Our Brave New Blog 28/06/2016
RESENHA ARRECIFE - OUR BRAVE NEW BLOG
Já disse aqui algumas vezes que não escolho leituras pela sinopse. Certa vez um professor me perguntou sobre o que eu estava lendo (As Leis da Fronteira do Javier Cercas, resenha mais para frente) e como eu tinha lido apenas duas páginas, só pude falar “eu não sei, não leio as sinopses”, o que deixou ele bugado e me perguntando como se escolhe livros se não pela sinopse. O que eu disse para ele foi que eu acompanhava o mundo literário para saber que escritores estavam sendo bem falados para conhecê-los também.
Porém não foi assim que eu cheguei até o Villoro. Quando Arrecife saiu, seu segundo livro por aqui e o primeiro de literatura pesada, ninguém falou nada, não deram bola, passou super despercebido. Cheguei nele através de uma entrevista sensacional (a melhor que eu já li) do meu mestre Roberto Bolaño, onde, entre vários comentários que ele faz sobre literatura, ele cita Villoro como um dos melhores escritores do México atualmente e o cara responsável por não deixar Noturno no Chile se chamar Torrentes de Merda (que eu acho um nome bem melhor). Então eu fui atrás desse dito amigo do mestre, o que acabou culminando na adoração de dona Carolina pela sinopse e me implorando para comprá-lo.
Que sinopse mágica seria essa? Tony Góngora é um ex-baixista manco e sem um dedo que perdeu boa parte de suas memórias de adolescência por causa das drogas. Hoje trabalha como técnico de som de aquário (usa o movimento dos peixes para criar o som) num resort mexicano chamado La Piramede, idealizado pelo seu melhor amigo e ex-companheiro de banda Mario Müller, que teve a ideia de reproduzir confrontos armados e sequestros relâmpago para dar aos turistas a emoção e adrenalina que eles tanto buscam no terceiro mundo. Enquanto Tony tenta relembrar os fatos de sua vida através de Mario, um mergulhador do La Piramede é morto com um arpão nas costas, mas o único que está preocupado em investigar a morte de seu colega é Góngora.
Mais um do gênero “policial sem policiais” senhores, dessa vez dentro do movimento da Narcoliteratura, um movimento mexicano que denuncia e discute a questão da violência e dos traficantes dentro do país, coisa que é muito pior lá do que aqui, acreditem, mas parece-me ser um assunto identificável, principalmente se você é morador do Rio, que é uma loucura. O La Piramede por si próprio já gera discussões suficientes, principalmente dentro do livro, quando é apontado coisas como o fato do terceiro mundo ser como é para os habitantes do primeiro mundo não ficarem com tédio, terem a sensação de perigo e voltarem para casa cheios de historias do que passaram, o que torna a America Latina um misto de carnaval exótico com terror da guerra diária vivida por nós, que eles só conhecem de vista quando o turista apresenta a favela para eles.
Parte da obra também se dedica a discutir um dos temas clássicos do Pós-Modernismo, que é o homem vs. realidade/memória. Qual é o valor real de passar por essas situações que você está pagando sabendo que são de mentira? Qual o objetivo de se divertir com um medo de mentira que é real para as outras pessoas? Todos esses questionamentos são contrabalanceados com as passagens sobre a memória de Tony, da sua época de roqueiro e drogado, mais uma vez um latino-americano escrevendo sobre um herói romântico quebrado (influencia do seu amigo Chaves?), só que agora sobre como ele mesmo sabotou sua mente para encarar a sua realidade, o que acabou tendo efeitos negativos na sua vida, como a perda da única pessoa que queria genuinamente o bem dele, e a reconstrução tendenciosa dos fatos por seu amigo Müller, que pretende pedi-lo para fazer algo extremamente importante e utiliza esse fato a seu favor.
O crime a ser investigado, como sempre nesse gênero, acaba ficando em segundo plano por vários momentos, mas eu diria que esse é o que mais foca na resolução do caso, o único que mantém a real imprevisibilidade sobre os acontecimentos e que mantém a pergunta na sua cabeça de quem foi que cometeu o crime. Villoro escreve de forma concisa e fluente, algo bem difundido no estilo policial, mas deixa algumas gordurinhas para fazer metáforas que são muito boas, mas não tem uma real necessidade na trama, porém nada que a gente não perdoe.
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