Kerol Ayfer 04/04/2023
Alguns (poucos) acertos
"As filhas de Lilith" se propõe a ser um alfabeto de arquétipos femininos, com poemas direcionados a retratar um aspecto da vida de uma determinada mulher, revelando multiplicidades e subversividades em suas existências.
Embora existam poemas de muita qualidade (como Grace, um dos melhores poemas do livro em termos de organização), outros falham em uma abordagem superficial e que trai a própria proposta (já duvidosa):
enquanto existem diversos tipos de vivência possíveis para certos arquétipos, outros se reduzem a uma única. Curiosamente, o poema "Sihem", que destoa dos outros textos ao falar abertamente de uma mulher não-ocidental, conta uma história que não possui interesse em subverter esteriótipos - e até mesmo os fomenta de modo pouco atencioso.
Nesse sentido, a proposta do alfabeto também acaba perdendo um pouco de seu valor: em determinados momentos, o livro passa a impressão de ter sido composto por um número reduzido de bons poemas e alguns tapa-buracos.