Naclara 11/11/2023
Cartas de amor aos mortos
" - O que falei sobre salvar as pessoas não é verdade. Você pode achar que quer ser salva por outra pessoa, ou que quer muito salvar alguém. Mas ninguém pode salvar ninguém, não de verdade. Não de si mesmo. Você pega no sono no pé da montanha, e o lobo desce. E você espera ser acordada por alguém. Ou espera que alguém o espante. Ou atire nele. Mas, quando você se dá conta de que o lobo está dentro de você, é quando entende. Não pode fugir dele. E ninguém que ama você consegue matar o lobo, porque ele faz parte de você. As pessoas veem seu rosto nele. E não vão atirar. "
Admito que demorei um pouco pra me apegar a esse livro, mas quando foi chegando o final e fui vendo ela crescendo e admitindo suas dores, entendendo seu processo e a si mesma um pouco mais, fui devorando esse livro!
Achei o começo dele meio lento e também meio demorado as coisas pra acontecer, mas depois quando fui chegando no final fui entendendo que simplesmente não tinha como ser mais rápido. Só não podia ser mais lento.
Foi muito legal ver a protagonista admitindo as coisas que sentia para si e suas amigas. Uma menina tão nova superando uma coisa tão difícil. Aprendendo a viver com uma dor tão difícil. E quando ela foi falando as coisas que aconteceram com ela, foi me dando uma coisa estranha. Chorei em vários momentos kkk
Aos poucos ela foi evoluindo e vendo que não era só ela que passava por coisas dolorosas. Conforme ela conhecia as fragilidades das pessoas que a cercavam, ela foi deixando as suas se mostrarem. Quando ela finalmente encontra a voz dela é tão relaxante e pacificador! A gente espera o livro todo por isso, e meio que foi como devia ser.
O caminho foi muito longo que ela percorreu, assim como qualquer pessoa. Acho que ele descreve como a gente de sente quando perde alguém tão importante assim. Ele fala muito sobre dor, amor, família, amizade e superação. É muito difícil a gente deixar alguém cuidar da gente depois de achar que deve ficar sozinho, ou não confiar em alguém. Até mesmo pelo medo de incomodar. É complicado entendermos que nossos sentimentos e problemas não são um incômodo para aqueles que nos rodeiam. É muito difícil a gente soltar nossa voz depois de prender ela lá no nosso íntimo. E ele fala sobre uma adolescente tendo que reaprender a viver depois de perder sua irmã ainda na adolescência, que é tudo mais intenso. Por si só já é uma grande perda, mas quando ainda nem sabemos quem somos, como vamos saber lidar com isso? Apesar de não ter um manual de como lidar com isso, cada um tem seu processo.
Enfim, gostei muito desse livro e conseguir absorver muitos dos sentimentos da nossa protagonista. Entender sua dor e o que passava na sua cabeça e ver ela entendendo também e superando. Gostei muito.
" Às vezes, quando falamos, ouvimos o silêncio. Ou apenas ecos. Como gritos vindos de dentro. E isso é muito solitário, só acontece quando não estamos ouvindo de verdade. Significa que ainda não estávamos prontos para ouvir. Porque toda vez que falamos, há uma voz. Existe o mundo que responde.
[...]
Sei que escrevi cartas para pessoas sem endereço neste mundo. Sei que vocês estão mortos. Mas posso ouvir vocês. Ouço todos vocês. Nós estivemos aqui. Nossa vida teve valor. "