Ket 21/09/2021
Era uma vez uma família perfeita...
Uma das coisas que mais gosto na escrita da Tana é como ela te faz acreditar que as pessoas são de determinado jeito e, quando você menos espera, ela tira uma informação da caixa e diz: te enganei. Mas, o mais incrível é que não é um engodo. Em algum momento, no meio da história, ela te deu uma pista de que faria isso, mas estamos tão absortos em sua narrativa que nem percebemos.
Essa é uma história de investigação de assassinato. Uma família é chacinada e vamos acompanhar a análise da cena, os primeiros passos dentro da casa, as hipóteses levantadas. Mike Kennedy, o detetive principal, é até irritante em sua personalidade. O legítimo cara de "causa e efeito", "preto no branco" e "as pessoas recebem o que merecem". Mas, conforme a narrativa avança, ele próprio é derrubado por seu método de trabalho, o que o tira do prumo (e nos dá até um prazer, como se fôssemos mais espertos do que ele... ).
"Foi uma surpresa desagradável descobrir que eu não era nem um pouco especial. Mas, como eu já disse, você trabalha com o que tem. Se não fizer isso, é melhor você comprar um bilhete só de ida para o fracasso."
Como todo livro da Tana, o crime é apenas uma das camadas. Ela busca na condição social as respostas para os problemas da vida. Crise econômica, crise imobiliária, inflação, sonhos perdidos... Tudo afeta as pessoas. A questão é: até que ponto?
É um romance sem pressa, de ritmo mais lento, perfeito para quem gosta de se deixar levar por personagens intrincados e falhos.