Higor 10/08/2015
Sobre atitudes precipitadas, e suas devidas consequências
Desde o lançamento, tenho curiosidade em ler “Escola de Equitação Para Moças”, estreia de Anton DiSclafani. A capa remete fortemente a rebeldia, o que pode ser clichê, mas se você não for preconceituoso por conta do “Para Moças” do título, vai se aventurar em uma história forte, densa, mas muito bem escrita, que vai fazê-lo refletir muito. Sem falar no tema equitação, que eu nunca tinha lido sobre.
Thea está indo para a Escola de Equitação Yonahlossee como forma de punição. O que ela fez foi muito grave. Toda a sua família se desestruturou, e ela não sabe se Georgie, seu primo, saiu vivo de toda essa confusão. A Grande Depressão está assolando a todos, mas a família dela é rica, e conseguirão sustentá-la por um semestre, que é tempo suficiente para a poeira baixar.
Acontece que conviver somente com garotas pode ser um empecilho. Thea sempre foi à garotinha da casa, e mesmo sendo rica, ele se depara com outras moças mais ricas, bonitas, interessantes que ela, e ela não quer ser menosprezada, mas popular. Além disso, maus costumes nunca são deixados de lado, e alguns deles devem ser mantidos!
Em um primeiro momento, a história se parece muito com uma espécie de Gossip Girl do século XX, mas conforme os fatos vão acontecendo, percebemos que autora está nos preparando para mostrar a perversidade de uma mente jovem e a podridão do mundo da riqueza. As aparências, como sempre, enganam. O papai médico e a mamãe socialite são pessoas machucadas, vazias por dentro. Grande parte das feridas é causada pela filhinha prodígio.
O livro tem grande teor sexual, o que pode vir a incomodar algumas pessoas que estão lendo o livro como se fosse um jovem adulto. Não é. Anton contou com maestria, de uma maneira bem escrita e forte a descoberta da sexualidade e os desejos de uma garota. No entanto, tais cenas não são avulsas, mas muito bem construídas, mostrando a evolução de Thea, e as decisões que toma precipitadamente, sem se importar com as consequências.
E é isso o que mais nos deixa desconfortáveis: o desejo de fazer coisas de ímpeto, no momento, sem nos importarmos se tais coisas terão alguma reação no futuro não tão distante. Será que vale mesmo a pena sujar em alguns segundos uma vida edificada durante anos? Estragar sua vida inteira por conta de meros minutos de felicidade? Não compensaria sofrer hoje para ser feliz amanhã?
“Escola de Equitação Para Moças” pode ter um título bobinho e aparentar ser fútil, mas as camadas feitas pela autora, sendo reveladas aos poucos, mostram o quão poderoso ele é. E o quão talentosa é a autora. Que venham os próximos livros dela.