Queria Estar Lendo 13/09/2018
Resenha: O Rei Demônio
O Rei Demônio é o primeiro título da quadrilogia Os Sete Reinos, da autora Cinda Williams Chima. Foi publicado aqui pela Editora Suma - que cedeu o exemplar para resenha. O pontapé inicial para uma saga fantástica que poderia ter sido bem melhor...
A trama se divide entre dois protagonistas. Han, um ladrão solitário que, por uma confusão, acaba se envolvendo com o amuleto mágico de um feiticeiro há muito morto - o Rei Demônio. E Raisa, a princesa-herdeira do reino em que vivem. Com a aproximação do seu aniversário, as leis comandam que encontre um pretendente para desposar; e uma guerra silenciosa que se aproxima desse território pode acabar por unir essas duas figuras tão distintas.
Peguei O Rei Demônio com altas expectativas e acabei quebrando a cara. A narrativa, extremamente maçante do início ao fim, não prendeu. Mais me afastou do que me deu vontade de continuar. E o fato de todo o plot principal se iniciar só depois da página 200 também foi outro detalhe decepcionante.
"Quem esperaria numa janela por um demônio, ainda por cima chamando seu nome?"
Não é que seja uma narrativa ruim, longe disso. Cinda sabe usar as palavras, constrói diálogos bem ricos e descrições detalhadas vívidas e críveis. O problema é que não tem aquele elemento que crie o interesse. Não tem aquele detalhe que te prenda no capítulo e te impeça de parar até chegar ao fim dele. Só está ali e você está lendo e seu cérebro divaga sobre outras coisas que poderia estar fazendo naquele momento; o que é uma pena, sinceramente, porque potencial não falta dentro dessa obra.
Eu entendo que livros de Fantasia Épica precisam do seu espaço pra desenvolver mundo, personagens e situação. Só que esse não fez nada disso muito bem; o mundo é apresentado abruptamente e não dá tempo para que a gente se acostume a ele. Os personagens são quase sem personalidade e sem presença que eu não poderia ter me importado menos com cada um deles. E a situação... Que situação? De novo, a trama se enrola tanto em momentos insignificantes ou corriqueiros dos personagens - colocando Han em brigas de gangues de rua e Raisa em capítulos enfadonhos sobre seus pretendentes - que, quando algo de fato acontece, eu já estava distante de qualquer interesse que pudesse existir.
Não fosse a narrativa se embaralhar tanto em detalhes pífios e entregar tão pouca ação, esse teria sido um livro completamente diferente. E eu tenho certeza que teria gostado.
Quanto aos protagonistas, Han tem a típica postura de herói de Alta Fantasia. Ele é ingênuo, tem complexo de salvador e escuta muito pouco dos conselhos de quem sabe das coisas porque já viveu muito - Han só quer fazer tudo do jeito dele porque é claro que o jeito dele é o certo. Não foge do comum a protagonistas desse tipo; irrita, mas ao mesmo tempo tem seus momentos carismáticos.
"De onde isso vem?, perguntou-se ele. A ideia de que você merece mais do que a sua cota no mundo?"
Raisa, por outro lado, eu queria tanto ter gostado dela. Suas primeiras cenas dão a entender que se trata de uma personagem feminina bem desenvolvida, com falhas e determinação. Ela acabou se mostrando mais mimada e egoísta do que eu gostaria; não humana a ponto de eu entender sua postura, mas só... chata.
Um ponto positivo é que, uma vez acostumada ao universo da autora, consegui achar muitos detalhes dele interessantes. A construção da ordem política em torno da figura onipotente da Rainha e como, no fim das contas, ela também estava dentro dos esquemas de manipulação. As lendas antigas que permeiam os protagonistas - a do Rei Demônio, principalmente, que é parte da trama a guiar os personagens - são ricas e bem fundadas. Foram as coisas que me seguraram na leitura, que fizeram eu ter vontade de terminar.
Cinda usa alguns artifícios criativos para o fim da obra, e fecha de uma maneira que até incita a continuar a leitura. Eu talvez dê uma chance para o resto da série porque duas revelações (que não foram grandes revelações porque estavam meio que na cara) deram um rumo novo à história.
Toda a edição da Suma é maravilhosa. Eu sou apaixonada pelas capas dessa quadrilogia e a do Rei Demônio é a minha segunda favorita; queria que o conteúdo tivesse conquistado tanto quanto a arte conquistou.
No mais, O Rei Demônio é um começo bem morno/frio para uma série que promete guerras mágicas e reviravoltas chocantes. Mas vou deixar meu cérebro acolher a obra como um todo pra ver se rola o interesse de continuar.
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