Rodolfo Vilar 01/11/2023
Os limiares de Rubem Fonseca
Escrito em 1965 “A coleira do cão” é uma coletânea de oito contos dispersos em diversos assuntos. Muitos dizem que a obra trata-se de uma continuação de outro livros de contos de sua autoria chamado “Os prisioneiros”, tanto que alguns personagens aparecem em ambas as obras. Considerado como o livro essencial da literatura brasileira, uma vez que Rubem Fonseca coloca o leitor frente a sua própria imagem de beleza em meio ao horror e a violência. Na verdade durante a leitura vemos um misto de personagens complexos e com seus problemas próprios, sempre a procura de um ideal, de algo que os complete, num ambiente caótico que os tire de suas vidas (quase) pacatas. O que sei é que diversas vezes me senti desconfortável por diversos fatores: a posição dos personagens, a realidade na qual estão inseridas ou até mesmo a personalidade de algum deles. Dentro dos oito contos elaborados perpassamos por: Policiais que se questionam sobre o ambiente em que estão inseridos, médicos que estão a tratar sobre a cirurgia de um paciente para sua mudança de sexo, maridos que traem suas esposas e ainda continuem com a sensação de falta, uma família racista que discute sobre o neto estar a namorar uma negra, os sonhos de um jovem boxeador que encontra um duplo pelas ruas do Rio e diversos tantos outros personagens, que pendem numa balança para refletir sobre o sentido da vida, a vida do outro, a busca pelo ideal, pela felicidade e o preenchimento de um vazio às vezes sem razão.
Ler Rubem Fonseca é adentrar esses mesmos questionamentos, essas mesmas discussões. Confesso que gostei da leitura, mas houve momentos em que fiquei incomodado com certas coisas, como por exemplo, algumas vozes narrativas que incomodam, com falas um pouco misóginas e carregadas de machismo (o que não sei se foi intencional ou se pode ser uma marco do autor), algumas perspectivas também sobre as mulheres nos contos, sempre da visão masculina e com tratamento “objetificado”. Confesso também que não sou muito fã de romances policiais e aqui o Rubem traz elementos forenses e investigativos que lembram o gênero policial. Mas esses traços machistas e essa visão distorcida de alguns personagens apenas contemplam a nossa atualidade, servindo de base para o debate atual e fomentando a quebra dessas visões.
No modo geral é um bom livro. Fiquei curioso para também ler seus romances uma vez que a construção poderá ser bem detalhada e trazer personagens incríveis. Deixo a recomendação para aqueles que gostam do gênero conto, assim como a temática apresentada, já que trará grandes discussões e pode, para aqueles que trabalham com educação, ser um excelente texto para a sala de aula, já que os elementos são importantes para sua análise.
site: https://youtu.be/ME6Tk3cJ6zQ