Para Abrir as Ciências Sociais

Para Abrir as Ciências Sociais Immanuel Wallerstein...




Resenhas - Para Abrir As Ciências Sociais


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Tauana Mariana 03/04/2013

Resumo.
A construção histórica das ciências sociais, do século XVIII até 1945

As ciências sociais constituíram um empreendimento do mundo moderno. As suas raízes mergulham na tentativa [...] de desenvolver um saber sistemático e secular acerca da realidade, que de algum modo possa ser empiricamente validado. A esse saber chamou-se scientia, uma palavra que significava simplesmente conhecimento. p. 14

A chamada visão clássica da ciência [...] foi erigida sobre duas premissas. Uma delas foi o modelo newtoniano, segundo o qual existe uma simetria entre o passado e o futuro. [...] A segunda premissa foi o dualismo cartesiano [...]. p. 15

A ciência passaria a ser definida como a busca de leis universais da natureza que se mantivessem verdadeiras para além das barreiras de espaço e tempo. p. 15

[...] a morada do nosso viver presente e passado passou a assemelhar-se menos a um lar e mais a uma rampa de lançamento, lugar a partir do qual nós, enquanto homens [...] de ciência, fomos capazes de pairar pelo espaço, posicionando-nos como senhores de uma unidade cada vez mais cósmica. p. 18

As ciências da natureza, tais como foram construídas no decurso dos séculos XVII e XVIII, provieram primordialmente do estudo da mecânica celeste. p. 18

[...] por volta do início do século XIX que o triunfo da ciência se iria firmar do ponto de vista linguístico. O termo ciência [...], passou, então, a ser associado primordialmente [...] à s ciências da natureza. p. 18-19

[O Estado moderno sentia a necessidade de possuir um conhecimento mais exato, delimitando suas definições e fronteiras]. Foi neste contexto que a universidade [...] foi revitalizada [...] tornando-se o lugar institucional preferencial para a criação de conhecimento. p. 20

Seria, enfim, na faculdade de Filosofia [...] que os praticantes tanto das artes como das ciências naturais iriam penetrar para aí edificarem as suas múltiplas estruturas disciplinares autônomas. p. 20-21

A história intelectual do século XIX é marcada, antes de tudo, por este processo de disciplinarização e profissionalização do conhecimento, o que significa dizer, pela criação de estruturas institucionais permanentes destinadas, simultaneamente, a produzir um novo conhecimento e a reproduzir os produtores desse conhecimento. p. 21

As ciências naturais não tinham ficado à espera da revitalização da universidade para gerarem uma vida institucional autônoma. A razão por que puderam atuar mais cedo foi porque conseguiram angariar apoio social e político a troco da promessa de produzirem resultados práticos traduzidos numa utilidade imediata. p. 21

[...] as universidades passaram a ser o espaço privilegiado da permanente tensão entre as artes (humanidades) e as ciências [...]. p. 22

[alguns estudiosos] voltaram-se para a física newtoniana, tornando-a como modelo a seguir. p. 23

Outros [...] voltaram-se para a criação das narrativas históricas nacionais [...]. p. 23

Para Comte, a física social iria permitir a reconciliação da ordem e do progresso ao entregar a solução dos problemas sociais a um "número reduzido de inteligências de elite" dotadas do nível de instrução adequado. p. 26

A ciência positiva visava a libertação total relativamente à teologia e à metafísica, bem como a todos os demais modos de "explicação" da realidade. p. 27

Comte: ciência positiva.
John Mill: ciência exata.

Para o seu inventor, Comte, a sociologia haveria de ser a rainha das ciências, uma ciência social integrada e unificada e caracterizada pelo "positivismo". p. 35

Havia os povos que viviam em grupos relativamente pequenos, sem um sistema de registros escritos, desinseridos de qualquer sistema religioso geograficamente amplo, e militarmente débeis em relação à tecnologia européia. Recorreu-se então a diversos termos genéricos para designar tais povos: em inglês, eram normalmente apelidados de "tribos". p. 37

O enraizamento dos antropólogos nas estruturas da universidade foi o fator que mais pesou para que estes mantivessem a prática da etnografia dentro das premissas normativas da ciência. p. 39

Explicava-se a civilização da Antiguidade como tendo sido a fase inicial de um desenvolvimento histórico uno e contínuo, que teria culminado com a moderna civilização "ocidental". p. 41

[...] os estudos orientais oferecem total resistência à modernidade, mantendo-se, de um modo geral, à margem do ethos científico. Os Orientalistas [...] preencheram um importante nicho nas ciências sociais, dado que durante muito tempo os estudiosos do Oriente foram praticamente os únicos que na universidade se dedicaram à investigação das realidades sociais relativas à China, à Índia ou à Pérsia. p. 43

[...] durante o período anterior a 1945 a geografia foi a única disciplina que se esforçou de forma consciente por ter uma prática verdadeiramente mundial quanto ao seu objeto de estudo. p. 44

[...] na prática as ciências sociais baseavam-se numa visão específica - ainda que não assumida - da especialidade. O conjunto de estruturas espaciais que, no pressuposto dos cientistas sociais, presidiam à organização da vida das pessoas eram os territórios soberanos que coletivamente definiam o mapa político mundial. p. 45

[...] as ciências sociais terão sido um produto mais ou menos direto dos Estados [...]. p. 45

A secularização do conhecimento promovida pelo Iluminismo foi confirmada pela teoria evolucionista, e as teses de Darwin alastraram muito para além das suas origens biológicas. Embora a metodologia das ciências sociais fosse dominada pelo paradigma da física newtoniana, a biologia darwiniana teve uma influência bastante grande nas teorias do social graças a essa metaconstrução irreversivelmente apelativa que dava pelo nome de evolução, com a sua enorme ênfase no conceito de sobrevivência do mais apto. p. 48


