo de “reconhecimento” social pelo seu “trabalho relevante”) , lançou o jovem num trágico pesadelo de culpa e silêncio que resultou (já depois de ter abandonado o coral) num adulto torto, imperfeito, preconceituoso e “destruidor” (ele não conseguia manter a estabilidade das relações amorosas e familiares).

Nesta condição, Marcelo acaba num processo de “perda” (emocional e material) e tormento que culmina numa poderosa experiência extra- corpórea (e eu acredito 100 % nisto, pois passei por algo semelhante que foi um turning point definitivo (sic) na minha vida – e só quem vivencia isto acredita ), a partir da qual ele inicia sua dolorosa trajetória de reconstrução.

=============================================

Alternando trechos auto biográficos (indo da indignação ao “perdão”, passando por suas ações de denúncias perante a igreja e judiciário, com transcrições de reportagens sobre pedofilia na Igreja Católica e diversos comentários sobre o assunto (morais, sociais, psicológicos e jurídicos) , “Sem medo de falar..” é um libelo contra o abuso , contra charlatanice, contra a inoperância das autoridades e, sobretudo, um vigoroso alerta para este mal que se esconde muitas vezes nas mais respeitáveis instituições (igrejas, família, escola).

Livraço.
comentários(0)comente



Christiane 24/07/2021

Um relato corajoso e franco sobre o que é ser uma vítima de abuso sexual infantil e de como o pedófilo costuma assediar, aliciar, seduzir sua vítima passando despercebido de todos. Todos os pais deveriam ler este livro, todos nós devemos ler este livro.

Marcelo relata a dor, o trauma que sofreu, trauma este que não é apenas a sua integridade física que foi abusada, mas também moral e psicológico. Os efeitos que atuam e que não são percebidos, o que é passado ao outro sem que a vítima tenha percepção, desencadeando uma cadeia muito maior de afetados. Ele também demonstra como um pedófilo, termo psicológico, e que trata de uma pessoa que está doente, que tem sérios problemas e distúrbios também, de comportamento moral, sexual, e afetivo.

É de extrema importância que livros assim sejam escritos, divulgados, pois se trata de um crime que se repete, mais comum que a maioria das pessoas imagina ou supõe, e que infelizmente prescreve, o que não deveria acontecer, uma vez que uma vítima de trauma de abuso sexual na infância levará anos para conseguir falar, se falar, enquanto que seu agressor continua com seus abusos com novas vítimas.

Por que a criança não fala? ele tenta responder a questão que é extremamente difícil, pois nem o abusado sabe direito, mas o mais evidente é o medo, a vergonha, e o fato de que de alguma forma sabe que aquilo não é certo, mas ainda não tem conhecimento sobre o sexual. Marcelo vai além, ele fala sobre a questão da repulsa/atração, não como duas coisas opostas, mas que ocorrem simultaneamente, e isto é de difícil compreensão uma vez que vivemos numa sociedade que aprende a falar e pensar através dos opostos, dos contrários e que divide as coisas, como o bem e o mal, o amor e o ódio, a atração e a repulsa, o fascínio e o nojo. Acontece que estes pares são muito mais que o verso da mesma moeda, eles podem ocorrer juntos, ao mesmo tempo, e isto reflete no corpo, na mente, sem obter resposta, criando angústia.

A resposta da sociedade e dos outros, quando a vítima fala, geralmente não acreditam, ou acham que é um desabafo, ou pior, a mulher é acusada e o homem é tratado como maricas. E eis aí mais um motivo de vergonha para a vítima e uma forma de isentar o culpado que se sente poderoso e seguro.

Muitos pensam que é um trauma que após falar, desabafar passa, tem que tocar a vida, mas nada mais longe da realidade da vítima, é todo um processo, quando é possível atingir uma cura. A vítima precisa de muito amor, confiança, acolhimento, para poder transformar isto. E mais ainda para poder compreender o agressor, o que não significa que o isenta, ao contrário, é o momento que o responsabiliza. Como isto geralmente ocorre muitos anos depois do abuso, a lei não permite que seja denunciado, e mais, a lei exige o flagrante, e isto é impossível em quase todos os casos.

Os pais devem ler, estar atentos, perceber, a criança apresenta mudanças de comportamento, se afasta dos outros, está aterrorizada com o fato de alguém descobrir, assustada, e o agressor geralmente está muito perto, faz parte da família, da escola, da vizinhança. Geralmente alguém que a criança respeita, admira, sente afeto por ela.

