spoiler visualizarAndre.Pithon 28/11/2023
Faz um tempo considerável que um livro não me deixa tão irracionalmente bravo. Ah, como eu estava perto de dar um 1.5 aqui por pura raiva, completa e absoluta revolta. O segundo Locke Lamora testou minha paciência por uma escolha narrativamente extremamente ruim, um in media res desnecessariamente estúpido. Mas aqui não é apenas uma escolha questionável, mas uma série de decisões grotescas.
A trama principal é conceitualmente magnífica, e lendo as primeiras cem páginas de preparação, minhas expectativas tornaram-se consideravelmente altas. Acho que tenho o problema de me empolgar mais fácil do que deveria. Locke Lamora e seu inseparável Jean de estimação são contratados (chantageados) para manipular o resultado de uma eleição fantoche, palco de um jogo milenar entre magos entediados, com o lado oposto sendo jogado pela antiga companheira de gangue e interesse romântico de Locke, Sabetha. O potencial disso me faz salivar, um romance antagônico, dezenas de jogos políticos interligados, um plano de fundo maior para worldbuilding. Como eu salivei. E tudo desaba. Tudo. Não sobra uma peça interessante em pé.
O jogo político é ridículo. A tensão é zero, os movimentos inteligentes se resumem em chantagear alguém, bater em uns coitados, subornar outro alguém, os personagens todos se amalgamando numa massa de nobres sem personalidade, porque o livro parece não se importar com sua própria história. TANTA COISA poderia ser feita aqui, e tudo é superficial, simplista, patético. Me incomoda muito olhar algo de extremo potencial, e pensar que eu poderia ter feito melhor, pois nada é explorado ou desenvolvido aqui. E não digo nem que poderia fazer melhor em um romance, me dá uma campanha de RPG meio improvisada com essa trama e sai uma narrativa mais bem desenvolvido do que o que diabos essa absurdo vazio, irrelevante e propositalmente nulo é. Nada importa no fim, nem os personagens tão ligando pra história, pois romance é prioridade. Mas pelo menos o romance é bom, não? Fofo? Sedutor?
O romance entre Locke Lamora e Sabetha é patético. É um eterno vai e vem com anos de enrolação, em Locke é completamente desconfortável, stalkeando desconfortavelmente a coitada, em um romance que parece mais incômodo e desconfortável que apaixonado. Sabetha não é muito melhor, com a personalidade de um pedaço de cartolina dita ser magnífica e genial mas nunca faz nada na história inteira além de ficar desconfortável/ofendida/assustada e ir embora. Não julgo, faria o mesmo se tivesse um ladrãozinho insuportável correndo atrás de mim, mas ela não trás um momento forte ou uma presença inspiradora que me faça importar com ela. Um romance insosso e sem graça que é uma versão PIOR do romance levemente menos patético entre Kvothe e Denna em O Nome do Vento.
🤬 #$%!& , eu tinha dado 2.5 ao primeiro escrever essa resenha, e colocar as coisas em palavras tá me irritando tanto que vou tirar esse meio. Calma que piora.
METADE DO LIVRO É FLASHBACK
Flashback bom? Importante? Aprofunda os personagens?
Claro que não. Não dá nem pra considerar que é uma história boa por si só, por que é uma aventura sem sal da infância fodasse dos protagonistas, em que eles saem de férias para atuar na merda de uma peça, e não acontece nada, e um nobre morre, e É IMPOSSÍVEL SE IMPORTAR. Não tem nenhuma relevância com o presente, serve pra dar mais romance merda entre Locke e Sabetha, não tem nenhuma tensão, nenhuma chance de dar errado, zero empolgação para ler. Pelo menos os personagens usam umas máscaras venezianas meio engraçadas e permite que esse fracasso de livro tenha uma capa foda. A capa é a melhor parte da obra, acrescento.
E no final, tudo é jogado fora. Eu vou spoiler essa porcaria, aviso dado.
A maga que contratou eles chega e fala "Hehehe, Locke você tem um passado misterioso e é O MAGO MAIS PODEROSO DOS MAGOS REINCARNADO OLHA QUE LEGAL". Sabetha sai correndo e fodasse. O vilão do primeiro livro volta e mata a vilã muito mais desenvolvida desse livro (ainda não boa), todo o status quo é chacoalhado de uma forma que vem de lugar nenhum, não conecta com as narrativas e temas, e parece existir apenas para algo existir. Pegar seu protagonista ladino inteligente e dar potenciais poderes mágicos para ele me parece a pior ideia possível, mas não posso falar mal disso porque vai afetar somente os próximos livros e eles nunca serão lançados mesmo.
Eu honestamente queria dar uma nota pior para isso, mas a prosa é competente, alguns momentos se sustentam na personalidade dos livros anteriores e a trama central é teoricamente sensacional.
Mas nossa, que desperdício.