Maria - Blog Pétalas de Liberdade 06/08/2014Contos e Crônicas do Absurdo O livro é dividido em duas partes: a primeira é de contos e a segunda é de crônicas.
Logo no começo, em "O nascimento de um fantasma: o início de tudo", a Rô conta a sua história: como ela conheceu os livros e se apaixonou por eles a ponto de se tornar uma escritora. Já gostei logo de cara, me identifiquei com a história dela em diversas partes (a importância que uma biblioteca pública teve nas nossas vidas de garotas pobres e do interior foi semelhante).
Talvez a intenção dela tenha sido apenas nos fazer conhecê-la um pouco, mas esse relato tão pessoal foi uma das partes que mais gostei do livro. Abaixo, um trecho:
"Conheci muita gente legal lá na biblioteca municipal, gente que fez parte da minha adolescência, foram meus grandes amigos e confidentes: Machado de Assis, Camões, Victor Hugo, Cecília Meirelles, Aluízio de Azevedo, Joaquim Manoel de Macedo, José de Alencar, esses foram os primeiros que conheci."
Os contos e crônicas tem um elo em comum: falam de situações absurdas que a autora presenciou. O bacana de um conto é que são necessários poucos parágrafos para uma história ser contada, e uma única palavra ou frase pode mudar tudo.
O livro faz jus ao nome, alguns contos mostravam situações tão absurdas (especialmente "Um gesto de socorro" e "Vida Perdida") que eu ficava chocada ao terminar a leitura e tinha que reler para ver se era aquilo mesmo que eu tinha entendido, aí eu pensava: "Não, isso não pode ter acontecido!". Mas depois me lembrava que a autora se baseou em acontecimentos reais para escrevê-los, e que eu também já tinha visto algumas daquelas situações acontecerem.
Alguns contos são mais pesados e mostram absurdos assustadores, outros são bem mais leves e bonitos, alguns tem doses de ironia e humor, alguns falam de coisas antigas e outros de coisas bem atuais. O que comprova a versatilidade da escritora.
"Ela mentia, ela pecava, ela errava, mas não a todo minuto, com todos e a toda hora como era em sua volta." (Anormalidade)
"Ela gostava dele. E ele gostava dela. Mas havia um abismo enorme entre eles. O pai dela dizia em alto e bom tom que ela deveria achar um namorado que fosse mais branco que ela, mais rico que ela, mais espiritual que ela, mais inteligente que ela, mais rico que ela.
Certo, quem seria esse otário que iria se casar com uma moça tudo menos que ele?" (Amizade Colorida)
Em "O Vazio", eu começava a achar a história repetitiva por mais uma vez a personagem do conto ser pedida em casamento, aí a autora foi lá e me mostrou que ela também achava isso, foi como se a personagem tivesse vida própria, gostei:
"(...) Lena conhece Mauro e ele parece ser uma boa pessoa, ele a pede em casamento (mas que droga que todo mundo só quer casar, casar, enfim) (...)"
Na crônica "Somos todos mentirosos", a Rô descreveu uma cena que me enche de ódio quando acontece comigo, e eu achava que não acontecia com outras pessoas:
"- Olá Silvana, como você está? - pergunta Carla encontrando Silvana em uma esquina.
- Eu não estou muito bem, você acredita que ontem...
- Silvana me deixa ir ali que estou atrasada, depois a gente se fala.
E Carla parte deixando para trás Silvana de boca aberta.
- Ela me pergunta como eu estou e depois vira as costas e vai embora? - indaga Silvana para si mesma."
Num geral, gostei mais dos contos do que das crônicas, não dá para fazer uma análise de cada um senão a resenha ficaria enorme. Concordei com a visão da autora em diversos pontos e discordei em vároutros.
Trecho da crônica Big Brother:
"É pessoal, antes usávamos a janela de casa para acompanhar a vida do nosso vizinho, agora não dá mais, se colocamos a cara para fora da janela corremos o risco de levar uma bala perdida, nos recolhemos para dentro de casa e ligamos nossos computadores e acessando o Facebook temos a oportunidade de ver diversas novelas simultaneamente, a vida da Maria, da Excluída, da Beleza Exótica, a minha e a de tantas outras pessoas."
Fato:
"Cidades pequenas ainda cultivam conceitos antigos, mesmo com o advento da tecnologia e da internet." (Despreocupada)
Com uma linguagem fácil de compreender e textos curtos, creio que "Contos e Crônicas do Absurdo" seja sim uma boa indicação tanto para leitores quanto para pessoas que querem criar o hábito de ler. A leitura pode ser feita em pouco tempo, embora eu aconselhe que seja feita aos poucos para que se tenha tempo de digerir e apreciar cada história.
Antes mesmo de ter o meu exemplar (que veio autografado!), já havia gostado da capa. As folhas são brancas e o tamanho das letras, o espaçamento entre uma linha e outra e as margens tem um bom tamanho. A única coisa que estranhei foi a ausência de numeração nas páginas.
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