Marcelo foi vítima do abuso por um maestro , o abusador geralmente é alguém respeitado na sociedade, e justamente por isto, isento de críticas, e caso a criança consiga falar será desacreditada, e será a palavra dela e a de alguém que é querido por todos.
comentários(0)comente



Riva 02/02/2018

Até quando?!
Sempre me faço essa pergunta quando leio livros desse tipo: até quando vamos ter de "conviver" com esse tipo de coisa?!

É um livro direto e quem espera saber quais foram os abusos sexuais sofridos e seus detalhes, com todo certeza irá se decepcionar, porém, vai no cerne da questão: quem são os pedófilos e como agem!
Esses dois pontos já valem cada página do livro.

Há uma abordagem mais forte dos abusos morais e psicológicos e por eles já dá para ter a dimensão dos abusos sexuais.

Infelizmente é um tipo de crime que acontece no mundo todo, além atingir a todas as classes sociais (do mais pobre ao mais rico, do mais culto ou mais ignorante, do preto ao branco).
E, como bem destacou o autor, normalmente é um crime perpetrado por um adulto "bem quisto e muito admirado" na sociedade no qual está inserido, e daí é a palavra de uma criança/adolescente contra a palavra de um "cidadão de bem".

Além disso, em quase todos os casos, são praticados sem testemunhas, e mais uma vez caímos no choque entre as duas palavras.

O que interessa é que devemos dar crédito às palavras das crianças/adolescente, mas antes de tudo, temos de ficar atentos aos sinais que essas vítimas passam o tempo todo. É numa mudança de comportamento, é no engordar ou no emagrecer, é na vontade de não mais sair de casa... enfim, não podemos deixar as crianças/adolescentes trancafiadas numa redoma, mas temos de vigiar cada vez mais.

Por fim, achei muito interessante as propostas legislativas que o autor deu no livro, pois são proposta feitas por quem (infelizmente) viveu na pele toda a situação.

E a pergunta persiste: até quando?!
comentários(0)comente



Dressa Oficial 13/11/2014

Resenha - Sem Medo de Falar
Olá, tudo bem com você?

Marcelo é a vítima que sofreu pedofilia desde os nove anos de idade e também é o autor do livro onde relata todo seu sofrimento que durou vários anos.

Adoro livros baseado em fatos reais e tenho que parabenizar a coragem que o autor teve em conseguir falar todos os abusos que sofreu e o mais polêmico ele sofreu todo o abuso dentro da igreja católica.

O livro tem capítulos curtos e é intercalado com o relato dele e reportagens sobre pedofilia e a reação de alguns "Papa" com o assunto.

Marcelo viveu em uma cidade pequena no interior de Minas Gerais e sua mãe o colocou no coral da igreja, ele aprendeu a tocar vários instrumentos, o maestro ainda não era padre porém usava o espaço da igreja para treinar seus alunos.

O Maestro era um carrasco com todos os garotos, mal ensinava direito e se os garotos fizessem algo errado era punido com surras, e xingamentos.

Porém diante dos olhos dos adultos ele se passava como um exemplo de ser humano onde ninguém questionaria sua índole.

Página 53/54
Muita gente pensa que o pedófilo é um ser estranho, desconhecido, que um dia surge do nada e aborda a criança de surpresa, em algum lugar isolado. Não é assim. O abusador de menores tece com paciência a sua teia. Entre ele e a vítima, uma dinâmica de sedução e subordinação vai sendo construída, peça por peça. Ele é carismático e inspirador para os menores e conquista a confiança dos pais e da comunidade. Ele precisa de uma reputação sólida, a sua proteção moral, antes de começar a agir.


O Maestro só escolhia garotos jovens para o seu coral e sempre se mostrava muito nervoso, ele dava funções diversas para os garotos e devido ao sucesso que o coral fazia ele conseguia marcar viagens com todos os garotos e com autorização dos pais das crianças.

Marcelo nunca entendeu muito bem o que de fato aconteceu com ele, não tinha experiência nenhuma da vida e com apenas 9 anos foi abusado sexualmente.


Página 169
"Mas abusou sexualmente como?"
"Fez sexo comigo"
"Sexo como? Ele fez o quê?"
Aprendi que as respostas têm de ser bem claras e diretas, por mais agressivas que possam parecer.
"Ele abusou sexualmente de mim pelo fato de, na época, eu ser uma criança e ele um adulto. Ele fez sexo comigo. Fez carícias, me tocou, me beijou, me fez praticar sexo oral e me penetrou, em várias posições, sempre a seu bel-prazer. E exigiu que eu penetrasse."
Sei que choca dizer isso diretamente, mas é essa a resposta que as pessoas querem e precisam ouvir.


