spoiler visualizarGustavo 27/05/2013
Longa digestão
Para começar, um poema:
“Matisse era fauve,
Monet impressionista.
Pela sua cara de privada,
Sua mãe era dadaísta.”
Ao mandar isso para uma amiga, ela perguntou se minha mãe era a Tarcila do Amaral. “Oh Abapuru”.
Bom, se você não conseguiu rir nenhum pouco, talvez precise ler um pouco sobre a arte moderna de forma mais aberta, antes de dar de cara com o livro de Mario de Micheli (pronuncia-se “miqueli”, o autor em questão é um italiano).
De forma geral, o livro é um pouco difícil de ser digerido. Então, durante a leitura eu sempre estava acompanhado de um lápis e preferencialmente estava num ponto de acesso à internet.
Os primeiros capítulos não são tão complexos para serem lidos e facilita bastante se você já tiver em mente nomes como Van Gogh, mas provavelmente vai se deparar com figuras completamente novas para quem não tem tanta vivência com o mundo da literatura e da pintura. A menor complexidade dos primeiros capítulos, para mim, se deu por se concentrarem essencialmente em fatos históricos que situam o leitor.
Preliminarmente há algumas discussões sobre a função da arte, o que esbarra em seu conceito. Micheli usa as palavras de Jules Michelet e Hegel para discutir a participação popular sobre a arte; e necessidade da arte ser compreendida pelo povo;
“[...] é preciso dizer que o poeta cria para o público e, em primeiro lugar, para o seu povo e a sua época, os quais têm o direito de exigir que uma obra de arte seja compreensível ao povo e esteja próxima dele.”
Não é de hoje que o povo tem problemas em compreender arte. O autor retoma o século XIX para discutir a Arte Moderna – surgida no século XX - e junto a isso, relaciona os sentimentos dos pintores ao que pintavam, construindo sentindo para as obras de Van Gogh, por exemplo. Então, não se assuste com as loucuras.
A não compreensão da arte pelo povo não é o único problema - que é nosso contemporâneo – discutido nestas páginas. A arte pela arte é outro tema discutido logo no início do livro. Para alguns, talvez, a arte por si só, valha a pena. Para mim um pedaço de plástico ou tinta simplesmente jogada para atender estéticas não tem valor.
A arte oficial, dita pseudo-realista, é também discutida. E dessa também temos no Acre. Quadros históricos criando heróis que por vezes não são reais, ou cenas que só existem no imaginativo das pessoas, funcionam, algumas vezes, como ocultação da verdade.
Através da literatura são explicadas muitas questões apreciáveis somente com os olhos. Um dos poetas usados para melhor esclarecer sobre a arte é Baudelaire. Baudelaire expõem ideias que distanciam o povo das orações, para que tomem atitudes, que deixem a preguiça, sejam homens de ação. Assim, dá a ação o título de gênio.
Além de poetas, há também filósofos – não digo que filósofos e poetas estejam tão distantes assim. Diante da miséria em que viviam as pessoas mais humildes e hipocrisia burguesa percebemos muitas ideologias socialistas, e enquanto alguns em sua empatia pelos mais humildes os pintam, outros como Ensor, criticam fortemente e burguesia através de quadros. Ensor mostra para mim, certo desprezo e ironiza os burgueses.
Cada pintor e escritor vêm carregados de ideias, e são frutos de seu tempo. Não um fruto comum, mas digamos que um mais maduro – que se amadureceu, ganhou forma, cor e sabor antes mesmo dos que o rodeavam ganharem forma definitiva.