Os grandes debates no interior das ciências sociais, de 1945 até o presente

Após 1945, três desenvolvimentos vieram afetar profundamente a estrutura das ciências sociais montada ai longo dos cem anos precedentes. O primeiro foi a mudança verificada na estrutura política mundial. p. 55

O segundo foi o fato de, nos vinte e cinco anos que se seguiram a 1945, o mundo ter conhecido a sua maior expansão de sempre tanto no respeitante à capacidade produtiva como no que se refere à população. p. 56

O terceiro desses desenvolvimentos foi a subsequente e extraordinária expansão, quantitativa e geográfica, do sistema universitário no nível mundial. p. 56

A utilização de conceitos analíticos e de abordagens teóricas foi, em si mesma, uma maneira de exprimir a oposição ao paradigma "historicista" vigente [...]. p. 67

Nos anos 60, a crítica à ausência da perspectiva historicista encontrou um eco crescente entre os cientistas sociais mais jovens, que então se voltaram cada vez mais para a crítica social. p. 69-70

Assistiu-se a uma convergência dos escritos dos cientistas sociais de orientação histórica (ou historicizante) com os dos historiadores "estruturalistas" [...]. p. 70

As múltiplas sobreposições entre disciplinas tiveram uma dupla consequência. Não só se tornou cada vez mais complicado achar linhas de diferenciação nítidas entre elas [...] como também sucedeu que cada uma das disciplinas se tornou cada vez mais heterogênea, devido ao alargamento das balizas dos tópicos de investigação considerados aceitáveis. p. 73

[...] a estrutura teórica das ciências sociais [...] tem sofrido a incrustação de certos pressupostos, e em muitos casos de preconceitos ou de raciocínios apriorísticos, desprovidos de qualquer justificação teórica ou empírica, os quais deveriam ser elucidados, analisados e substituídos por premissas mais justificáveis. p. 84

O universalismo foi acusado de ser uma forma disfarçada de particularismo. [...] O problema é que aqueles que detêm o poder social têm uma tendência natural para considerar universal a situação vigente, uma vez que ela os beneficie. p. 87

O fato de existirem visões particularistas competindo entre si para determinar o que é universal obriga-nos a levar a sério as questões relativas à neutralidade do estudioso. p. 87-88

O trazer as metalinguagens para primeiro plano e o submetê-lo a uma racionalidade crítica pode ser a única maneira que temos de poder escolher a nossa combinação do universal e do particular enquanto objetos, objetivos e linguagens. p. 88

Depois dos anos 60 ocorreram dois desenvolvimentos notórios nas estruturas do saber. Embora provindos de extremos opostos das divisões do saber universitárias, ambos vieram pôr em causa a realidade e a validade da distinção entre as "duas culturas". O mal-estar que de há muito fervilhava nas ciências naturais relativamente aos pressupostos newtonianos [...] acabou, finalmente, por explodir [...]. p. 90

[...] a causa mais importante terá residido na crescente incapacidade das teorias científicas mais antigas para fornecer soluções plausíveis para as dificuldades encontradas pelos cientistas à medida que se foram abalançando à resolução de problemas relacionados com fenômenos cada vez mais complexos. p. p. 91

[...] as ciências naturais começaram a parecer-se mais com aquilo que tinha sido desdenhosamente apelidado de ciências sociais moles (soft) do que as apregoadas ciências sociais duras (hard). p. 91

A visão cartesiana da ciência clássica havia descrito o mundo como um automaton, determinista e totalmente passível de ser descrito sob a forma de leis causais, ou "leis da natureza". p. 92

[...] o crescimento dos estudos culturais teve sobre as ciências sociais um impacto que de algum modo foi análogo aos novos desenvolvimentos ocorridos na área da ciência. p. 99


Que tipo de ciências sociais nos cabe, hoje, construir?

Existe um terceiro nível de reestruturação possível. É que o problema não reside na questão das fronteiras interdepartamentais no interior das faculdades, nem na questão das fronteiras entre faculdades no interior das universidades. Parte da reestruturação ocorrida no século XIX implicou a renovação da própria universidade enquanto lugar por excelência da criação e reprodução do saber. p. 107

Toda a medição altera a realidade na tentativa mesma de a medir. Toda a conceitualização assenta em vínculos filosóficos. p. 110

A universidade não pode continuar a por-se à margem num mundo em que, uma vez excluída a certeza, a função do intelectual está necessariamente em vias de mudança e a ideia do cientista neutro é fortemente posta em causa [...]. p. 114

O conceito de desenvolvimento [...] começou por referir, antes de mais nada, o desenvolvimento de cada Estado isoladamente, tomado como entidade singular. p. 117

O mínimo que podemos exigir dos cientistas sociais é que tenham consciência do alcance conceitual das designações que utilizam. p. 127

[...] as ciências sociais foram a tentativa de desenvolver, no mundo moderno, "um saber sistemático e secular acerca da realidade, que de algum modo possa ser empiricamente validado". p. 128

Consideramos que empurrar as ciências sociais para o combate à fragmentação do saber equivale a empurrá-las na direção de um significativo grau de objetividade. p. 131

[...] o fato de o conhecimento ser socialmente construído significa também que é socialmente possível haver um conhecimento mais válido. O reconhecer-se as bases sociais do conhecimento em nada contradiz o conceito de objetividade. p. 132

As disciplinas desempenham uma determinada função: a função de disciplinar as mentes e de canalizar a energia utilizada na atividade intelectual e de investigação. p. 134

A classificação das ciências sociais foi erigida em redor de duas antinomias que deixaram de concitar o vasto apoio de que já desfrutavam: a antinomia entre passado e presente e a antinomia entre disciplinas idiográficas e nomotéticas. p.134-135
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