O que mais surpreende nesse livro é que além de relatar o que de fato acontece com ele, ele também diz que chegou a gostar do Maestro, talvez não de maneira amorosa mas como passava muito tempo com ele acabava acreditando nas juras de amor que o Maestro lhe dizia.

Mas com certeza o maior sofrimento carregado por ele era o silêncio de não poder contar para ninguém o que de fato aconteceu, e só tomou essa atitude cerca de 30 anos depois, o que fez a impunidade tomar conta de todo o problema.

Página 181
Os críticos mais severos da atuação do cardeal Ratzinger e do Vaticano na denúncias de abuso sexual dos últimos anos alegam que a Igreja procurou resolver os inumeráveis casos intramuros. Não entregou os predadores de batina à lei dos homens para serem julgados como criminosos sexuais: Preferiu julgá-los como clérigos - e como "servos do Senhor" foram perdoados. A maioria era enviada para um período de reabilitação e de arrependimento, e depois voltavam a exercer suas atividades religiosas em outras paróquias, bem distantes daquelas onde foram denunciados.


Quando se faz uma denúncia de pedofilia a pessoa só é presa em caso de flagrante, ou seja como já tinha se passado muito tempo nada poderia ser feito, e como na frase acima vemos que o Vaticano não condena os padres que receberam denúncias de pedofilia, apenas são enviados para outra região distante podendo cometer os mesmos atos novamente.

Me considero uma pessoa católica, e fiquei bastante triste com toda essa impunidade que acontece no meio dos padres com as denúncias que recebem referente a pedofilia, agora parece que com o Papa Francisco algumas coisas estão começando a acontecer e espero que de fato aconteça, justiça seria a palavra mais certa.

O livro está com a edição muito boa, gostei da capa, as páginas são amareladas, letras em bom tamanho e capítulos curtos.

Uma leitura muito válida que faz refletir sobre a religião que as crianças costumam seguir por obrigação dos pais, muitas vezes ele não queria ir para a igreja e acabou sendo obrigado a ir pelos pais, e inclusive no livro ele mesmo informa que a religião deveria ser escolhida pela própria pessoa depois de uma certa idade, onde a pessoa saberia o que de fato estaria fazendo.

Página 185
Uma pessoa que, como eu, fui vítima de abusos físicos, psicológicos e sexuais a partir dos nove anos de idade dentro da Igreja Católica e por meio dela, sente-se no direito de fazer diversas indagações: como pode a igreja católica perdoar, aceitar e proteger um padre ou bispo pedófilo, mas não perdoa quem decide amar e casar com alguém do mesmo sexo? Ou não perdoa quem interrompe uma gravidez, mesmo quando tem sua vida em perigo em decorrência dela? Se a igreja não tem senso de humanidade ao destruir milhares de vidas acobertando padres pedófilos, porque exige humanidade se seus fiéis seguidores?


Um alerta para os pais, e uma coragem de quem sofreu abuso poder contar o que de fato aconteceu e tentar se livrar do peso que se carrega de um sofrimento sem tamanho.

Beijos

Até mais...

site: http://www.livrosechocolatequente.com.br/2014/11/resenha-sem-medo-de-falar.html
comentários(0)comente



Vanessa 24/06/2014

Sem medo de falar: relato de uma vítima de pedofilia.
Na cidade onde eu moro não tem livrarias bacanas, sabe? Então, na primeira oportunidade que eu tenho gosto de ir em livrarias com mais coisas do que a que tenho a minha disposição. Apesar de ter sido uma passada rápida, no retorno de uma viagem, a Saraiva localizada no Aeroporto de Guarulhos foi a escolhida. Andei, andei e os livros da listinha não tinham lá. O encanto ficou todo depositado na agenda da Mafalda, que é a melhor adesão do ano. Nos 45 do segundo tempo, já que iria ter algumas horas de voo, resolvi levar esse livro aí, que parecia ser água com sal, mas como gostei da capa (exceto por esse logo amarelo), acabei levando.
Quem nessa humilde vida não gosta de uma surpresa? Pois é! Fui surpreendida, aos poucos, com a história. Nesse relato auto biográfico Marcelo Ribeiro mostra quão profundos, intensos e vivos podem ser os rastros de um trauma.
Quando o seu relacionamento entra em crise ele percebe que chega a hora de perder o medo de falar.
(mais em: http://vanessaproenca.postach.io/sem-medo-de-falar-relato-de-uma-vitima-de-pedofilia)


site: http://vanessaproenca.postach.io
comentários(0)comente



5 encontrados | exibindo 1 a 5


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR